Música

Cantora baiana Rachel Reis comenta carreira e preparação para novo àlbum; confira single

Cantora baiana surgida nos barzinhos de Feira de Santana, hoje atração de festivais de música, avalizada por nomes como Céu, comemora sucesso aos quatro anos de carreira profissional

Rachel tem apenas quatro anos de carreira profissional - Youtube/Reprodução

Uma mulher “quase alta” (de 1,67 metro), que cresce no palco com uma vibrante presença corporal, revoltos cabelos cacheados (na manhã da entrevista, recolhidos em tranças), olhar hipnótico e uma voz marcante. A baiana de Feira de Santana Rachel Reis, de 27 anos, não teve como evitar o apelido: Sereiona.

É essa a imagem que ela evoca na capa de “Meu esquema”, seu disco de estreia, de 2022, indicado ao Grammy Latino. A mesma imagem que está tatuada em uma de suas pernas, além de ter inspirado o batismo de seu show mais íntimo, “Acústico da Sereiona”, com o qual tem rodado o Brasil.

Mas ser a Sereiona ainda é algo estranho para Rachel, a cantora e compositora de sucesso no streaming — com músicas como “Maresia”, “Bateu” (com os Gilsons e Mulú) e “Melaço” (com Lucy Alves) — e presença constante nos principais festivais de música do país. Por mais que os figurinos e tudo mais a tornem diva, nas feições juvenis ela conserva a memória da menina que até outro dia cantava em barzinhos.

"No começo, eu me sentia meio tímida para lançar as coisas que escrevia. Lancei as músicas, as pessoas foram gostando e aí fui me jogando mais, me abrindo a outras possibilidades" conta ela, ainda colhendo os frutos de “Ensolarada”, o primeiro single (lançado em setembro) de seu novo álbum, que sai no ano que vem. "Nesse disco eu busquei um meio-termo. Não quis ser a sofrida, ao mesmo tempo, não quis ser a superempoderada"

Recém-chegada de sua primeira turnê europeia e preparando-se para ser uma das atrações do braço paulistano do festival Afropunk (em 14 de dezembro, no Parque Villa-Lobos), Rachel se surpreende ao dar-se conta de que tem apenas quatro anos de carreira profissional:

"As pessoas dizem: 'Você cresceu assim, de uma hora para outra...' E é muito engraçado, porque eu não sinto que aconteceu dessa forma. Foi todos os dias, pedrinha por pedrinha, uma construção diária"

Filha de uma mãe que cantava músicas de Kelly Key em formato de seresta e hoje é evangélica, e irmã mais nova de uma cantora de forró (Sarah Reis), Rachel cresceu em meio a uma grande diversidade musical.

Da irmã, pegou o amor por Charlie Brown Jr., Avril Lavigne e Amy Winehouse. Da TV, o gosto pelas músicas de novelas. E, dos bares, a vivência do arrocha e do pagodão. Em suas primeiras investidas nos palcos da noite, não era raro ela temperar a animação do samba e do reggae com alguma coisa mais melancólica, “um Peninha, uma Adriana Calcanhotto”, como lembra.

Rachel durante a gravação de seu último videoclipe, "Ensolarada". Foto: Redes Sociais/Reprodução

No meio do caminho, Rachel Reis encarou muitos “trabalhos aleatórios”. Foi digitadora, recepcionista em posto de saúde, atendente de telemarketing, dona de brechó, redatora publicitária, designer...

"Todo fim de semana fazia barzinho, casamento e festa de aniversário, mas depois parei, porque eu não estava mais feliz em dormir tarde e ganhar muito pouco. Além disso, eu não queria mais cantar as músicas de outras pessoas o tempo inteiro. Aí resolvi estudar. Fiz um semestre de Direito, larguei, e hoje estou terminando Publicidade e Propaganda" conta a cantora.

Mais ou menos por essa época, Rachel viu o cantor e produtor pernambucano Barro num show em Feira de Santana. Ela o procurou na internet, e os dois ficaram amigos.

"A imagem dela no perfil da rede, cantando no barzinho, me intrigou. Ela tinha um estilo, uma postura. Aí eu perguntei: “Tem música tua?” E a Rachel me mandou “Ventilador” e, logo depois, “Sossego”" conta Barro, que acabou produzido, junto com o parceiro Guilherme Assis, as duas músicas de Rachel.

Lançadas em 2020, “Ventilador” e “Sossego” acabaram indo espontaneamente bem no streaming (“não tinha grana, nem plano de marketing”, lembra o pernambucano). Depois, com os produtores Zamba e Cuper, ela fez em 2021 o EP “Encosta”, que caiu no gosto das playlists. Veio então “Maresia” — primeira faixa a estourar. Em 2022, Rachel já tinha condições e estrada para lançar seu álbum, “Meu esquema”, no qual contou com Barro e Guilherme em nove faixas.

"Desde o começo, Rachel tinha uma sofisticação nos arranjos, na melodia e na letra, mas também algo muito popular. São poucos que conseguem combinar isso com naturalidade" diz o pernambucano, hoje envolvido com a produção de cantoras como Joyce Alane e Uana.

Barro e Guilherme também estão produzindo algumas faixas no novo disco da baiana.

"Rachel tem essa vontade de não ficar estigmatizada, por ser da Bahia, por ser do interior. Ela tem um universo musical próprio. E o disco novo abre outras vertentes, está mais visceral na letra, se colocando mais, falando coisas mais densas, mas de forma leve, que te envolve"

Nem mesmo agora, depois de emplacar músicas em novelas (“Bateu” em “Renascer”, “Maresia” em “Fuzuê” e “Melaço” em “No rancho fundo”), e de feats com cantoras como Lucy Alves, Alice Caymmi e Céu (“a minha grande musa da MPB”), além de outros que virão, Rachel ainda consegue se deslumbrar:

"Ainda me soa estranho estar ali perto de pessoas que eu consumo, de que sou fã, que fizeram parte da minha vida inteira"

Céu, “a grande musa”, comenta:

"Não vejo Rachel como uma artista do pop mainstream, desligada da música brasileira. Ela tem aquela chama do artista que vai buscar mais, vai evoluir, mas com suas raízes e valores bem aprofundados"

Confira aqui seu novo single, "Ensolarada"