RIO DE JANEIRO

Coligado com 12 partidos, Paes começa a planejar secretariado para acomodar aliados

Prefeito assegura que retribuirá quem o ajudou durante a campanha, mas diz que só vai tratar do tema a partir do fim deste mês

Coligado com 12 partidos, Paes começa a planejar secretariado para acomodar aliados - Reprodução

Reeleito no primeiro turno em uma coligação com 12 partidos, o prefeito Eduardo Paes desconversa sobre como vai abrigar tantos aliados no novo governo, a partir de janeiro. Paes assegura que retribuirá quem o ajudou durante a campanha, mas diz que só vai tratar do tema a partir do fim deste mês.

Ele argumenta que, até lá, vai se concentrar nos preparativos para a cidade ser anfitriã do G20, o encontro dos chefes de estado das 19 maiores economias do mundo, da União Europeia e da União Africana, nos próximos dias 18 e 19. Por enquanto, não faltam especulações.

Oficialmente, apenas um nome foi confirmado pelo prefeito, ainda durante a campanha: o do secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz. Na dança das cadeiras, já se sabe que dois integrantes do alto escalão atual estão de saída, o que pode abrir espaço para os aliados.

O secretário de Educação, Renan Ferreirinha, decidiu assumir sua cadeira de deputado federal. No Congresso, terá entre suas prioridades ajudar na aprovação de um projeto proposto em 2015 pelo deputado Alceu Moreira (MDB/RS), que proíbe celulares em salas de aula de todo o Brasil, medida que Ferreirinha implantou nas escolas do Rio.

Recriação de secretaria
Na última sexta-feira, Chicão Bulhões se despediu da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Econômico para retornar à iniciativa privada. Nesse caso, a tendência é que a pasta seja reformulada, para deixar de ter a palavra final no licenciamento de projetos urbanísticos.

Isso levaria à recriação da Secretaria de Urbanismo e representaria também sinalização para os aliados da esquerda (PT, PSB, PCdoB e PV), que defendem que o tema seja tratado em pasta específica e poderiam indicar o secretário.

Entre os aliados, são raros os que falam abertamente que cobiçam uma posição no novo governo. Uma das exceções é o deputado federal Ottoni de Paula (MDB), que coordenou a campanha de Paes entre os evangélicos, e que já foi citado como cotado para a Secretaria de Esportes e Lazer. O objeto do desejo de Ottoni de Paula, porém, é a área social.

— Caso o prefeito me convide, posso colaborar, mas ele fica à vontade para decidir se terei alguma participação na gestão. O esporte não faz parte da área em que atuo politicamente. O que me interessa são as pautas sociais — diz ele.

O problema para acomodar Ottoni é que, nos últimos anos, a Secretaria de Desenvolvimento Social está com o PT, que teria que ceder espaço — sem Paes se desgastar com a legenda, porque o partido seria aliado estratégico em 2026, caso o prefeito deixe o cargo para disputar o governo do estado. Hoje, a pasta é comandada pelo ex-vereador Adilson Pires (PT), que conseguiu eleger o sobrinho Felipe Pires para a Câmara.

No PSD, a aposta é que, dos 16 eleitos, até três vereadores se licenciem para compor o alto escalão do novo governo. O mais cotado é o ex-subprefeito da Zona Norte, Diego Vaz, que tem tem perfil operacional e poderá ocupar a Secretaria de Conservação. A nomeação teria dois objetivos: o vereador ganharia visibilidade para disputar uma cadeira de deputado estadual em 2026 e abriria uma vaga para o primeiro suplente do partido, o pastor evangélico Deangeles Percy.

Membro da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), Deangeles promoveu várias reuniões com fiéis da igreja e o prefeito. A relação de Paes com a corrente pentecostal era meio fria desde que ele derrotou Marcelo Crivella em 2020. Ex-secretário de Envelhecimento Saudável, Júnior da Lucinha pode retornar ao Executivo e, na nova Câmara do Rio, abrir vaga para mais um novato: Flavio Pato, que tem base eleitoral em Curicica e caiu nas graças de Paes na campanha.

Já o PDT cobra a fatura, segundo integrantes da direção do partido que pedem para não ser identificados. O partido não cita pasta em particular, mas defende que seja uma secretaria com recursos, e não uma representação figurativa. O argumento é que a legenda foi decisiva para a eleição de Paes ainda no primeiro turno. No início do ano, o PDT tentou emplacar a deputada estadual Martha Rocha como vice de Paes. Como não conseguiu, a parlamentar chegou a ser anunciada como pré-candidata a prefeita. Em 2020, quando Paes derrotou Marcelo Crivella, que tentava a reeleição no segundo turno, Martha ficou em terceiro lugar, com 297,7 mil votos.

— Se tivéssemos seguido com candidatura própria, certamente a eleição só seria decidida no segundo turno — argumentou um membro da direção do PDT.

De olho no União Brasil

Outra especulação é que, para ter um palanque na Baixada Fluminense daqui a dois anos e disputar o Palácio Guanabara, Paes vai tentar se reaproximar do União Brasil, que concorreu à prefeitura com Rodrigo Amorim. O flerte seria com o recém-eleito prefeito de Belford Roxo, Márcio Canella. Eleito para seu primeiro mandato de vereador, Jorge Canella, que usa o sobrenome do aliado, poderia ocupar uma secretaria. De quebra, isso abriria uma vaga na Câmara para Ulisses Marins, que não conseguiu se reeleger. Procurados, Marins e Márcio Canella preferiram nada comentar.