Desempenho do PT

Diagnóstico de Padilha sobre fraco desempenho do PT nas eleições é semelhante ao de Lula

Atrito entre Gleisi e ministro tem como pano de fundo disputa pela presidência do partido

Ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha - Marcelo Camargo/Agência Brasil

O diagnóstico do ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, de que o PT está desde 2016 no “Z-4 das eleições municipais”, — expressão usada para se referir à zona de rebaixamento no futebol —, é semelhante à avaliação do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o resultado das urnas, de acordo com aliados no Palácio do Planalto.

Auxiliares do presidente afirmam que Lula não vê um cenário de terra arrasada, mas que reconhece as dificuldades do PT frente à atual conjuntura, com avanço da extrema direita e em um cenário em que a legenda abriu mão de disputar em capitais importantes para apoiar candidatos de partidos que integram a base do governo, caso de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Recife.

Segundo esses relatos, Lula também tem compartilhado que considera que as eleições municipais não interferem necessariamente no processo de 2026.

Aliados admitem, no entanto, que o uso do termo Z-4 por Padilha foi “infeliz”, especialmente por ocorrer no dia da reunião da Executiva do PT e em um momento em que, segundo esses interlocutores, integrantes do PT estavam sedentos por acharem responsáveis e apontarem culpados pelo mal desempenho da sigla.

Um deles afirma que se o próprio presidente tivesse feito a mesma comparação em uma entrevista, esse atrito interno não ocorreria.

A expressão foi usada por Padilha na manhã de segunda-feira em conversa com jornalistas após uma reunião com Lula de avaliação do cenário eleitoral. A conversa contou com a presença presidente do partido, Gleisi Hoffmann. A deputada foi chamada para levar os resultados da sigla para o presidente no Palácio da Alvorada.

"Desde 2016, o PT entrou no fim da tabela do Z4 das eleições municipais, mesmo com os avanços que teve hoje, não saiu ainda dessa posição de fim da tabela, foi o terceiro partido que mais cresceu em número de prefeituras, terceiro que mais aumentou população governada, aumentou muito número de votos para prefeito e vereadores mais não saiu ainda dessa situação ", disse Padilha.

A fala, que eximiu o Palácio do Planalto da responsabilidade do desempenho eleitoral, provocou reação de Gleisi enquanto a Executiva estava reunida na sede nacional do partido em Brasília para avaliar o resultado do pleito municipal.

“Padilha devia focar nas articulações políticas do governo, de sua responsabilidade, que ajudaram a chegar a esses resultados. Mais respeito com o partido que lutou por Lula Livre e Lula Presidente, quando poucos acreditavam”, escreveu Gleisi nas redes sociais. Gleisi afirmou que convidou Padilha para a discussão e foi aplaudida pelos integrantes da reunião.

A reação de Gleisi não foi encarada com críticas pelo Planalto, com argumento de que a deputada cumpre seu papel em defender o partido e falar para a militância. Já integrantes da Executiva afirmaram, sob reserva, que se sentiram ofendidos com o comentário de Padilha em momento em que a legenda faria uma avaliação de um cenário que já não é favorável.

O desentendimento entre Padilha e Gleisi também carrega como pano de fundo as discussões que envolvem a sucessão do comando do PT. Padilha integra a ala que defende o nome do prefeito de Araraquara, Edinho Silva, para chefiar a legenda a partir de 2025.

A posição do ministro é chancelada especialmente por Lula, que enxerga o prefeito o melhor perfil para conduzir a legenda nas eleições de 2026.

Embora não se coloque publicamente contrária a Edinho Silva, Gleisi tem afirmado ser favorável a candidatura de um nome do Nordeste, região onde está a maior densidade eleitoral da legenda, para disputar o comando da sigla. O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE) é um dos mais citados pelo grupo que defende um nordestino à frente da legenda.

Aliados da presidente do PT negam que haja uma disputa pessoal entre Gleisi e Padilha ou tentativa da deputada se cacifar para uma vaga no primeiro escalão do Palácio do Planalto — Gleisi deve assumir um ministério após deixar o comando do PT.

Esses interlocutores afirmam que a deputada quer conduzir a sucessão do partido no sentido de construir um nome de unidade e alegam que ao se manifestar a deputada expressou o sentimento da legenda. Durante a reunião da executiva do PT, mais de 30 pessoas puderam falar dando sua avaliação das eleições e o ministro foi um alvo preferencial de apontamentos negativos.

Segundo relatos, houve críticas a falta de apoio do governo aos candidatos petistas e um incômodo maior ao que petistas alegam como pouco espaço na articulação política do governo e exclusão da legenda das discussões estratégicas.

Há reclamações, por exemplo, de que deputados petistas demoram a ser avisados sobre inaugurações do governo federal nos estados e que governadores e prefeitos de outras legendas faturam mais com as entregas de Lula do que o PT.

Gleisi sintetizou essas reclamações ao afirmar nesta segunda-feira, em entrevista após a reunião da Executiva, que faltam aos ministros terem uma atuação mais incisiva na defesa dos programas do governo.

"Quem faz disputa no governo do presidente Lula é ele quando fala dos programas, quando defende o que está fazendo. Eu vejo pouca participação dos ministros para falar disso, inclusive dos seus projetos de área. Mas essa disputa política, esclarecendo a sociedade do porquê do programa, é muito importante."