Com milhões de seguidores, médico que foi cotado como ministro de Bolsonaro mira governo estadual
Conversas mais avançadas de Marsili, simpatizante das ideias do universo bolsonarista, são com o Avante
Com mais de 2 milhões de seguidores no Instagram, rede na qual dá dicas sobre capacitação profissional e prega lições de vida, o médico e influenciador Italo Marsili tenta se cacifar para concorrer ao governo do Rio em 2026. Seria uma espécie de “Marçal fluminense”, como já foi batizado por quem acompanha as movimentações do psiquiatra, em referência ao ex-coach Pablo Marçal (PRTB), que disputou a prefeitura de São Paulo este ano.
As conversas mais avançadas de Marsili são com o Avante, partido pequeno que, na eleição municipal carioca, integrou a coligação do prefeito Eduardo Paes (PSD), um provável adversário caso encare a empreitada estadual.
Simpatizante de ideias do universo bolsonarista, sobretudo do ideólogo de direita Olavo de Carvalho, que morreu em 2022, Marsili foi cotado para assumir o Ministério da Saúde em 2020, quando Nelson Teich deixou a pasta em meio à crise sobre a condução da pandemia de Covid-19.
Na época, o médico chegou a ir a Brasília para fazer campanha e contava com a simpatia dos filhos do então presidente Jair Bolsonaro (PL). No Instagram, pediu aos seguidores para “encher a caixa (de e-mail) dos parlamentares”. Comparou Bolsonaro a Jesus Cristo.
Entre os cursos que lista como “formação complementar” no currículo Lattes, o psiquiatra inclui o Método Filosófico, de Olavo, com 80 horas cursadas em 2008.
Certificação
Recentemente, as publicações do influenciador têm sido mais voltadas para a venda da Certificação Italo Marsili, que promete aulas de marketing digital, vendas, precificação, tráfego de redes e produção de conteúdo, por exemplo, “Todos vão ter ganho em aprender a lidar com seres humanos”, garante.
Outros vídeos versam sobre a importância da “tradição”, ideia muito presente no ideário olavista, o sentido do trabalho e a “chave do casamento maduro”. Marsili, inclusive, tem sete filhos com a mesma mulher — que está grávida do oitavo. No trecho de uma palestra que compartilhou, avalia que o homem nasceu para ser fiel e “frustra” sua missão quando não o é.
Apesar das semelhanças com Marçal, como os valores e a forma de influenciar seguidores por meio de “cortes” de vídeos, Marsili disse a interlocutores que, caso de fato concorra, vai ter atuação “bem diferente”. Também não se classifica como coach.
A despeito da aproximação com o governo Bolsonaro há quatro anos, o médico não tem manifestado grandes predileções ideológicas nos últimos tempos. Em maio, no entanto, ele engrossou o coro contra o Supremo Tribunal Federal (STF) quando o ministro Alexandre de Moraes autorizou a chamada assistolia fetal em casos de estupro. A prática é preparatória ao aborto, e o Conselho Federal de Medicina (CFM) tinha uma norma proibindo o procedimento — chamado por eles de “feticídio”.
Voto feminino
Durante uma entrevista em 2020, o médico desmereceu o voto feminino e associou as mulheres ao que chamou de “crise na regência do Estado”.
“Na única democracia no mundo que funcionou, que foi a democracia grega, não estava previsto o voto feminino, ok? O fato observável é que quando o voto passa a ser pleno, ou seja, as mulheres e todo mundo podem votar, a gente vê que tem uma crise na regência do Estado. Porque é óbvio, é muito fácil você convencer uma mulher de votar. É só você seduzi-la”, disse ao canal Brasil Paralelo.
Assim como Marçal, Marsili recorre a lições de História para provar seus pontos. O sotaque destoa: sai o de Goiás do candidato à prefeitura de São Paulo e entra um carioquês puxado, seja na pronúncia em si ou na informalidade, não raro apimentada com palavrões.
“Esse é o tempo da vida, porra. Não dá pra perder tempo com ciúme, inveja, maledicência, fofoca. Tem que olhar pra porra do que você tem que fazer”, diz em um corte compartilhado.
Marsili é médico formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e fundou a Faculdade Mar Atlântico. Entre os cursos de pós-graduação online oferecidos no site da instituição, há um de Direito Tributário que conta com grandes nomes do Judiciário, como os ministros Luiz Fux e André Mendonça, do STF, além do ex-ministro Marco Aurélio Mello.