Investigação

Dois homens são indiciados pela morte de criança eletrocutada em academia no Engenho do Meio

Caso aconteceu no dia 3 de outubro

Coletiva de imprensa na Polícia Civil sobre caso de menino morto devido a fio desencapado - Davi de Queiroz/Folha de Pernambuco

A Polícia Civil concluiu as investigações da morte de Tomás Felipe Bandeira da Rocha, criança de 10 anos que morreu após tomar choque elétrico em uma academia, em praça do Engenho do Meio, Zona Oeste do Recife.

Coordenada pelo delegado do Cordeiro, João Gustavo Godoy, a inquirição indiciou dois homens por homicídio culposo, quando não há intenção de matar.

Os acusados pela morte de Tomás foram o homem que é dono de uma empresa que faz ligações elétricas, que foi contratada pela empresa que é responsável pela administração da academia, e o funcionário que realizou a ligação.

“Junto do inquérito, a todas às perícias, aos depoimentos e aos estudos que fizemos das normas técnicas que existem para ligações elétricas, a gente entendeu que existe uma clara relação entre a ação deles, a forma como foi feita a ligação e o evento que ocasionou a morte do menino”, afirmou Godoy.

João Gustavo Godoy, delegado da Polícia Civil. Foto: Davi de Queiroz/Folha de Pernambuco.

Godoy também explicou como aconteceu o acidente e por que a ligação não foi realizada da maneira correta.

“O que acreditamos que aconteceu foi que, no dia, a criança estava brincando, na Academia Recife. Existia uma lona, que protegia essa ligação elétrica, e mesmo ela (Tomás) não devendo estar nessa área onde ela se encontrava, porque ela foi se esconder no armário, ela acaba subindo em um gradinho de ferro, acaba caindo e pisando no eletroduto”, iniciou.

“Esse eletroduto, por não estar posicionado da forma como deveria estar, ele corre, e como o corte feito no armário para a entrada do eletroduto não foi completo, ele fez um rasgão, criou uma lâmina. Então o eletroduto, que é duro, correu, e aí o fio - cabo PP - teve que passar por essa lâmina e acabou se ferindo, cortando, eletrificando todo o armário e causando um choque que causou a morte do menor”, concluiu.

Godoy explicou também que a ligação era regular, porém não foi feita dentro do que estabelecem as normas técnicas que são previstas para esse tipo de ligação. 

Explicação do indiciamento
Apesar do inquérito concluir uma relação direta entre o processo de ligação e a morte de Tomás, Godoy explicou porque os homens não foram acusados de homicídio doloso, que é quando há a intenção de matar.

“Não houve dolo, houve uma culpa, uma negligência das pessoas, então não foi feito o pedido de prisão. Mas foi identificado, na nossa opinião, pessoas que, por ações, causaram um nexo causal que ocasionou a morte do menor”, declarou o delegado.

Advogado da vítima discorda
Após a conclusão do inquérito, o advogado da mãe da vítima, Clevisson Bezerra, discordou do indiciamento de crime culposo e disse que solicitará judicialmente que os homens sejam acusados de homicídio doloso.

“O dono da empresa tinha o dever de fiscalizar, e a pessoa que fez a instalação elétrica tinha o dever de prestar o serviço com excelência, o que não foi feito. No próprio depoimento do dono da empresa, ele disse que não condiz com o que era para ser feito no armário da Academia da Cidade. E o eletricista que fez a instalação diz que não fez o aterramento da ligação elétrica. Ou seja, ninguém fez nada”, explicou.

Clevison Bezerra, advogado da vítima | Foto: Davi de Queiroz/Folha de Pernambuco

Dor para quem fica
Emocionada, a mãe de Tomás, Tássia Bandeira, pediu por mais fiscalização nesses equipamentos públicos.

“Eu sei que não foi intencional, mas você assume o risco. Não tem como você fazer um negócio daquele. Você sabe que vai danificar, que não está certo. A fiscalização é a alma de tudo, não é só o dinheiro não”, declarou.

Tássia Bandeira, mãe de Tomás | Foto: Davi de Queiroz/Folha de Pernambuco