PF investiga ataque fracassado ao STF como 'ato terrorista'
O autor do ataque havia chegado à capital meses antes de realizar o ataque
A Polícia Federal investiga como "ato terrorista" o ataque fracassado de ontem em frente à sede do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, e com "possíveis conexões" com os ataques de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro em 8 de janeiro de 2023.
O corpo do autor do ataque foi retirado na manhã desta quinta-feira (14) da Praça dos Três Poderes. Sua ação não deixou vítimas.
A polícia identificou o autor como Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, que foi candidato a vereador pelo Partido Liberal (PL) do ex-presidente Jair Bolsonaro nas eleições municipais de 2020.
O ataque ocorreu antes de o Brasil sediar a reunião de cúpula dos líderes do G20 no Rio de Janeiro, na próxima semana, e de uma visita de Estado do presidente chinês, Xi Jinping, a Brasília.
O ataque ocorreu menos de dois anos depois de uma insurreição contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no mesmo local. Ele recebeu hoje embaixadores no Planalto, que entraram por um acesso lateral, em vez da rampa principal, observou um fotógrafo da AFP.
O vice-presidente Geraldo Alckmin, em Baku para a Conferência do Clima da ONU (COP29), disse nesta quinta que o ataque foi "triste e grave".
O ex-presidente Jair Bolsonaro também reagiu nesta quinta-feira e fez um apelo ao diálogo e à "pacificação nacional".
"Apelo a todas as correntes políticas e aos líderes das instituições nacionais para que, neste momento de tragédia, deem os passos necessários para avançar na pacificação nacional", escreveu Bolsonaro na rede social X.
A sede do STF foi cercada hoje, o que não acontecia desde fevereiro, informou o presidente do tribunal, ministro Luis Roberto Barroso.
“Onde foi que nós perdemos a luz da nossa alma afetuosa, alegre e fraterna para a escuridão do ódio, da agressividade e da violência?", refletiu, durante sessão do tribunal.
A Polícia Federal informou hoje que investiga o ataque frustrado como ato terrorista e tentativa de "abolição violenta do Estado Democrático de Direito", disse o diretor da corporação, Andrei Rodrigues. "Não é um fato isolado", afirmou Rodrigues em coletiva de imprensa.
O chefe da PF também declarou que há indícios de um "planejamento de longo prazo" e possíveis "conexões" com os episódios de 8 de janeiro de 2023.
- Segundos de terror -
As duas explosões ocorreram em um curto intervalo. Primeiro, um veículo explodiu em um estacionamento próximo ao prédio da Câmara dos Deputados.
Depois, "o cidadão se apresentou no Supremo, onde tentou entrar no prédio, não conseguiu entrar e teve a explosão", disse a governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão (PP), em entrevista coletiva.
Em vídeo das câmeras de segurança obtido pela AFP, é possível ver que o autor do ataque lançou da esplanada artefatos explosivos em direção à sede do STF, enquanto dois seguranças tentavam abordá-lo. Em seguida, deitou-se e detonou outro explosivo.
Segundo a polícia, o carro que explodiu antes pertencia a Wanderley. "O indivíduo saiu correndo do interior do veículo", onde havia "uma espécie de bomba, vários explosivos fracionados, amarrados com tijolos", detalhou o sargento Rodrigo Santos.
- Fabricação artesanal -
O autor do ataque havia chegado à capital meses antes de realizar o ataque na quarta-feira e alugado uma casa e um trailer, onde foram encontrados mais explosivos de fabricação artesanal.
Também foi encontrado na residência um bilhete alusivo aos eventos de 8 de janeiro de 2023.
A polícia determinou que o autor do ataque esteve em Brasília naquela data, e investiga se ele participou da insurreição.
O ministro do STF Alexandre de Moraes, responsável pela investigação do 8 de Janeiro e chamado de "ditador" por Bolsonaro, assumiu a investigação do ataque de ontem.
Moraes manteve a rede social X, do magnata Elon Musk, suspensa temporariamente no país neste ano, em resposta à recusa da plataforma em cumprir ordens judiciais contra a desinformação.
"As autoridades públicas, aqueles que defendem a democracia, devem se unir exatamente para que haja responsabilização, para que haja uma regulamentação das redes sociais", disse hoje o ministro. "Não é possível mais esse envenenamento constante" nas plataformas, acrescentou, ao se referir ao "pior ataque" contra o STF desde 8 de janeiro de 2023.