Férias, datas Fifa, intertemporada: o que possível novo calendário pode mudar no futebol brasileiro
Visando adaptação ao Mundial de Clubes, CBF acena com Brasileirão e estaduais começando mais cedo
Uma temporada diferente, com o novo Mundial de Clubes pretendido pela Fifa para o meio do ano, promete alterar profundamente o calendário do futebol brasileiro em 2025. A CBF trabalha com a ideia de mexer nas datas dos Estaduais e do Campeonato Brasileiro para adequar a disputa da competição internacional à temporada.
A proposta, já apresentada aos clubes, é iniciar os torneios locais entre o fim da primeira e a segunda semana de janeiro, com o Brasileirão começando no fim de março e terminando no dia 21 de dezembro, e pausa para o Mundial de Clubes e para as Datas Fifa.
O intuito é acabar com uma queixa antiga dos clubes, que ficam sem contar com seus jogadores em períodos da competição nacional — este ano, times como Flamengo, Palmeiras e Atlético-MG tiveram que jogar com diversos desfalques durante a Copa América.
"A CBF vai fazer um calendário avançado. Ainda não é o ideal, mas é um passo grande dado. Estamos ouvindo federações e clubes. Não se faz omelete sem quebrar os ovos. Cada um tem que dar sua parte", afirmou Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, após a final da Copa do Brasil.
Os apontamentos têm a ver com as consequências que a proposta pode trazer. Entre elas, o tempo curto para a pré-temporada (sem afetar os times escalados nos Estaduais) e a divisão nas férias dos atletas (citada pelo próprio Ednaldo), que voltarão às atividades mais cedo. Com a paralisação, o Mundial viraria uma “solução” para férias ou intertemporada para os clubes que não estarão envolvidos na disputa. Vale lembrar que Flamengo, Fluminense e Palmeiras são os brasileiros classificados. No próximo dia 30, Atlético-MG e Botafogo disputam a última vaga da Conmebol, destinada ao campeão da Libertadores.
Entre as federações estaduais, que também opinam nas mudanças, a opção é por aguardar a oficialização da proposta de calendário para futuras ponderações. Há também a previsão de um arbitral ainda este ano.
No momento, só a Federação Paulista de Futebol (FPF), por meio de seu presidente Reinaldo Carneiro Bastos, se posicionou publicamente contra a ideia da CBF.
"Eu não analiso para o futebol paulista. É ruim para o futebol brasileiro, eu penso no conjunto da obra. Não há nenhuma possibilidade de ter sucesso começando a competição no dia 8 de janeiro e colocando na minha cabeça que tem dez dias de pré-temporada. O jogador se apresenta no dia 28 de dezembro. Querer me convencer que os atletas já não planejaram suas férias com suas famílias, não compraram passagens, reservaram hotel para o Réveillon. E a gente, em novembro, vai dizer para o mundo do futebol que é muito legal a temporada começar no dia 8 de janeiro", criticou o dirigente em entrevista na última sexta-feira.
Bastos deve se manifestar novamente hoje, após o conselho técnico do Paulistão.
Em setembro, a Conmebol já havia anunciado as datas das suas competições em 2025. A fase de grupos da Libertadores acontecerá entre 2 de abril e 28 de maio, antes do início do Mundial. A decisão será dia 29 de novembro, pouco menos de um mês antes do fim proposto para o Brasileiro.
Férias divididas
A divisão nas férias dos atletas também é um tema que deve virar pauta conforme a proposta de calendário avança. Em contato com o GLOBO, a Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf) afirmou que ainda não recebeu comunicados oficiais, mas defendeu que “as férias são fundamentais para o descanso adequado e proteção à integridade do atleta”.
A entidade entende a possibilidade de divisão do período de férias como uma mudança contratual e defende que os atletas devem ser ouvidos quanto a isso. Também enviou um ofício à CBF sobre o assunto e aguarda resposta.
A temporada terá cinco Datas Fifa, uma delas dias antes da data prevista para o início do Brasileirão e outra próxima do Mundial de Clubes. A tendência é que atletas “selecionáveis” que também disputarão a competição da Fifa sejam altamente exigidos. Casos como os de Jhon Arias (Fluminense), De La Cruz, Pulgar, Arrascaeta e Gerson (Flamengo), e Gustavo Gómez e Richard Ríos (Palmeiras).
O Mundial também vem sendo alvo de críticas entre clubes europeus justamente por conta do aumento do número de jogos aos quais os atletas estarão expostos. Em julho, La Liga e Premier League se juntaram a sindicatos de atletas em ações contra o calendário da Fifa por conta da adição do novo torneio.