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Agnaldo Rayol cuidava da esposa, com Alzheimer, nos últimos anos; relembre história de 5 décadas

Cantor, que morreu aos 86 anos, optou por não ter filhos com a mulher após sofrer uma perda precoce, aos 18 anos

Agnaldo Rayol e Maria Gomes foram casados por cinco décadas - Reprodução/Instagram

O cantor Agnaldo Rayol — que morreu, aos 86 anos, nesta segunda-feira (4), após sofrer uma queda em casa — se dedicava aos cuidados da mulher nos últimos anos. Diagnosticada com Alzheimer, Maria Gomes, com quem ele era casado há cinco décadas, lida com um estágio avançado da doença e, devido ao transtorno neurodegenerativo, não reconhece mais as pessoas próximas.

Os dois, que se conheceram durante uma participação do artista num programa televisivo, moravam juntos, num apartamento no bairro de Santana, em São Paulo.

Nas redes sociais, Agnaldo costumava realizar publicações para demonstrar o amor e o carinho que nutria pela mulher, a quem ele chamava de "minha Maria". Os dois não tiveram filhos devido a um trauma do cantor na juventude. Aos 18 anos — antes de conhecer Maria —, Agnaldo foi pai de um menino que morreu com poucos meses de vida. Depois de vivenciar essa perda, ele não quis ser pai novamente, como contou em entrevistas.

Meu filho, ainda bebê, não conseguiu sobreviver nos primeiros meses de vida. Nesta época, eu era muito novo, imaturo, e tinha apenas 18 anos. Depois, superei tudo isso", afirmou Agnaldo Rayol, em entrevista ao programa "Face a face".

Agnaldo Rayol começou muito cedo na música. Aos 8 anos, ele já cantava na Rádio Nacional, do Rio de Janeiro. Só ganhou projeção, porém, na fase adulta, a partir do fim dos anos 1950, com uma voz barítono, potente, de estilo operístico. O artista gravou seu primeiro disco, "Agnaldo Rayol", em 1958, pela gravadora Copacabana.

O cantor teve uma carreira expressiva no cinema, na famosa produtora Atlântida. Fez sua estreia em 1949, no filme "Também somos irmãos", que tinha Grande Otelo no elenco e direção de José Carlos Burle. O filme é considerado um dos marcos inaugurais da discussão do racismo no cinema brasileiro.

Na história, um homem que não pode ter filhos adota duas crianças brancas e duas negras. À medida que elas vão crescendo, as dificuldades sociais impostas aos negros vão se acentuando.

Depois, foram uma sequência de longas, muitos deles se apresentando em números musicais, como em "Garota enxuta" (1959) e "Jeca tatu" (1959).

Viveu seu auge nos anos 1960, comandando seus próprios programas de TV como "Agnaldo e as garotas", na TV Continental, "São Paulo meu amor", "Agnaldo Rayol Show" e o "Corte Rayol Show", estes três na TV Record. Estava também entre as atrações da primeira edição do lendário programa Jovem Guarda. Em 1969, ele protagonizou o filme "Agnaldo: perigo à vista".

Agnaldo gravou cerca de 30 álbuns, entre LPs e CDs. Um deles foi “As minhas preferidas – na voz de Agnaldo Rayol – presidente Costa e Silva”, em 1968, com as canções favoritas do segundo presidente da ditadura militar.

Em 1999, virou novamente sensação ao cantar o tema de abertura da novela da TV Globo "Terra nostra", de Benedito Ruy Barbosa. Juntamente com a cantora Charlotte Church, uma soprano inglesa que, na época, tinha apenas 13 anos e milhões de discos vendidos, ele entoou, em italiano, os versos de "Tormento D'Amore". A canção foi composta por Marcelo Barbosa, filho do autor da novela.

O sucesso da música foi tanto que ele lançou, no fim do mesmo ano, um álbum só interpretando músicas em italiano.

— Minha mãe é italiana e cresci ouvindo essas canções — disse ele ao GLOBO em 1999. — Na primeira vez em que me apresentei ao vivo, na rádio Nacional, foi cantando "Matinatta".

A última participação de Agnaldo na TV como ator foi em 2017 na série "Mister Brau", protagonizada por Lázaro Ramos e Taís Araújo. Ele interpretou o apresentador Tom Bob.

''Foi um prazer enorme. Fiquei muito feliz de estar ao lado de pessoas que eu admiro tanto e de um programa que eu já acompanho desde o começo. Fui muito bem tratado e dirigido. Foi um momento que eu vou guardar para sempre no meu coração, como a gente guarda uma joia em uma caixinha'', disse ele, na época.