G20 BRASIL

Aliança Contra Fome é resultado concreto e une esforços internacionais, diz secretário do MRE

"A prioridade que tem um efeito mais prático e imediato é a prioridade de combate à fome e a pobreza. Então nós temos resultados muito concretos", afirmou Lyrio

Secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Mauricio Lyrio - Agência Brasil

A instituição da Aliança Global Contra a Fome é um resultado "muito concreto" da presidência brasileira do G20. Eventuais trocas de governos em países participantes, como nos Estados Unidos, não comprometem a iniciativa, por ser uma mobilização de esforços internacionais, sem dependência de nenhum país específico.

Além disso, o combate à fome mundial é de interesse de todos, estando acima de "divergências geopolíticas ou situações específicas de um país". A avaliação é do embaixador Maurício Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores (MRE).

"A prioridade que tem um efeito mais prático e imediato é a prioridade de combate à fome e a pobreza. Então nós temos resultados muito concretos", afirmou Lyrio, chanceler brasileiro no G20, em declaração a jornalistas após participar da conferência do T20, grupo de representantes de think tanks dos países do G20, no Rio de Janeiro.

Lyrio lembrou que houve aprovação, durante as discussões do G20, da criação do secretariado da Aliança, que funcionará de 2025 a 2026 na Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em Roma, na Itália, com preenchimento de funções via um processo de seleção.

Segundo ele, a estrutura de secretaria permitirá o acompanhamento dos resultados práticos da Aliança Global contra a Fome.

"Além de um chamado de mobilização da vontade política de países, é preciso ter uma estrutura que efetivamente acompanhe os resultados", disse ele.

"A criação é durante a presidência brasileira, mas a aliança vai além do G20, não só porque os maiores beneficiários serão países de fora do G20, como também o fato de que ela tem o horizonte de atuação que é até 2030. Por que 2030? Porque em 2030 nós fazemos a avaliação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os ODS (da ONU), em que nós temos, entre outros objetivos, se eu não me engano o ODS 1 é a eliminação da fome. Então será um momento para fazer uma avaliação. Esperamos que a aliança ajude a fazer progresso nesse campo, porque é absolutamente fundamental", defendeu.

Fruto de uma "lista muito robusta" de parceiros, a iniciativa independente da adesão ou abandono de algum eventual país, respondeu Lyrio, ao ser questionado sobre uma eventual mudança de postura dos Estados Unidos nas negociações do grupo de maiores economias do mundo, a partir da posse de Donald Trump como presidente americano em substituição a Joe Biden.

"É lógico, quanto maior o engajamento, o entusiasmo, o apoio de todas as naturezas político e financeiro à aliança pelo maior número de países, ótimo. Mas a aliança não é dependente de nenhum país. Isso é muito importante. A aliança é uma iniciativa internacional que congregará muitos países, organizações internacionais, bancos multilaterais de desenvolvimento e instituições filantrópicas. Então, felizmente, a aliança não depende de nenhum país para funcionar, porque é uma mobilização de esforços internacionais", afirmou o chanceler brasileiro.

Lyrio lembrou que a iniciativa tem o amparo, por exemplo, do Banco Mundial, o que permitiria a destinação de recursos de um fundo de centenas de bilhões de dólares também para os programas da Aliança contra a Fome.

"Esse início é muito positivo, porque já faz com que as instituições dos países se engajem nisso. Independentemente do grau de engajamento, mas esperamos contar com todos, porque sabemos que todos os países têm interesse na superação da fome no mundo. Então isso vai além, eu diria, de divergências geopolíticas ou situações específicas de um país ou outro", declarou Lyrio.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará o lançamento oficial da Aliança Global contra a Fome durante a reunião de cúpula do G20, que ocorre nos dias 18 e 19 de novembro, no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro.

"Eu não quero antecipar porque o presidente vai anunciar, mas nós teremos uma lista muito robusta de parceiros da aliança, entre países do G20, países de fora do G20, organizações internacionais e fundações privadas. Então nós estamos felizes com o fato de que a adesão tem sido muito significativa".

A presidência brasileira no G20 já tinha conquistado, até a manhã desta segunda-feira, 11, a adesão de 31 países à Aliança Global Contra a Fome. Mais 27 já submeteram documentos, atualmente em processo de revisão pela presidência brasileira, e outros 50 países manifestaram interesse em firmar o compromisso, informou Fabio Veras, diretor de Estudos Internacionais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Na adesão, os países não apenas assumem o comprometimento com a aliança, como também dizem como contribuirão para seus objetivos.

"Trinta e um países já finalizaram esse processo, eles já submeteram, já foi aprovado. E 27 países já submeteram esses documentos, que estão sob revisão da presidência brasileira, e vai ser devolvido com comentários ou ratificado, endossado imediatamente", explicou Veras.

"Além desse 58, há outros 50 que já manifestaram o interesse, mas ainda não submeteram. Então mais de 100 países estão de alguma forma dialogando com a aliança para fazer parte dela."

A Aliança Global Contra a Fome foi uma das principais bandeiras defendidas pela presidência brasileira do G20. Segundo Veras, entre os países com adesão já aprovada, além do Brasil, estão Estados Unidos, China, Egito, Japão, Alemanha, Angola, África do Sul, Bangladesh, Reino Unido, Portugal, Ruanda, Espanha e Irlanda.