Lucro da Volkswagen desaba, no pior resultado desde a pandemia
Resultado operacional recuou 42%
O lucro da montadora alemã Volkswagen desabou para o nível mais baixo desde a pandemia de Covid-19, no sinal mais evidente da crise enfrentada pela empresa, que recentemente anunciou que poderá fechar três de suas fábricas na Alemanha - em 87 anos de existência, a empresa nunca encerrou uma unidade no seu país de origem.
O lucro operacional da Volkswagen despencou 42%, para € 2,86 bilhões (US$ 3,1 bilhões ou R$ 17,6 bilhões) no terceiro trimestre, com a receita também caindo em relação ao ano anterior, informou a empresa nesta quarta-feira. Sua margem operacional reduziu-se para apenas 3,6%, o menor nível em mais de quatro anos.
Os resultados fortalecem o argumento da administração da Volkswagen para tomar medidas drásticas na Alemanha, onde líderes sindicais resistem ao fechamento de pelo menos três fábricas e à eliminação de milhares de empregos. A empresa também busca reduzir em 10% os salários de cerca de 140 mil trabalhadores.
"Isso destaca a necessidade urgente de reduções significativas de custos e ganhos de eficiência", disse o diretor financeiro da Volkswagen, Arno Antlitz, em um comunicado.
As ações preferenciais da Volkswagen registraram alta de 1,9% às 10h15 (hora local) na Bolsa de Frankfurt, com analistas descrevendo os resultados como amplamente alinhados com as expectativas para a empresa, que já eram pessimistas. No ano, os papéis da montadora caíram 20% neste ano, figurando entre os piores desempenhos do índice DAX, referência na Alemanha.
PIB alemão surpreende
Na contramão dos resultados negativos da Volkswagen e contrariando as previsões, o Produto Interno Bruto (PIB) da Alemanha registrou um inesperado crescimento de 0,2% no terceiro trimestre, segundo dados oficiais preliminares publicados, nesta quarta-feira, pela agência federal de estatísticas, Destatis, desafiando as expectativas de que a maior economia da Europa entraria em recessão técnica.
A expansão da economia alemã foi impulsionada por um aumento nos gastos públicos e no consumo das famílias.
Nova rodada de negociações
A Volkswagen divulgou seus lucros horas antes do início de uma segunda rodada de negociações com líderes sindicais em Wolfsburg, onde fica sua sede. Espera-se que os sindicatos resistam à proposta da empresa, o que pode levar os trabalhadores a realizarem greve a partir desta quarta-feira por causa do fechamento das fábricas e as medidas de cortes de custos anunciada pela empresa.
A montadora poderia economizar € 2,5 bilhões (R$ 15,4 bilhões) por ano — ou cerca de € 1.900 (R$ 11.700) por carro vendido na Europa — ao fechar fábricas, estimou o analista da Bloomberg Intelligence, Michael Dean, em uma nota nesta semana. As fábricas da VW em Emden, Hanover e Osnabrück são as menos utilizadas, de acordo com dados do setor.
A situação da VW "não é um fenômeno único", disse a chefe do conselho de trabalhadores, Daniela Cavallo, antes da retomada das negociações nesta quarta-feira, acrescentando que toda a indústria automobilística está sofrendo com condições de mercado fracas, especialmente para marcas de volume.
A queda nas vendas na China e a concorrência cada vez mais acirrada na Europa, que ainda não retornou aos níveis de demanda pré-pandemia, contribuíram para as perdas da Volkswagen. Os veículos VW, marca principal da montadora, enfrentam dificuldades com baixos retornos, e os esforços de reestruturação têm sido prejudicados por lançamentos problemáticos de veículos elétricos.
Antlitz reiterou que a marca Volkswagen precisa obter mais de € 10 bilhões (R$ 61,5 bilhões) em economias de custo para permanecer competitiva com seus pares. E alertou que será desafiador para a empresa cumprir os limites mais rígidos de emissões de CO2 na União Europeia no próximo ano e que poderá precisar combinar sua frota com a de outro fabricante.
Fabricantes de automóveis chineses também estão avançando no segmento de carros de alto desempenho e premium da Porsche e da Audi, representando uma ameaça tanto para essas marcas da Volkswagen quanto para suas concorrentes alemãs Mercedes-Benz e BMW.