Cuidados com silicone reforçados

Silicone: risco e prevenção ao câncer. Essa é a temática da última reportagem do Outubro Rosa

Fernando Filho (PSB) - Divulgação

 

As próteses são uma das preferências nacionais em cirurgias plásticas, mas será que elas podem trazer algum mal à saúde dos seios? A partir da próxima terça-feira, ainda dentro da campanha “De mãos dadas pela vida”, a Folha de Pernambuco inicia a série de reportagens do Novembro Azul com abordagens da saúde masculina.  

O Brasil é o segundo país do mundo em cirurgias plásticas. Somente em 2015 foram 1,22 milhão de procedimentos, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética. Depois da lipoaspiração, a prótese de silicone é a mais concorrida das operações com 158,9 mil intervenções no ano passado. Nesse cenário, onde cada dia mais mulheres buscam uma aparência cada vez mais perfeita das mamas, não se pode descuidar também da saúde. As próteses de 3ª geração trazem mais segurança e comodidade às pacientes, mas é preciso que elas fiquem atentas aos exames de rotina na prevenção de tumores, que podem ser escondidos pelo material. O cuidado deve ser dado também às mulheres transexuais que, aliada à construção da mama, ainda tomam hormônios para transição de sexo.

“O silicone não causa câncer de mama. O que ele pode fazer é dificultar o diagnóstico por mamografia de algumas lesões que estejam bem posteriores na mama bem densa.

Mas não são em todos os casos”, comentou médica radiologista imagenologista mamária do Lucilo Maranhão Diagnósticos, Beatriz Maranhão. A densidade da mama está relacionada não à presença do silicone em si, mas outros fatores como idade ou características próprias da genética.

“Essa limitação da mamografia para mamas densas vale para quem tem ou não silicone. Para se ter ideia, em uma paciente com mama densa a mamografia sozinha vai detectar aproximadamente 48% dos casos de câncer de mama. Mas quando a gente associa outro método diagnóstico, como ultrassom ou ressonância, a gente sobe a sensibilidade para 98%”, explicou a especialista. 

É por isso que em algumas vezes, após a mamografia, o laudo indica exames complementares que possam dar clareza maior ao médico para um diagnóstico. No caso das siliconadas, os radiologistas fazem em média quatro imagens diferentes de cada mama, quando nas sem silicone a prática é duas por seio. A empresária Silvana Dutra, 44 anos, fez o implante há sete anos, mas há três anos, durante a mamografia, foi verificada uma imagem suspeita.

“Fiquei bem aperreada porque meu avô tinha morrido de câncer de mama, um caso bem raro. Pensei até no pior, mas depois que fiz um ultrassom e uma punção para complementar. Era um fibroma”, contou sobre o diagnóstico benigno. Os procedimentos de biopsia, assim como mamografias, não vão danificar ou estourar o silicone quando bem orientados.

A médica alertou que as mulheres trans também devem ficar atentas. Apesar de não haver pesquisa sobre a incidência de câncer de mama nesse público, assim como inexistir política nacional de rastreio, as pacientes têm riscos. Isso porque as trans femininas, além da colocação de silicone, fazem uso de terapia hormonal. “Quando a pessoa faz a reposição hormonal desenvolve o tecido glandular, o que chamamos de ginecomastia, que é o desenvolvimento de tecido glandular em homens. É uma condição benigna, mas pode predispor a algum tipo de alterações no futuro”, comentou Beatriz. 

Chopelly Santos, que está à frente da Associação Pernambucana de Travestis e Transexuais, comentou que a maioria das trans não sabe cuidar das mamas e não conhece nada sobre risco do câncer. O assunto não é nem abordado durante a cirurgia de construção dos seios, nem com a hormonioterapia. “Já há dificuldade e desconhecimento para as mulheres terem tratamento adequado e imagine para nós mulheres trans. Precisamos mudar isso”, disse.