Ronnie Lessa e Queiroz: quem são os ex-policiais condenados pelo assassinato de Marielle e Anderson
Crime aconteceu em março de 2018. Lessa foi condenado a 78 anos e 9 meses de prisão e Élcio de Queiroz a 59 anos e 8 meses de prisão
Os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram condenados pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
O veredito foi dado nesta quinta-feira, no segundo dia do julgamento, no 4º Tribunal do Júri do Rio, no Centro do Rio. Eles foram levados a júri popular. Lessa foi condenado a 78 anos e 9 meses de prisão e Élcio de Queiroz a 59 anos e 8 meses de prisão.
Os ex-PMs responderam por duplo homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emboscada e recurso que dificultou a defesa da vítima) e pela tentativa de homicídio contra a então assessora da vereadora, Fernanda Chaves, única sobrevivente do ataque.
A juíza Lucia Glioche presidiu o julgamento.Foram ouvidas nove testemunhas. Os ex-policiais militares participaram de forma remota, por videoconferência, a partir dos presídios onde estão: Lessa está no Complexo Penitenciário de Tremembé, em São Paulo.
Já Queiroz, no Complexo da Papuda, presídio federal em Brasília. Os dois foram presos em março de 2019, pouco antes do crime completar um ano.
Quem é Ronnie Lessa
Até ser preso, em 12 de março de 2019, Lessa tinha a ficha limpa. Egresso do Exército, ele foi incorporado à Polícia Militar em 1992. Depois, virou adido da Polícia Civil. A prática de cessão de PMs para a corporação começou no início dos anos 2000. Trabalhou na extinta Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (Drae), na Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC) e na extinta Divisão de Capturas da Polinter Sul.
Foi a partir dessa experiência como adido que Lessa impulsionou sua carreira de mercenário. Como muitos agentes na mesma situação, conhecia mais as ruas que os policiais civis. Destacou-se pela agilidade e a coragem na resolução dos casos.
Ele foi expulso da PM e condenado, em 2021, a quatro anos e meio de prisão pela ocultação das armas que teriam sido usadas no crime, que nunca foram recuperadas. Lessa é réu confesso dos homicídios.
Ataque sofrido em 2009
Em 2009, Lessa perdeu uma perna durante uma explosão em um carro em que estava. A suspeita é de que caso tenha acontecido no contexto de guerra entre bicheiros. Com a reforma por invalidez, Lessa deixou de ser adido, mas ainda circulava pelas delegacias da Polícia Civil, principalmente na DRAE.
Primeira tentativa de matar Marielle Franco
Amigos há décadas, Élcio passou a festa de réveillon de 2017 para 2018 com sua a família e a de Ronnie Lessa no Vivendas da Barra, onde o atirador morava. No meio da noite, Lessa, alcoolizado, confidenciou que não conseguia concluir um trabalho que tentava, há algum tempo, com o Suel e Edimilson Oliveira, o Macalé. Ele então detalhou a noite que saiu com os dois: Maxwell era o motorista do Cobalt, o atirador no carona com sua submetralhadora, e Edimilson no banco traseiro com um fuzil Ak-47.
Marielle estava num táxi, também no Estácio, bairro onde foi assassinada meses depois. Em seu desabafo ao amigo, o atirador contou que o trio se aproximou do veículo da vereadora, mas, apesar da ordem de emparelhar com o carro, Suel não conseguira se aproximar.
O motorista explicou a Lessa que o carro dera um problema, mas o ex-BOPE não acreditou e achava que ele tinha ficado com medo.
'Exímio atirador'
Durante o julgamento, peritos destacaram o trabalho de Ronnie Lessa como atirador. Portando uma submetralhadora, o ex-PM disparou tiros concentrados no vidro do banco traseiro onde Marielle estava sentada no caminho para casa. Ela foi atingida por quatro balas no rosto, e morreu no local. Os disparos também atravessaram e atingiram o vidro da outra janela traseira. Segundo a acusação, se a assessora Fernanda Chaves, que viajava ao lado de Marielle não tivesse se abaixado, também teria morrida. Os policiais que prestaram depoimento voltaram a o definir como "exímio atirador".
Deleção premiada
Em sua delação premiada, Lessa apontou os irmãos Chiquinho Brazão, deputado federal (sem partido-RJ), e Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio, como os mandantes do assassinato de Marielle.
Também em delação premiada, Élcio de Queiroz falou da dinâmica do crime, que incluíram um relato de uma tentativa frustrada, no ano anterior, em 2017, e as táticas empregadas, como campanas e perseguição. Do bando traseiro do Cobalt prata, carro usado no atentado, Lessa efetuou os disparos após Queiroz emparelhar os veículos. A parlamentar foi atingida por quatro disparos no rosto. Anderson também foi baleado e acabou morto. Logo após o crime, amigos e políticos levantaram a hipótese de execução.
Quem é Élcio de Queiroz
Ex-sargento da Polícia Militar, foi expulso da corporação em 2015. Queiroz está preso desde 2019 pelos assassinatos de Marielle e Anderson. Ele dirigia o carro usado na emboscada, um Cobalt prata, e participou da ocultação de provas.
Confissões da tentativa de assassinato
Amigos há décadas, Élcio passou a festa de réveillon de 2017 para 2018 com sua a família e a de Ronnie Lessa no Vivendas da Barra, onde o atirador morava. No meio da noite, Lessa, alcoolizado, confidenciou que não conseguia concluir um trabalho que tentava, há algum tempo, com o Suel e Edimilson Oliveira, o Macalé. Ele então detalhou a noite que saiu com os dois: Maxwell era o motorista do Cobalt, o atirador no carona com sua submetralhadora, e Edimilson no banco traseiro com um fuzil Ak-47.
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Marielle estava num táxi, também no Estácio, bairro onde foi assassinada meses depois. Em seu desabafo ao amigo, o atirador contou que o trio se aproximou do veículo da vereadora, mas, apesar da ordem de emparelhar com o carro, Suel não conseguira se aproximar. O motorista explicou a Lessa que o carro dera um problema, mas o ex-BOPE não acreditou e achava que ele tinha ficado com medo.
Participação na execução
Élcio de Queiroz estava trabalhando como segurança de uma transportadora quando recebeu uma mensagem de Ronnie Lessa na tarde de 14 de março de 2018, horas antes do assassinato. A comunicação ocorreu por um aplicativo em que as mensagens se autodestroem após lidas. Eles se encontraram no condomínio de Lessa, onde pegaram o carro usado para chegar até onde estava o Cobalt prata usado no homicídio.
Segundo contou, apenas ao chegarem no endereço no Centro do Rio, onde ficaram de campanas, soube que o alvo seria Marielle Franco. Queiroz disse ter recebido instruções de onde poderia parar o carro para evitar câmeras de segurança enquanto aguardava a saída da parlamentar.
Quando Marielle sai do evento, Queiroz se dá conta de que ela está acompanhada da assessora, Fernanda Chaves, a única que sobreviveria ao atentado. Ele questiona Lessa sobre continuar o plano, no que é avisado que não desistiriam. Ele então começa a seguir o veículo da parlamentar pelas ruas do Rio. Mas ao se aproximar do carro de Marielle parado em um cruzamento, Lessa, de touca ninja, deu a ordem: “emparelha a minha janela com a de trás do lado direito. Pelo carona”.
“Eu só escutei a rajada; da rajada, começou a cair umas cápsulas na minha cabeça e no meu pescoço; Ele falou “vão bora”; eu nem vi se acertou quem, se não acertou” , detalhou Queiroz na delação.
Delação premiada
Em sua delação premiada, Queiroz apontou Ronnie Lessa como autor dos disparos e disse que só descobriu que a vereadora era o principal alvo quando estavam de campanas na calçada enquanto esperavam que ela deixasse o evento o qual participava. Ele contou que, em dezembro de 2017, Lessa revelou que já tinha tentado concluir a execução, o qual chamou de "trabalho".
Queiroz foi chamado para participar no dia do atentado. Ele ainda contou que Lessa o relatou ter se livrado da arma usada no crime e falou sobre o papel de Maxwell Simões Correa, o Suel, que teria participado da tentativa frustrada e, depois da conclusão, ficou responsável por sumir com o Cobalt, ao desmanchá-lo. O homem é investigado por ser cúmplice no planejamento do crime.
Processo também no STF
Além de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, são réus no processo que está no Supremo Tribunal Federal (STF): Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro; o irmão dele, Chiquinho Brazão, deputado federal (sem partido-RJ); Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio e delegado; e Ronald Paulo de Alves Pereira, major da Policia Militar do Rio.