Premier da Holanda classifica ataque a torcedores israelenses como antissemita
Fãs do Maccabi Tel Aviv disseram ter sido atacados com armas brancas e que agressores, em alguns casos, tentaram confirmar que eles eram israelenses: 'pediram meu passaporte'
À medida que torcedores do Maccabi Tel Aviv relatam as agressões sofridas em Amsterdã, após uma partida da Liga Europa disputada na capital holandesa na quinta-feira, autoridades de Israel e da Europa classificaram os ataques como "antissemitismo", citando o caso como um pogrom contra o povo judeu — dois dias antes do aniversário de 86 anos da Noite dos Cristais, um dos eventos mais simbólicos do Holocausto.
— Estou profundamente envergonhado de que isto tenha acontecido na Holanda em 2024 — disse o premier da Holanda, Dick Schoof, ao conversar com jornalistas em um encontro de líderes europeus em Budapeste. — Não vamos tolerar isso.
O rei da Holanda, Willem-Alexander, disse-se chocado com a violência sofrida pelos judeus em uma ligação ao presidente de Israel, Isaac Herzog. O monarca afirmou que o país europeu não vai "fechar os olhos para o comportamento antissemita em nossas ruas".
— [A História] nos ensinou como a intimidação vai de mal a pior, com consequências horríveis — disse Willem-Alexander. — Os judeus devem se sentir seguros na Holanda, em todos os lugares e em todos os momentos. Colocamos nossos braços em volta deles e não os deixaremos [sós].
O próprio Herzog havia se manifestado publicamente antes da ligação. O presidente classificou as cenas gravadas e publicadas nas redes sociais como "chocantes", chamando as agressões de um "pogrom" — termo associado à perseguição ao povo judeu, muito utilizado para se referir à onda de hostilidade do início do Holocausto —, e disse ser uma reminiscência do ataque terrorista lançado pelo Hamas contra Israel no ano passado.
"Vemos com horror as imagens e vídeos chocantes desta manhã, que desde 7 de outubro, nós esperávamos nunca mais ver novamente: um pogrom antissemita sendo realizado contra torcedores do Maccabi Tel Aviv e cidadãos israelenses no coração de Amsterdã, na Holanda", escreveu Herzog no X.
Outros líderes europeus e israelenses também relacionaram os ataques da noite e madrugada aos pogroms e ao antissemitismo. O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que a violência "relembra as horas mais sombrias da história", enquanto a presidente da União Europeia, Ursula von der Leyen, disse estar "indignada com os ataques vis" em Amsterdã, e afirmou que "o antissemitismo não tem lugar na Europa".
'Pediram o meu passaporte'
Torcedores do Maccabi Tel Aviv foram agredidos no centro de Amsterdã entre a noite de quinta-feira e a madrugada desta sexta-feira, após a derrota da equipe por 5 a 0. Cenas gravadas nas ruas da cidade mostram torcedores sendo perseguidos e agredidos com socos e chutes, inclusive após caírem no chão. As agressões foram precedidas na quarta-feira, segundo o chefe da polícia local, Peter Holla, por um ataque de torcedores do Maccabi a um táxi, que também atearam fogo a uma bandeira palestina. A isso se seguiram confusões menores na manhã de quinta, antes da partida, disputada à tarde.
Adi Reuben, um torcedor do Maccabi de 24 anos, relatou à rede britânica BBC ter tido o nariz quebrado após ser atacado por 10 pessoas. De acordo com o israelense, ele foi abordado pelo grupo ao sair de uma estação de metrô, e tentou fugir correndo quando os homens teriam apontado e gritado para ele: "judeu, judeu, FDI, FDI (em referência as Forças Armadas de Israel)".
Um outro torcedor ouvido pela publicação do Reino Unido afirmou que tentou fingir ser grego para fugir das agressões, mas não conseguiu convencer os agressores, que exigiram ver o seu passaporte antes de atingi-lo no rosto e espancá-lo depois de ter desmaiado.
— Nós enfrentamos cerca de 20 pessoas que correram em nossa direção. Eles me perguntaram de onde eu era, e eu disse que era da Grécia. Eles disseram que não acreditaram em mim e pediram para ver meu passaporte. Eu disse que não tinha meu passaporte e então eles me bateram e me jogaram no chão e começaram a chutar meu rosto — disse Gal Binyanmin Tshuva, de 29 anos.
Ele foi arrastado por amigos até um local seguro dentro de um cassino da cidade, e acordou apenas quando estava dentro de uma ambulância, com o rosto repleto de sangue.
Cidadãos holandeses disseram ter abrigado torcedores israelenses durante os ataques, que a polícia de Amsterdã disse ter tido a participação de homens em moto, que dirigiam pelo centro para localizar os alvos, e utilizaram um método de "bater e correr", dificultando a ação da polícia. Sessenta e duas pessoas foram detidas e serão investigadas. Dez permanecem sob custódia.
Atos planejados?
A prefeita de Amsterdã, Femke Halsema, presidiu uma coletiva de imprensa com autoridades policiais e jurídicas na manhã desta sexta, na qual classificou os eventos como "uma noite negra e uma manhã obscura". Halsema afirmou que autoridades antiterrorismo foram consultadas antes da realização da partida, e disseram não ter nenhum indício de que ações hostis contra os israelenses estava programada. Havia preocupação pela proximidade com a data da Noite dos Cristais, e o atual conflito em Gaza.
O chefe de polícia disse que os atos de violência duraram aproximadamente 36 horas, citando que ainda na quarta-feira, um grupo de torcedores do Maccabi teriam atacado um táxi e queimado uma bandeira palestina, com outros tumultos registrados na quinta-feira. O policial ainda disse que um contingente de 800 policiais foi deslocado para reforçar a segurança nos arredores do estádio.
Israelenses ouvidos por um jornalista do Jerusalem Post disseram que acreditavam que o ataque havia sido planejado antecipadamente, com alguns tendo dito ter sido perseguidos por pessoas com facas — a polícia confirma que houve ocorrências com armas brancas e fogos de artifício. Também criticaram que só houve algum tipo de escolta na saída do estádio até o embarque no metrô.
— Nós fomos emboscados... a polícia daqui nos abandonou — disse um torcedor ouvido pela publicação, sem ser identificado.
Autoridades israelenses também sugeriram que o ataque se trataria de algo planejado. O ex-premier de Israel, Naftali Bennett, disse que o caso parecia ser um "pogrom planejado e organizado em Amsterdã".
Em um comunicado, o gabinete do premier israelense, Benjamin Netanyahu, disse que ele responder a uma manifestação do primeiro-ministro holandês que "vê o ataque antissemita premeditado contra cidadãos israelenses com a maior seriedade e solicitou maior segurança para a comunidade judaica na Holanda". (Com NYT e AFP)