IA, saúde, transição energética, streaming: veja quais são os 18 setores da economia que mais cresce
Estudo da McKinsey projeta áreas que vão faturar a quase R$ 300 trilhões em 25 anos e aumentar sua participação no PIB global em até 12%
Dezoito setores da indústria têm potencial de remodelar a economia global, podendo gerar até US$ 48 trilhões (cerca de R$ 276 trilhões) em receitas em 25 anos, de acordo com um relatório divulgado em outubro pela consultoria americana McKinsey.
A maior parte das "próximas grandes arenas competitivas", como define o estudo, são ligadas ao mundo digital, como serviços de Inteligência Artificial (IA), à transição energética e à saúde. O avanço dos países nessas áreas poderá exigir novos perfis de profissionais.
As atividades mapeadas, que atualmente representam 4% do Produto Interno Bruto (PIB) global, têm o potencial de aumentar sua participação para até 16% em 2040.
O estudo classificou essas "arenas" como setores da indústria definidos pelo seu alto dinamismo e crescimento acelerado, além de contribuírem significativamente para o crescimento da economia dos países.
A pesquisa se baseou em dados colhidos entre 2005 e 2020. Das 18 arenas mapeadas pela pesquisa, 12 atualmente revelaram um salto fora do comum nesse período, triplicando sua participação no PIB mundial de 3% para 9% no período. O e-commerce (comércio digital), a indústria biofarmacêutica, os carros elétricos e os serviços de computação em nuvem são alguns exemplos.
As 18 possíveis atividades do futuro que mais crescerão até 2040 são divididas em três categorias. Confira:
Setores atuais em evolução: São os setores que provavelmente continuarão se desenvolvendo e se transformando nas arenas do futuro. (E-commerce, veículos elétricos, serviços de nuvem e semicondutores)
Áreas derivadas: Subsegmentos das arenas já existentes, mas que têm o potencial de crescer rápido e se tornar novas áreas independentes. (Software e serviços de IA, anúncios digitais e streaming).
Segmentos emergentes: Áreas que não estão diretamente relacionadas às arenas que já existem, mas que já demonstram um grande potencial, apesar de ainda estarem em estágios iniciais de desenvolvimento. (Veículos autônomos compartilhados, tecnologia espacial, cibersegurança, baterias, vídeo games, robótica, biotecnologia, construção modular, usinas de energia nuclear por fissão e novas formas de mobilidade aérea).
O setor de compras e vendas on-line está se consolidando como uma das principais forças do mercado global. O relatório da McKinsey projeta que, em 25 anos, o segmento alcançará até US$ 20 trilhões (cerca de R$ 115 trilhões) em receitas, a maior estimativa entre as áreas.
Em 2022, o e-commerce representava 20% do mercado mundial de varejo de US$ 17 trilhões, um número que demonstra tanto o impacto do setor como o seu potencial de crescimento, de acordo com o estudo.
A pesquisa mostrou, ainda, que o e-commerce representou apenas 12% das vendas na América Latina, 4% no Oriente Médio e 2% na África, em 2022. No entanto, a previsão da empresa de consultoria americana é de que, até 2040, os números passem para até 29% na América Latina, 20% no Oriente Médio, e 15% na África, no cenário mais otimista.
Outro ponto de destaque nos números divulgados mostrou que sites de vendas de baixo custo, como Pinduoduo, Shein e Temu, marketplaces da China, também têm feito sucesso. Em 2023, só o chamado "comércio social" — que usa estratégia de vendas focadas em redes sociais, como WhatsApp e Instagram — na China gerou mais de US$ 24 bilhões em vendas, representando mais de 30% do total de e-commerce no país.
Software e serviços de IA
O investimento em IA para criação de chatbots que elaboram textos e imagens com base em dados, como o famoso ChatGPT, passou de US$ 5 bilhões, em 2022, para US$ 36 bilhões em 2023, com muitos negócios adotando a tecnologia. Para essa área, a pesquisa projeta faturamento de US$ 4,6 trilhões (cerca de R$ 26 trilhões) em 2040, no melhor dos cenários. No ano de 2022, ela era de US$ 85 bilhões.
Para se ter uma idéia, no início deste ano, o ChatGPT tinha mais tráfego na web do que gigantes como o serviço de streaming Netflix, a rede social Pinterest e Twitch, de acordo com uma pesquisa da FlexOS, publicada em fevereiro deste ano.
Medicamentos para obesidade
O relatório do Atlas de 2023 da Federação Mundial de Obesidade mostrou que a obesidade afetará cerca de 25% dos adultos em todo o mundo até 2035. O dado, de acordo com a McKinsey, aponta para uma crescente necessidade global de tratamentos eficazes. Em 2022, ainda segundo a empresa de consultoria, o setor de medicamentos para tratar a obesidade abocanhou US$ 24 bilhões da indústria.
No cenário mais otimista, a McKinsey idealiza que esse mercado pode chegar ao faturamento de US$ 280 bilhões (R$ 1,6 trilhões) em 25 anos, considerando que a área salte mais rápido até 2030, em que já ultrapassará os 100 bilhões.
Um exemplo da tendência crescente do setor é o Ozempic, fármaco que atua no tratamento da obesidade e no controle de peso e ganhou destaque nos últimos anos. A venda do medicamento, desenvolvido pela farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, alcançou US$ 24 bilhões somente em 2022, de acordo com dados da McKinsey.
Nova demanda profissional: aprender a aprender
Para além dos números, o relatório joga luz sobre quais serão os perfis de profissionais mais demandados, já que possivelmente estes serão remodelados para se adequar às atividades de maior crescimento econômico. Os segmentos podem exigir maior força de trabalho com pessoas formadas na área da ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, em inglês).
No entanto, Bob Sternfels, gerente de operações globais da McKinsey e presidente do conselho de administração da consultoria, pensa o contrário. Em entrevista ao Valor, Sternfels disse que o que é "relevante é a capacidade de continuar a aprender".
— A tecnologia está mudando rapidamente. Portanto, a necessidade de requalificar os trabalhadores está se tornando cada vez mais importante. O que isso isso significa é que as credenciais formais que você tem estão se tornando cada vez menos relevantes — disse ao Valor.
Veja as projeções da McKinsey para as outras áreas até 2040:
Serviços em nuvem - entre US$ 1,6 trilhão a US$ 3,4 trilhão em receitas e US$ 160 bilhões a US$ 510 bilhões em lucro.
Carros elétricos - entre US$ 2,5 trilhões a US$ 3,2 trilhões em receitas e US$ 100 bilhões a US$ 320 bilhões em lucro.
Anúncios digitais - entre US$ 2,1 trilhões a US$ 2,9 trilhões em receitas e US$ 320 bilhões a US$ 580 bilhões em lucro.
Semicondutores - entre US$ 1,7 trilhões a US$ 2,4 trilhões em receitas e US$ 340 bilhões a US$ 600 bilhões em lucro.
Veículos autônomos compartilhados - entre US$ 610 bilhões a US$ 2,3 trilhões em receitas e US$ 20 bilhões a US$ 460 bilhões em lucro.
Tecnologia espacial - entre US$ 960 bilhões a US$ 1,6 trilhões em receitas e US$ 50 bilhões a US$ 160 bilhões em lucro.
Cibersegurança - entre US$ 590 bilhões a US$ 1,2 trilhões em receitas e US$ 90 bilhões a US$ 240 bilhões em lucro.
Baterias - entre US$ 810 bilhões a US$ 1,1 trilhões em receitas e US$ 40 bilhões a US$ 110 bilhões em lucro.
Construção modular - entre US$ 540 bilhões a US$ 1,1 trilhões em receitas e US$ 20 bilhões a US$ 220 bilhões em lucro.
Streaming - entre US$ 510 bilhões a US$ 1 trilhão em receitas e US$ 50 bilhões a US$ 150 bilhões em lucro.
Vídeo games - entre US$ 550 bilhões a US$ 910 bilhões em receitas e US$ 80 bilhões a US$ 180 bilhões em lucro.
Robótica - entre US$ 190 bilhões a US$ 910 bilhões em receitas e US$ 20 bilhões a US$ 180 bilhões em lucro.
Biotecnologia - entre US$ 340 bilhões a US$ 900 bilhões em receitas e US$ 10 bilhões a US$ 270 bilhões em lucro.
Novas formas de mobilidade aérea - entre US$ 75 bilhões a US$ 340 bilhões em receitas e US$ 10 bilhões a US$ 70 bilhões em lucro.
Medicamentos para obesidade - entre US$ 120 bilhões a US$ 280 bilhões em receitas e US$ 30 bilhões a US$ 100 bilhões em lucro.
Usinas de fissão nuclear - entre US$ 65 bilhões a US$ 150 bilhões em receitas e US$ 5 bilhões a US$ 50 bilhões em lucro.