'Esses homens precisam ser condenados': mãe e irmã de Marielle falam da expectativa do julgamento
Ronnie Lesso e Élcio de Queiroz estarão em audiência nesta quarta-feira após mais de seis anos do homicídio da vereadora e do motorista Anderson Gomes
Após mais de seis anos do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018, os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz vão a julgamento acusados pela execução do crime.
Réus confessos, nas delações premiadas auxiliaram a vislumbrar uma solução para o caso, inclusive apontando os supostos mandantes, que foram presos em março deste ano. A audiência, a ser realizada nesta quarta-feira no 4º Tribunal do Júri do Rio, no Centro, é esperada com expectativa pela família da parlamentar. A mãe de Marielle, Marinete, e a irmã dela e ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, destacaram que esta é apenas uma das etapas para punir os envolvidos no crime.
— É uma expectativa muito grande. Depois de seis anos e sete meses, nós vamos estar tendo uma justiça, e nós precisamos de uma justiça digna na condenação desses homens, que são réus confessos. Temos nos mobilizado enquanto família até hoje, enquanto instituto, sociedade, e para termos isso — disse Marinete, em entrevista ao programa "Encontro com Patricia Poeta", da TV Globo.
A mãe da parlamentar falou dos anos de busca por respostas, algumas que começaram a ser respondidas apenas este ano. Após a delação premiada de Ronnie Lessa à Polícia Federal, surgiram os nomes dos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão — conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) e deputado federal (sem partido-RJ), respectivamente — como os supostos mandantes. E o ex-chefe da Polícia Civil e delegado Rivaldo Barbosa como responsável por protegê-los.
O delegado esteve à frente do caso no início das investigações. Meses depois, ele chegou a encontrar com a família da Marielle na casa em que viviam para falar sobre o compromisso que assumia na solução do assassinato. A prisão de Rivaldo em março deste ano, quando também foram levados à cadeia os irmãos Brazão, surpreendeu a todos, lembra Anielle:
— Tem as imagens, ele sentado ao lado dos meus pais, e ele fazia falas para os meus pais. "Faço questão, uma questão de honra, a gente vai desvendar" — e continua, lembrando de quando soube da prisão de Rivaldo. — Pra gente, naquele 25 de março, se não me falha a memória, num domingo, a maior surpresa, mas também a maior decepção. Porque a gente espera por justiça. Rever essas imagens me embrulha o estômago.
Nos depoimentos no STF, o ex-bombeiro e ex-vereador Cristiano Girão Matias foi citado pelos acusados como mandante do homicídio da vereadora. No ano passado, após as delações dos assassinos confessos, ele deixou de ser considerado suspeito. A família acredita que o apontar como o responsável pela morte seja uma estratégia dos irmãos Brazão e do delegado.
— Não tem fundamento. A investigação que tivemos até agora, princialmente o MP, quando chega, essa família já estava sendo monitorada há um tempo. Brazão não é novidade pra gente, em nenhum momento. O Rivaldo, sim, foi uma surpresa. A gente não sabia que eram os dois irmãos. (...) Se tivesse algum fundamento, já teria chegado no Girão com mais precisão — disse Marinete.
Lembranças do crime
Anielle lembrou o dia do crime, quando chegou ao local pouco depois da irmã ser morta. A vereadora era o alvo do ataque a tiros realizado em 14 de março de 2018. Ao sair de um evento na Casa das Pretas, espaço coletivo de mulheres negras na Lapa, na Centro do Rio, Marielle embarcou no carro junto com a assessora Fernanda Chaves.
O veículo, dirigido por Anderson, foi emparelhado pelo Cobalt prata onde estavam Lessa e Queiroz, momento em que foi atingido por diversos disparos de uma submetralhadora HK MP5. A parlamentar foi baleada quatro vezes no rosto. O motorista também foi gravemente ferido. Os dois morreram no local.
— Pra mim, acho que o momento mais difícil de todos foi ter chegado no lucal do crime e ter visto a minha irmã desconfigurada. A ficha foi demorando a cair. Às nove e trinta e dois, ou nove e trinta e quatro ela é assassinada, e eu chego pouco depois ao local e ainda consigo ver a mão da minha irmã pendurada, com sangue pingando, os pertences dela no chão. Eu volto para casa para "confirmar" para minha mãe, meu pai, Luyara (filha da Marielle), e naquele momento eu achei que ia perder os quatro de uma vez só assim. No dia seguinte, fui no IML. Eu não tinha como deixar o meu pai, minha mãe ou a Luyara com a tarefa — contou em entrevista ao "Encontro".