Eleição no Senado: Alcolumbre atrai do PT ao PL e reúne maioria para voltar ao comando da Casa
Ex-presidente entre 2019 a 2021 angariou seis bancadas que, juntas, têm 44 dos 81 senadores; são necessários 41 votos para ser eleito
A três meses da disputa pelo comando do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP) angariou o apoio de seis bancadas que, somadas, reúnem 44 senadores, o que representa maioria dos 81 integrantes da Casa.
O senador, que conta com o aval do Palácio do Planalto, desponta como favorito para a sucessão de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) a partir do ano que vem. Na terça-feira, o PT anunciou que estará ao seu lado, aumentando o arco de alianças. O voto, no entanto, é secreto e pode haver defecções nos partidos.
Alcolumbre presidiu o Senado entre 2019 e 2021, durante o governo de Jair Bolsonaro, período em que se cacifou como articulador político e ganhou espaço na distribuição de emendas parlamentares, como as do orçamento secreto. Já na gestão petista, o senador se aproximou do governo de Luiz Inácio Lula da Silva e é visto como um nome que pode contribuir com pautas de interesse do governo, a exemplo de Pacheco.
— A obra da reconstrução nacional contou com a participação e a assinatura dele em votações muito antes do presidente Lula tomar posse. É natural o apoio do PT e da base de apoio do governo à sua candidatura — disse o líder do governo no Congresso, o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP). — Ele (Alcolumbre) tem compromisso em destravar a pauta do governo, principalmente a pauta econômica — afirma o líder do PT no Senado, Beto Faro (PA).
A bancada do PT deve ainda fazer um anúncio oficial do seu apoio a Alcolumbre nos próximos dias, mas a decisão foi costurada internamente, com apoio de membros do governo. A negociação para apoiar o senador passou, além de apoio a pautas de interesse do Planalto, por cargos na Mesa Diretora e presidências de comissões da Casa. Os petistas querem a segunda vice-presidência e um colegiado de destaque, como a Comissão de Desenvolvimento Regional, hoje comandada pelo senador Marcelo Castro (MDB-PI) e dona de boa parte das emendas de comissão. Alcolumbre também tem o aval de Rodrigo Pacheco, a quem apoiou nas duas candidaturas e de quem agora vai receber a retribuição.
— Minha posição é clara: o ex-presidente Davi Alcolumbre tem todo o meu apoio — disse Pacheco na terça-feira.
Negociação em curso
O PSD de Pacheco, contudo, ainda não definiu oficialmente o que fazer. O partido reúne 15 senadores, a maior bancada da Casa. A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) anunciou a intenção de se lançar ao cargo, e a candidatura do líder da sigla, Otto Alencar (BA), também é ventilada. Integrantes da legenda, no entanto, avaliam que cabe a Pacheco conduzir a própria sucessão, o que deve levar a legenda para Alcolumbre.
Outro partido ainda sem posicionamento é o MDB, com 10 senadores, e com nomes como o ex-presidente do Senado Renan Calheiros (AL). A sigla ainda deve negociar espaços na Mesa Diretora e nas comissões para oficializar sua posição.
Já no PL, o martelo foi batido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. A bancada defende que os espaços na Mesa Diretora e nas comissões sejam definidos pela proporcionalidade dos partidos na Casa e que não haja veto para que projetos, como o da anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro, entrem na pauta do plenário. O PL reúne o segundo maior número de integrantes, com 14 senadores.
— Vamos apoiar Davi Alcolumbre. Acreditamos que essa decisão fortalece a candidatura, e esse posicionamento é estrategicamente importante — anunciou o líder da oposição, Rogério Marinho (PL-RN), na semana passada.
Na véspera do anúncio, Bolsonaro, Marinho e os senadores Marcos Rogério (PL-RO), Carlos Portinho (PL-RJ) e Wellington Fagundes (PL-MT) haviam se reunido com o parlamentar do Amapá. Apesar de o senador Marcos Pontes (PL-SP) ter se lançado candidato, colegas da bancada consideraram o movimento isolado.
Em entrevista ao Globo, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que o apoio do PL passou pelo compromisso de colocar em votação a anistia aos presos de 8 de janeiro. O tema está em discussão na Câmara e vem enfrentando resistência do governo Lula. Se o projeto for aprovado pelos deputados, o plano é garantir que a proposta siga o mesmo caminho no Senado.
— O caminho é seguir com ele, porque ele está tratando dessa forma: vai respeitar a proporcionalidade e entende a importância da anistia — disse Flávio na ocasião.
Outros apoios
PP, PSB e PDT, além do próprio União Brasil, sigla de Alcolumbre, também já embarcaram na candidatura. Para o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP e ex-ministro de Bolsonaro, Alcolumbre tem “independência e preparo par fazer uma grande gestão”. Ele foi eleito pela primeira vez ao Senado em 2019 e, na época, contou com o apoio de bolsonaristas para derrotar Renan Calheiros, que tentava comandar a Casa pela quarta vez.
O senador chegou a fazer uma consulta ao Supremo Tribunal Federal (STF) em 2020 para disputar a reeleição no cargo, mas a maioria da Corte rejeitou. A Constituição Federal impede as reeleições dos presidentes da Câmara e do Senado em uma mesma legislatura.
Assim, Alcolumbre lançou o nome de Pacheco como seu sucessor, também com o apoio tanto de petistas quanto de Bolsonaro, que comandava o Palácio do Planalto na ocasião. Com a eleição de Lula, o senador do Amapá se aproximou do petista ainda durante o período de transição. Foi dele a indicação do ministro da Integração Nacional, Waldez Góes.