Apoiadores de Morales intensificam bloqueios na Bolívia
Os camponeses ampliaram seu leque de reclamações
Árvores recém-cortadas por camponeses bloquearam o acesso de veículos a Sipe Sipe, em Cochabamba, uma das localidades onde se intensifica o protesto de apoiadores do ex-presidente Evo Morales contra o governo boliviano.
Os protestos ocorreram no último dia 14, para exigir “o fim da perseguição judicial” ao ex-presidente, de 65 anos, diante de sua prisão provisória pelo suposto abuso sexual de uma menor durante seu mandato.
Os camponeses ampliaram seu leque de reclamações e agora também miraram na gestão econômica de Luis Arce, que disputa com Morales a candidatura à Presidência pelo partido de situação em 2025.
A maioria fala quíchua, desconfia da imprensa, e quase nenhum manifestante revela o nome. A polícia não é local.
"Estamos saindo para protestar porque o arroz e o macarrão são muito caros. No campo, somos famílias numerosas. Nossos produtos não valem mais nada”, reclama uma agricultora. O país registrou em setembro uma inflação de 6,2% em 12 meses, a cifra mais alta desde julho de 2014.
Os bloqueios de estradas isolam o departamento de Cochabamba, no centro da Bolívia, onde Morales tem sua base política.
“Esse bloqueio nacional não levantamos. Vamos resistir até às últimas consequências”, afirma o produtor de trigo José Loayza, 40 anos.
A tensão aumentou ontem, quando Morales denunciou que foi vítima de um atentado contra seu carro de roubo por um grupo “militar e policial”. O ministro do Interior, Eduardo Del Castillo, negou a versão do ex-presidente.
Os pontos de bloqueio foram reduzidos de 4 para 23 hoje, segundo a Autoridade estatal Boliviana de Estradas.
De mão em mão, manifestantes passam pedras pesadas do leito seco do rio Khora, a 10 minutos de Sipe Sipe, para fortalecer o bloqueio sobre a ponte. O protesto reúne principalmente camponeses e transportadores.
“Bloqueamos pelo que precisamos: cesta familiar, combustível, dólares. Não há movimento econômico”, diz o caminhoneiro Grover Torrico, de 30 anos, que se somou ao bloqueio da ponte para protestar contra a falta de combustível.
Os bloqueios também agravaram o desabastecimento. A Bolívia impediu a importação de diesel e gasolina que distribuíam a preço subsidiado, devido à queda de suas reservas cambiais.
“O país vai de mal a pior. Um governo tem que estar lá para priorizar, solucionar. Não tem que esperar as pessoas saírem para bloquear as ruas”, criticou Torrico.