GUERRA

EUA autorizam Ucrânia a usar mísseis de longo alcance contra a Rússia

Presidente Volodymyr Zelensky afirma que 'há danos' e que salva contou com cerca de 120 mísseis e 90 drones, dos quais 140 foram abatidos; autoridades falam em cinco mortos

Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden - Mandel Ngan/AFP

Os Estados Unidos autorizaram neste domingo a Ucrânia a utilizar mísseis de longo alcance de fabricação americana contra a Rússia, atendendo a um clamor antigo de Kiev que era alvo de ponderações pelo temor de uma implicação mais direta da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no conflito.

O pedido foi acatado após Moscou promover um ataque "maciço" contra a rede elétrica ucraniana, em meio à preocupação com o rigoroso inverno que chegará em breve no país.

O ataque, um dos maiores desde o início do conflito há mais de dois anos, deixou ao menos cinco mortos, provocou quedas de energia em várias regiões e, segundo o presidente Volodymyr Zelensky, destruiu metade da capacidade de produção de energia do país.

A ação, afirmou o mandatário, contou com cerca de 120 mísseis e 90 drones. Do total, ao menos 140 alvos foram abatidos.

"O alvo do inimigo era nossa infraestrutura de energia por toda a Ucrânia", afirmou Zelensky em um comunicado no Telegram, acrescentando: "Infelizmente, há danos a objetos por impactos e queda de destroços."

Mais cedo, o ministro da Energia ucraniano, German Galushchenko, disse no Telegram que "um ataque maciço ao nosso sistema de energia está em andamento" e que as forças russas estavam "atacando instalações de geração e transmissão de eletricidade em toda a Ucrânia".

Jornalistas da AFP ouviram explosões no início da manhã em Kiev e perto de Sloviansk, na região de Donetsk.

Fornecimento
A operadora de energia da Ucrânia, DTEK, anunciou cortes emergenciais de energia na região de Kiev e em duas regiões do leste. As autoridades da capital descreveram o ataque como o mais pesado dos últimos três meses, e seus moradores tiveram que buscar abrigo no metrô.

Além da capital, a DTEK também anunciou cortes nas regiões de Donetsk e Dnipropetrovsk, no leste, onde o Exército russo reivindicou ter capturado dezenas de aldeias nas últimas semanas.

A energia também foi cortada em partes da importante cidade portuária de Odesa, no sul do Mar Negro, segundo o prefeito. O aquecimento, fornecimento de água e eletricidade da região foram cortados, enquanto os hospitais estão funcionando com geradores, segundo a CNN.

Autoridades também alertaram que a infraestrutura essencial foi afetada nas regiões de Vinnytsia, Rivne, Volhynia e Zaporíjia.

Embora a extensão dos danos seja difícil de estimar no momento, a operadora de energia disse que este foi o oitavo grande ataque às suas estações de energia só neste ano. Suas usinas termelétricas e equipamentos, afirmou a DTEK, foram "severamente danificados".

Um ataque com drones em Mykolaiv matou pelo menos duas pessoas e feriu outras seis, incluindo duas crianças. Outras duas pessoas morreram em Odesa, em um ataque que também deixou um adolescente de 17 anos. Em Lviv, uma mulher morreu dentro de seu carro, disse o governador.

O ministro das Relações Exteriores ucraniano, Andriy Sybiga, classificou os ataques como "um dos maiores ataques aéreos" do conflito e uma "reposta real" da Rússia aos líderes ocidentais que tentaram se aproximar do presidente Vladimir Putin.

Kiev ficou irritada com o fato de o chanceler alemão Olaf Scholz ter feito uma ligação com Putin na sexta-feira, apesar das objeções da Ucrânia, no que foi a primeira conversa telefônica do líder russo com um importante líder ocidental em quase dois anos.

O ataque da noite para o dia levou a vizinha Polônia a lançar caças e mobilizar todas as forças disponíveis em resposta. Varsóvia coloca suas forças armadas em alerta sempre que os ataques contra o país vizinho são vistos como prováveis de criar um perigo para seu próprio território.

Inverno rigoroso
O rigoroso inverno ucraniano se aproxima rapidamente, e o país já está sofrendo com uma grande escassez de energia. Suas forças desguarnecidas e desarmadas vêm cedendo terreno às tropas do Kremlin há semanas.

Kiev implorou a seus aliados ocidentais por ajuda para reconstruir sua rede de energia — um empreendimento extremamente caro — e para fornecer mais armas de defesa aérea às suas forças desarmadas.

Mas muitos ucranianos temem que a ajuda ocidental não seja tão livremente concedida após o retorno de Donald Trump à Casa Branca.

A eleição do republicano lançou incertezas sobre o rumo na guerra na Ucrânia. O magnata, que nutre uma relação complexa com Putin, já fez diversas críticas aos pacotes de ajuda bilionários destinados é Kiev e, no início do ano, tentou convencer legisladores do seu partido a bloquear uma legislação defendida por Biden que incluía um robusto pacote de ajuda militar para a Ucrânia.

Trump fez campanha com a promessa de fechar um acordo rápido para acabar com a guerra, chegando a afirmar que poderia dar um fim ao conflito em até "24 horas". Mas a promessa é amplamente vista como uma forma de permitir que a Rússia mantenha o território que tomou desde que invadiu a Ucrânia.

Depois de descartar por muito tempo a perspectiva de negociações, Zelensky disse no sábado que queria pôr fim à guerra por "meios diplomáticos" no próximo ano.

No entanto, Kiev e o Kremlin continuam em desacordo sobre os termos de qualquer acordo de paz. Putin disse que só aceitará negociações com a Ucrânia se Kiev entregar o território ucraniano que Moscou parcialmente anexou, o que foi rejeitado pela Ucrânia.