Arce exige "suspensão imediata" de bloqueios na Bolívia
Os protestos são protagonizados por camponeses aliados do ex-presidente Evo Morales
O presidente da Bolívia, Luis Arce, exigiu, nesta quarta-feira (30), a "suspensão imediata" dos bloqueios que os seguidores de Evo Morales realizam há 17 dias contra o governo e em apoio ao ex-mandatário, investigado criminalmente por um caso de estupro.
"Não pode haver nenhum diálogo sem suspender os bloqueios e as medidas de pressão que estão estrangulando [...] Por isso exigimos a suspensão imediata de todos os pontos de bloqueio", declarou Arce em mensagem à nação.
O presidente advertiu que, se "este clamoroso pedido" não for ouvido, o governo "exercerá suas faculdades constitucionais para garantir o interesse do povo boliviano".
Contudo, não adiantou se utilizará os militares para o desbloqueio das vias, ou se vai decretar o estado de exceção, ambas medidas amparadas pela Constituição e que setores opostos a Morales reivindicam.
Segundo Arce, 70 pessoas ficaram feridas desde que começaram as manifestações, das quais 61 são policiais.
O protesto derivou em choques entre partidários de Morales e as forças da ordem.
Ontem foi registrado o enfrentamento mais grave em uma via que a polícia tentou desbloquear no departamento de Santa Cruz, com saldo de 29 feridos, 27 deles efetivos policiais que foram agredidos e apedrejados, de acordo com as autoridades.
- Perdas milionárias -
Arce fez um balanço dos prejuízos econômicos provocados pelos bloqueios nas estradas.
"Há um impacto superior a 1,7 bilhão de dólares [R$ 9,82 bilhões], com terríveis efeitos para as famílias, asfixiando a economia, impedindo o abastecimento normal de combustíveis, aumentando os preços dos alimentos", advertiu Arce.
Os protestos são protagonizados por camponeses aliados do ex-presidente Morales, em rechaço ao que denunciam como uma "perseguição judicial" de seu líder de 65 anos.
O ex-presidente está sob investigação por estupro, tráfico e exploração de pessoas, em razão do suposto abuso de uma menor em 2015, quando ainda era presidente.
"Mentira a mais"
Morales rejeita a acusação como uma "mentira a mais" orquestrada pelo governo de seu ex-ministro da Economia para impedir que seja candidato presidencial em 2025 da esquerda governante.
"O certo é que, por trás deste bloqueio antidemocrático e criminoso, as verdadeiras motivações foram expressas pelos próprios porta-vozes do 'evismo': a imposição de uma candidatura inconstitucional, ao que se soma a anulação imediata das causas contra Evo Morales na Justiça", assinalou Arce em sua mensagem.
No fim do ano passado, a Justiça assegurou que o líder cocaleiro não pode concorrer novamente à presidência, porque já foi reeleito uma vez, como prevê a Constituição promovida pelo próprio Morales.
O ex-governante, que não reconhece essa sentença, assumiu o poder em 2006 e ficou até 2019.
Crítica a manifestantes
Arce também criticou nesta quarta-feira o fato de os manifestantes quererem impor a todo o custo a candidatura de seu dirigente: "Em outras palavras: candidatura de Evo ou haverá sangue, impunidade de Evo ou haverá sangue", apontou.
Desde que os protestos começaram, os bloqueios aumentaram de quatro para 24 nesta quarta-feira, segundo a agência que administra as estradas na Bolívia.
A crise ficou mais aguda no domingo, quando Morales assegurou que foi alvo de uma tentativa de assassinato por parte do governo, que, por sua vez, tachou sua denúncia de "teatro".