Preenchimento

O que é o PMMA, substância que causa reação no rosto de Maíra Cardi

Produto não é absorvido pelo organismo e pode causar efeitos graves anos depois da aplicação

Maíra Cardi busca ajuda médica para retirar PMMA do rosto - Reprodução/ TikTok

A influenciadora Maíra Cardi, de 41 anos, tem compartilhado nas redes sociais as tentativas de retirar a substância polimetilmetacrilato (PMMA) do rosto após ter feito um preenchimento com o produto na maçã do rosto e no bigode chinês há mais de 15 anos. Segundo Maíra, na época ela não sabia os verdadeiros riscos do PMMA.

Ela contou nas publicações que até para dormir sofre com um desconforto. Dependendo da posição em que se deita, seu rosto fica inchado quando acorda. Mas afinal, o que é o PMMA e quais suas indicações e riscos?

O PMMA, ou polimetilmetacrilato, é uma substância plástica, que portanto não é reabsorvível pelo organismo, que pode ser utilizada como um preenchedor em forma de gel. Ela é autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser usada com apenas duas finalidades: correção volumétrica de pequenas deformidades e em casos de lipodistrofia – uma perda de gordura que pode ocorrer em pessoas que vivem com HIV.

Logo, o PMMA não é indicado para aumento de volume estético e para grandes áreas do corpo por se tratar de um composto plástico e permanente. De forma mais profunda na pele, ele pode desencadear complicações graves, como infecções e a rejeição do corpo. Além disso, por não ser reabsorvível pelo organismo, o PMMA se adere a estruturas como músculos e ossos, o que torna a sua remoção quase impossível.

Em julho, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) emitiu um comunicado destacando a importância de um cuidado no uso do PMMA, já que os resultados podem ser “imprevisíveis e indesejáveis, incluindo reações incuráveis e persistentes”. “O uso da substância pode causar reações imediatas ou em curto prazo, como: edemas locais, processos inflamatórios, reações alérgicas e formação de granuloma; e tardias, muitos anos após a realização da injeção”, diz.

“É essencial ressaltar que o PMMA não é recomendado para fins estéticos generalizados por diversas entidades médicas”, continua. Ainda assim, a entidade reconhece que, para os casos indicados, como de pacientes que vivem com HIV e desenvolvem lipoatrofías, a substância “continua a ser uma ferramenta valiosa para o tratamento”.

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) também condena o seu uso em procedimentos estéticos, como o caso de Maíra. Em nota publicada em 2022, a entidade reiterou que o uso fora das orientações médicas – em pequenas deformidades e na lipodistrofia – “é extremamente perigoso”:

“Apesar do produto ser comercializado em nosso meio, o mesmo pode ocasionar complicações precoces e tardias de difícil resolução. Dentre as complicações podemos citar: nódulos, massas e processos inflamatórios e infecciosos ocasionando danos estéticos e funcionais desastrosos e irreversíveis. (...) De acordo com relatos nos trabalhos científicos, as complicações mais graves como necroses, cegueiras, embolias e óbitos apresentam maior frequência com este produto do que com os preenchedores absorvíveis”, alertou a sociedade.

Embora não exista um monitoramento consistente de casos de complicações associados ao PMMA no Brasil, um estudo publicado na Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, por pesquisadores do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), alertou para um aumento. Os responsáveis citaram um censo, de 2017, realizado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica – Regional São Paulo (SBCP-SP), que encontrou 17 mil registros em um ano pelo país.

"No Brasil, ainda há a falha na regulação e fiscalização pelos órgãos competentes de centros de medicina estética. Aliado a isso, apesar do esforço das entidades médicas, há excesso de propaganda falaciosa, agravado pela crescente exposição das mídias sociais. Isto tudo leva à desinformação da população em geral e à submissão de pacientes a procedimentos sem segurança" escreveram pesquisadores.