Apoio, anistia ao 8/1 e atração de PL e PT: como Lira busca cacifar Motta sucessão na Câmara
Atual presidente da Casa usou uma manobra regimental para retardar a tramitação da proposta para livrar de punição envolvidos nos atos golpistas
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), atuou nesta terça-feira em duas frentes para tentar cacifar Hugo Motta (Republicanos-PB) ao comando da Casa em fevereiro de 2025. Pela manhã, anunciou publicamente o seu apoio à candidatura do aliado.
Na visão do deputado do PP, que há dois meses ainda dava suporte a Elmar Nascimento (União-BA), o líder do Republicanos é o nome da “convergência”.
O parlamentar também utilizou uma manobra regimental para retardar a tramitação da proposta que trata da anistia aos envolvidos no 8 de Janeiro.
A intenção é que o tema não seja utilizado como barganha pelo PL para apoiar um dos candidatos. Também abriria portas para o PT chancelar de uma vez o apoio a Motta, já que o parlamentar não precisaria se comprometer com a pauta neste momento.
A cerca de dois meses do fim de sua gestão, Lira tenta segurar as rédeas do processo de sucessão e evitar que a expectativa de poder o torne irrelevante, o que reservadamente não seria visto como algo negativo por governistas.
O deputado entende que a manutenção da influência sobre o Centrão pode ser importante para se posicionar no futuro, seja no próprio Legislativo ou em novas disputas eleitorais.
Ao tentar costurar um nome de consenso e liderar a Casa até o fim do período, o presidente da Câmara também mantém musculatura para negociar um acordo favorável ao Congresso sobre as emendas parlamentares e honrar compromissos com aliados. A distribuição desses recursos está travada por ordem do Supremo Tribunal Federal.
Acordo entre PSD e União
Hoje, o deputado do Republicanos, que ganhou o aval de Lira, é o nome preferido do Palácio do Planalto e da bancada petista, mas governistas ainda calculam os movimentos para evitar desgastes. Além de Elmar, ainda concorre o líder do PSD, Antonio Brito (BA).
Ambos possuem um acordo para que o mais bem posicionado ganhe o aval do colega em um eventual segundo turno da disputa interna.
Também nessa terça-feira, Elmar reagiu às movimentações em uma série de postagens no X e afirmou que o papel de um presidente da Câmara não é “buscar uma unanimidade artificial”. Ele enviou ainda um recado direto ao dizer que o ex-aliado “não cumpre palavra”.
Na manhã de terça-feira, Lira criou uma comissão especial para tratar da anistia, uma reivindicação do ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados. Assim, o projeto de lei, que estava pautado para o mesmo dia na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), deu passos atrás na tramitação.
Será preciso indicar um novo relator e a discussão retornará à estaca zero, com necessidade de indicação de integrantes do colegiado pelos partidos. Ou seja, o tema ficará dormitando até a sucessão.
O movimento gerou insatisfação no PL, mas não houve comentários públicos de desaprovação. Até mesmo Bolsonaro, que esteve ontem no Congresso para falar sobre o assunto com aliados, desconversou e disse que a posição do partido não está vinculada ao tema. Bolsonaro declarou que será importante que os “órfãos” dos acusados de atacar as sedes dos Poderes falem à comissão especial.
Parte do PT, por sua vez, ainda quer arrancar um compromisso de Motta para que ele não paute o tema no próximo ano. Deputado da Bahia, mesmo estado de Elmar e Brito, Jorge Solla cobrou uma posição clara para 2025.
— Seria muito delicado se ele pautasse este tema no ano que vem. Precisamos ver como o Hugo Motta se posiciona quanto a isso, antes de decidirmos qualquer coisa. Temos outras questões a tratar pelo apoio, é claro, mas este tema é prioritário — afirmou.
O deputado Rui Falcão (PT-SP) foi na mesma linha:
— Eu só falo sobre isso (apoio) depois que souber o que ele pensa claramente da anistia. É mais do que prioritário para nós.
Pela manhã, ao fazer os anúncios de apoio a Motta e do envio do projeto da anistia a uma comissão especial, Lira destacou que o ambiente não pode ser contaminado.
— O tema (da anistia) deve ser devidamente debatido pela Casa. Mas não pode, jamais, pela sua complexidade, se converter em indevido elemento de disputa política, especialmente no contexto das eleições futuras para a Mesa Diretora da Câmara — disse Lira.
A deputada Caroline de Toni (PL-SC), presidente da CCJ, pediu que o texto seja aprovado “o quanto antes”. Ela evitou, porém, fazer críticas a Lira:
— Dessa decisão (de Lira) não cabe recurso, então esperamos que tramite o quanto antes, porque nossa expectativa era que fosse aprovado na comissão (CCJ) e fosse para o plenário.
Motta, por sua vez, buscou se desvincular do assunto. Ele declarou que espera que o tema seja analisado neste ano, mas disse que não tem certeza se isso acontecerá.
— O presidente Arthur se posicionou, criou a comissão especial e lá será o âmbito onde essa discussão se dará, defendendo sempre que a Casa possa ao final na sua sabedoria e respeitando a maioria dos pares poder definir aquilo que deverá ser o texto.
O candidato também agradeceu a Lira, ao presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), e ao líder do partido na Câmarta, Dr. Luizinho (RJ), em seu pronunciamento.
Leque de partidos
À porta da residência da Câmara, quando Lira anunciou o apoio a Motta, estavam ao seu lado os líderes do MDB, Isnaldo Bulhões (AL), do PP, Dr. Luizinho, além do vice-líder do PT Rubens Pereira Jr (MA), entre outros parlamentares, inclusive de partidos como PL e Podemos.
No mesmo dia, o PP formalizou apoio ao parlamentar do Republicanos. A candidatura de Motta foi viabilizada depois de o presidente de seu partido, deputado Marcos Pereira (SP), desistir de tentar o cargo, no início do mês passado.
— Declarar apoio a Hugo Motta é a minha contribuição pessoal para a convergência e para que possamos manter uma Câmara firme na defesa do Parlamento e do Brasil. Estou convicto de que o candidato com maiores condições políticas de construir convergências no Parlamento é o deputado Hugo Motta, nome que demonstrou capacidade de aliar polos aparentemente antagônicos com diálogo, leveza e altivez — disse Lira.
O presidente da Câmara usou o pronunciamento também para fazer acenos a Elmar e Brito e os chamou de “verdadeiros amigos de vida”. Ontem, ambos se reuniram com a bancada do PT.
Ao sair da reunião, Brito disse que continua no páreo e que a bancada petista não tomou qualquer decisão.
À tarde, em entrevista à GloboNews, Lira disse que também quer apoio do PT e do PL, com a formação de um amplo arco de alianças. Ele reforçou que a decisão sobre anistia era um passo neste sentido.
— Tenho um relacionamento muito bom com o PL e PT, faz parte do meu perfil conversar com os divergentes. Se não tiver como colocar a bola no chão e resolver, não temos como representar aquela Casa. A polêmica se resolve com discussão e paciência.