OPINIÃO

Como podemos redefinir o futuro do Brasil com Inovação Social?

Recentemente, assisti à participação do prefeito do Recife, João Campos, no programa Roda Viva da TV Cultura. Uma conversa, que assisti duas vezes, fez eu refletir em relação ao trabalho que fazemos e o futuro que podemos construir. No Nordeste, e em Pernambuco em particular, enfrentei a realidade da pobreza e da desigualdade social, e isto moldou a minha visão a respeito do trabalho de transformação realizado. 

Nós, brasileiros, temos um modelo de transferência de renda, que, sem dúvida, desempenha um papel para os que não têm como gerar renda. Um grupo de pessoas que precisam de políticas públicas robustas para sobreviver, por conta de idade, saúde ou situação. Mas o que dizer dos milhões de pessoas que têm o potencial de sair dessa situação? É para esse grupo que precisamos de outro modelo de desenvolvimento social, que vá além da assistência simples. 

O custo do Bolsa Família, hoje, em torno de R$ 480 bilhões, poderia ser considerado um investimento e não exatamente uma despesa pública. Um investimento que, aplicado de forma inteligente, irá gerar mais oportunidades e mudar vidas de modo rigoroso. O que fizemos no Recife é exemplo disso. 

Nos últimos 30 dias, percorri o sertão nordestino e visitei grandes centros econômicos do país. A narrativa foi consistente: falta de qualificação e resistência à transição de programas de assistência para iniciativas de geração de renda. A proposta não fecha, e é aqui que a Rede Muda Mundo entra com soluções inovadoras.

Através do setor 2,5 e do terceiro setor, estamos implementando projetos que mostram resultados reais. No  Recife, com o apoio da prefeitura, iniciamos a Casa Zero em Bom Jesus e depois expandimos para o bairro da Várzea, na Zona Oeste. Esses espaços se tornaram centros de transformação para comunidades inteiras. Pessoas que antes dependiam do Bolsa Família agora triplicam sua renda, ganham dignidade, autoestima e, acima de tudo, esperança.

Essas histórias de sucesso não são isoladas. Elas se repetem em programas focados em economia criativa, formação profissional e empreendedorismo comunitário. Mulheres que lideraram suas perspectivas sem perspectivas agora colaboram em projetos que multiplicam suas rendas e ampliam suas visões de futuro.

O desafio, claro, é escalar esse modelo. É aqui que entra a parceria com o setor produtivo e a iniciativa privada. Empresas como Rio Ave, Iquine, Masterboi, Neoenergia, Accenture, ASA, Baterias Moura, Caribé Advogados, Grupo Cornélio Brennand, Grupo Parvi, Ícone da Visão, Interne Soluções & Saúde, Karne e Keijo, M. Dias Branco, Nagem, Shineray do Brasil e Urbano Vitalino Advogados estão fazendo parte dessa revolução silenciosa. O impacto é tão significativo que o prefeito João Campos está expandindo o projeto para 14 pontos públicos em Recife. 

Nosso objetivo é replicar esse modelo em outras partes do país. A Rede Muda Mundo, com suas sete mil organizações sociais espalhadas pelo Brasil, está pronta para conectar programas a ONGs nas periferias, cidades ribeirinhas da Amazônia, e equipamentos públicos. A ideia é construir parcerias com igrejas, empresas, câmaras de comércio e federações, para identificar e explorar as vocações de cada território, preparando uma mão de obra local.

O futuro requer inovação. Não podemos continuar dando as mesmas respostas de 20 anos atrás. Em um mundo pós-pandemia, precisamos de soluções rápidas e eficazes. Não é mais uma questão de direita ou esquerda, mas de despolarização e de enxergar cada brasileiro como uma potência.

Com uma abordagem estruturada, baseada em evidências, podemos transformar o Brasil nos próximos 10 anos. Já temos estudos e projetos-piloto com indicadores claros que mostram o que é possível. A hora de agir é agora, para não perdermos as oportunidades que o futuro oferece.

------------------------------------------------------------

*CEO da Rede Muda Mundo

Os artigos publicados nesta seção não refletem necessariamente a opinião do jornal. Os textos para este espaço devem ser enviados para o e-mail cartas@folhape.com.br e passam por uma curadoria para possível publicação.