Mart'nália lança novo álbum cantando clássicos do pagode dos anos 1990
Com 12 faixas, "Pagode da Mart'nália" passeia por músicas de grupos como Só pra Contrariar, Molejo, Exaltasamba e outros; o álbum tem participações de Caetano Veloso, Martinho da Vila e Luísa Sonza
Foi devagar, devagarinho, como bem preconiza o pai Martinho, que Mart’nália se deixou convencer a gravar algo, até então, inédito para ela: pagode. Mais especificamente, o pagode dos anos 1990, cuja geração teve grande sucesso radiofônico, fonográfico e midiático.
Foi lançado, na última quarta (13), “Pagode da Mart’nália”, o 15º álbum da cantora carioca. No novo trabalho, ela canta – e, em certa medida, subverte – sucessos de bandas como Só pra Contrariar, Raça Negra, Molejo, Katinguelê, Exaltasamba, Grupo Raça, Soweto, Art Popular e Grupo Revelação.
Mart’nália e o pagode
Mart’nália nunca foi do pagode. Soa estranha essa afirmação, afinal, ela é filha de Martinho da Vila e cresceu em Vila Isabel, no Rio de Janeiro. Os interesses musicais dela sempre foram mais amplos do que o samba e suas vertentes.
Na bagagem musical dela há samba, mas, também, soul music, R&B, jazz. O canto rouco e carioquíssimo de Mart’nália tem uma fluidez e uma cadência que se embrenham por essas outras vertentes musicais.
O álbum
“Pagode da Mart’nália”, então, seria um desafio. A ideia do álbum veio da produtora Marcia Alvarez, que trabalha com Mart’nália há mais de 20 anos. “Ela sonhou que eu tava cantando pagode. Aí, ela falou: ‘porque tu não faz um disco de pagode?’ Eu disse: ‘Eu não consigo, mas, me convence aí’”, lembra Mart’nália.
Entram em cena Marcus Preto, que assina a direção artística junto a Marcia Alvarez, e Luiz Otávio, na produção musical e arranjos. A partir da seleção inicial de mais de 50 músicas, afunilaram para doze.
O trabalho de convencimento de Mart’nália a gravar as músicas girou em torno da transformação dos arranjos, que foram criados pensando na forma como ela canta, foram sendo moldados à voz e a cadência de Mart’nália. “As que caíssem mais facilmente para mim, para eu cantar sem muito esforço, porque eu não gosto de ter trabalho, não”, brinca.
Músicas
Em “Pagode da Mart’nália”, foram pinçadas canções de grupos como Só Pra Contrariar, que tem três canções no álbum: “Que se Chama Amor”, “Essa Tal Liberdade” e “Domingo”, que tem participação de Caetano Veloso.
Do Grupo Raça, “Eu e Ela” (Délcio Luiz/ Ronaldo Barcellos) e “O Teu Chamego”, que Mart’nália divide com o pai, com Martinho da Vila. Raça Negra está presente com “Cheia de Manias”, em um dueto com Luísa Sonza. Do Molejo, “Clínica Geral” (em homenagem a Anderson Leonardo).
Ainda há canções dos grupos Revelação (“Coração Radiante”), Katinguelê (“Recado à Minha Amada”), Exaltasamba (“Sem o Teu Calor”), Soweto (“Derê”) e Art Popular (“Sem Abuso”).
Algumas delas ganharam versões surpreendentemente diferentes das originais, como “Essa Tal Liberdade”, em que Mart’nália canta acompanhada apenas do piano de Luiz Otávio, em uma interpretação completamente nova e original.
“O que a pessoa compõe, faz, é genuíno. Só que a música é de todo mundo. Quando você recebe a música, ela passa a ser sua. Cada um sente de um jeito, leva para um lado mais pessoal”, diz Mart’nália.
Sobre o fato de gravar pagodes estouradíssimos à época: “Como é que você muda um sucesso?”, indaga Mart’nália. “No meu caso, gravar esse disco foi para ampliar o meu horizonte e o horizonte de quem me ouve”, considera a cantora.