Guerra

Zelensky aponta possível envio de 100 mil soldados norte-coreanos à Ucrânia e pede apoio europeu

A breve declaração foi um chamado às nações da UE em meio a um momento crítico, onde há temores de que Donald Trump corte a ajuda militar e force um acordo

Membros do parlamento da UE aplaudem de pé o discurso de Volodymyr Zelensky - Nicolas Tucat/AFP

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, alertou que a Coreia do Norte poderá enviar até 100 mil soldados para reforçar as tropas russas na Ucrânia, enquanto a guerra completa mil dias desde o início da invasão em grande escala. Em discurso ao Parlamento Europeu, Zelensky pediu as nações europeias a intensificarem seu apoio militar, em um momento que a Rússia avança no território ucraniano.

Segundo Zelensky, cerca de 11 mil soldados norte-coreanos já foram enviados às fronteiras da Ucrânia e “esse contingente pode aumentar para 100.000”. As declarações parecem confirmar uma reportagem da Bloomberg, que citou fontes anônimas sobre o potencial envio de tropas norte-coreanas para apoiar o exército russo.

Segundo o jornal inglês The Guardian, o discurso, realizado por videoconferência, marcou um apelo enfático aos países da União Europeia (UE) para garantirem uma “paz justa” que contenha a Rússia.

A breve declaração foi um chamado às nações em meio a um momento crítico para a Ucrânia, onde há temores de que o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, corte a ajuda militar e force um acordo de paz que exigiria que Kiev cedesse grandes quantidades de território.

O ministro das Relações Exteriores da Polônia, Radosław Sikorski, disse que os maiores países da UE estavam prontos “para assumir o fardo do apoio militar e financeiro à Ucrânia no contexto de uma possível redução no envolvimento dos EUA”.

Na Estônia, o ministro das Relações Exteriores, Margus Tsahkna, declarou ao Financial Times que, caso a Ucrânia não seja admitida na OTAN, a Europa deve considerar o envio de tropas para sustentar qualquer eventual acordo de paz entre Kiev e Moscou promovido por Trump.

Analistas sugerem que uma “coalizão de dispostos” liderada pelo Reino Unido e incluindo países nórdicos, bálticos e a Holanda poderia ser organizada para esse fim.

Crítica ao apoio alemão e uso de mísseis
Zelenskyy criticou indiretamente o chanceler alemão Olaf Scholz por seu apoio militar limitado e pela recusa em fornecer mísseis Taurus de longo alcance, afirmando que “enquanto alguns líderes europeus pensam em eleições, Putin está focado em vencer a guerra”.

Em um apelo velado por armas de longo alcance, Zelensky disse que sem “certos fatores-chave, a Rússia não terá motivação real para se envolver em negociações significativas”. Ele descreveu esses fatores como incêndios em depósitos de munição em território russo, interrupção da logística militar, destruição de bases aéreas russas, perda de capacidades para produzir mísseis e drones e ativos confiscados.

Recentemente, o presidente dos EUA, Joe Biden, autorizou o uso de mísseis de longo alcance para atacar a região russa de Kursk, aumentando a pressão para que aliados europeus sigam o exemplo. O Reino Unido já indicou disposição para fornecer mísseis Storm Shadow à Ucrânia, enquanto a França mantém a possibilidade de disponibilizar mísseis de longo alcance.

Sanções mais rigorosas
Além do pedido por armas, Zelensky apelou por sanções mais rigorosas, especialmente contra os chamados “navios-tanque sombra”, uma frota que sustenta o comércio de petróleo russo. Ele afirmou que o petróleo é “a força vital do regime de Putin” e que, enquanto esses navios operarem, o conflito continuará.

Parlamentares europeus aprovaram recentemente uma resolução não vinculativa que pede ao G7 para reduzir o teto de preço do petróleo russo transportado por via marítima e fechar as brechas que permitem a venda de petróleo russo a preços de mercado.

Após o discurso, Zelensky recebeu duas ovações de pé dos membros do Parlamento Europeu, embora alguns parlamentares estivessem ausentes, como o grupo de extrema direita Europa das Nações Soberanas (ESN), liderado pelo partido alemão Alternativa para a Alemanha, que defende o fim da ajuda militar à Ucrânia.