Machado de Assis inspira poemas publicados na revista The New Yorker
Versos do poeta e crítico literário americano David Lehman remetem a trecho de 'Memórias póstumas de Brás Cubas' e reforçam crescente popularidade do autor nos Estados Unidos
O poeta e crítico literário americano David Lehman andou usando a pena da galhofa e a tinta da melancolia com que Brás Cubas escreveu suas memórias póstumas.
Num conjunto de cinco poemas, reunidos sob o título “In praise of Machado de Assis” (“em louvor a Machado de Assis”) e publicados esta semana na revista americana The New Yorker, Lehman homenageia o autor de “Dom Casmurro”.
Os poemas fazem referência a um outro trecho de “Memórias póstumas de Brás Cubas”, no qual o narrador corrige o filósofo francês Blaise Pascal e afirma que o homem não é um “caniço pensante”, mas sim uma “errata pensante”, e imaginam um bibliófilo que dedica seus dias a estudar cada frase do conto “O alienista”.
Os versos de Lehman têm um pouco da ironia e do pessimismo machadianos e atestam o prestígio que o autor do Cosme Velho vem angariando nos Estados Unidos.
A influenciadora Courtney Henning Novak que o diga. Em maio, “Brás Cubas” escalou a lista de mais vendidos da Amazon depois que o vídeo da tiktoker elogiando o romance viralizou. Nokak leu a tradução de Flora Thomson-DeVaux, publicada em 2020, e diz que Machado se tornou seu novo autor preferido. Ela também se encantou por “Dom Casmurro” e gravou um vídeo elencando evidências de que Capitu não traiu Bentinho.
Antes mesmo dos louvores de Lehman e Novak, Machado já vinha ganhando mais espaço nos EUA. Quando saiu a nova tradução de “Brás Cubas”, o jornalista Dave Eggers escreveu, também na New Yorker, que se tratava de “um dos livros mais espirituosos, divertidos e, portanto, mais vivos e sem idade já escritos”.
Dois anos antes, os contos completos do autor haviam sido publicados por lá, em tradução de Margaret Jull Costa e Robin Patterson, e ensaiou-se um pequeno boom machadiano. Num texto no New York Times, o biógrafo de Clarice Lispector, Benjamin Moser, comentou por que Machado ainda era tão pouco lido em inglês.
Em 1960, a pesquisadora Helen Caldwell publicou “O Otelo brasileiro de Machado de Assis”, apontando o diálogo entre “Dom Casmurro” e Shakespeare e, pela primeira vez, questionando a versão de Bentinho, de que Capitu o traíra. Por décadas a leitura de Machado nos EUA ficou restrita às universidades, embora ele tenha arrancado elogios de Susan Sontag, uma das intelectuais mais pop do século XX.
Em 1951, no jornal Correio da Manhã, o crítico literário Eugenio Gomes já anunciava a internacionalização do autor, que despertava “interesse excepcional” nos EUA. “Machado de Assis já não pertence apenas à literatura brasileira. Suas obras passaram a interessar a outras culturas, sucedendo-se as traduções em várias línguas”, afirmou ele, numa avaliação que, aos poucos, vai se tornando mais verdadeira.