Documentário

Cineasta transforma em documentário período em que governo o proibiu de deixar o Irã

Ali Asgari ficou oito meses sem poder sair de Teerã e teve seus pertences confiscados pelo regime; Filme será exibido no Festival de Amsterdã

Ali Asgari voltou a Teerã para descobrir que ficaria proibido de viajar por oito meses - Reprodução/Internet

Depois de exibir o filme "Crônicas do Irã" no Festival de Cannes em 2023, Ali Asgari voltou a Teerã para descobrir que ficaria proibido de viajar por oito meses, além de ter seus pertences pessoais confiscados pelo regime.

Esse período foi registrado pelo cineasta iraniano no documentário "Higher Than Acidic Clouds", que terá estreia mundial no Festival Internacional de Documentários de Amsterdã. que acontece até o dia 24 na capital holandesa.

Filmado em Teerã durante nove dias, o filme acompanha Asgari enquanto ele lida o período de forçada desconexão com o mundo, refletindo sobre o país, o tempo em que viveu na Itália e tendo conversas francas com a família. 

Em entrevista à revista Variety, Asgari disse que seu novo filme trata de “empoderar [sua] imaginação”:

“Não se trata de me vitimizar neste país, mas de me ver como uma pessoa com uma imaginação que pode ir além das fronteiras. Eu escrevi sobre todos esses belos flashes da minha vida e me perguntei: Eu sou uma vítima nesta situação? Não” disse ele.

Asgari faz parte da lista de cineastas a atores cuja liberdade tem sido cerceada pelo regime iraniano. Recentemente, Maryam Moghaddam e Behtash Sanaeeh não puderam viajar para a estreia de "My Favourite Cake" no Festival de Berlim, e o diretor Mohammad Rasoulof deixou o país clandestinamente para exibir o longa "The Seed of the Sacred Fig" no Festival de Cannes.

Na entrevista, Asgari destaca a dificuldade para conseguir financiamento para seus filmes, pontuando que o problema é que “o Irã está em uma localização onde somos considerados nada”.

“Não somos considerados suficientemente asiáticos para fundos asiáticos e não somos elegíveis para fundos do Oriente Médio porque não somos um país árabe”, explica ele. “Não somos europeus, mediterrâneos, balcânicos... Somos apenas iranianos e não há financiamento para iranianos."

Asgari diz que frequentemente é solicitado, “especialmente por ocidentais”, a “denunciar abertamente o governo iraniano, assumir o papel de ativista e carregar cartazes por onde eu for.”

“Vou aos festivais esperando discutir meus filmes, e toda a conversa se transforma em um programa de TV sobre a situação política no Irã e no Oriente Médio”, diz ele. “Não é que eu não esteja interessado em falar sobre isso, claro que estou, mas às vezes simplesmente não sei o que dizer. Por que não me deixam apenas fazer meus filmes?”