Homem recebe transplante de rosto inovador: "Segunda chance"
Após uma década, americano Derek Pfaff recuperou funções vitais como piscar, engolir, sorrir e respirar pelo nariz
Um homem que teve graves ferimentos no rosto após uma tentativa de suicídio com um tiro, em 2014, passou por um inovador transplante de rosto nos Estados Unidos, uma década após o ocorrido. O procedimento, realizado pela Mayo Clinic, foi bem sucedido, e Derek Pfaff recuperou funções vitais que havia perdido há 10 anos, como a capacidade de piscar, engolir, sorrir e respirar pelo nariz.
Ao longo do tempo, Derek, que agora tem 30 anos, chegou a realizar 58 cirurgias faciais reconstrutivas, antes de encontrar a equipe da Mayo Clinic, uma das maiores organizações de serviços médicos e pesquisa dos EUA. Ele não conseguia comer alimentos sólidos, falar casualmente ou mesmo usar um óculos devido à perda do nariz.
"Eu estava sob muita pressão na faculdade. Não me lembro de ter tomado a decisão de tirar a minha própria vida. Quando eu acordei no hospital, pensei inicialmente que havia sofrido um acidente de carro. Eu vivi por uma razão. Quero ajudar os outros. Sou muito grato ao meu doador, à sua família e à minha equipe de cuidados da Mayo Clinic por terem me dado essa segunda chance”, diz ele, que se tornou uma voz ativa na prevenção ao suicídio, em comunicado.
O transplante facial que transformou a vida de Derek é um procedimento que foi realizado pela primeira vez há 19 anos, mas desde então apenas pouco mais de 50 operações do tipo foram registradas ao redor do mundo devido à sua alta complexidade. O primeiro procedimento na Mayo Clinic foi feito em 2016.
"O Centro de Transplante da Mayo Clinic é o maior centro integrado de transplante do mundo. Fomos o primeiro centro de transplante do país a fazer do transplante facial parte da sua prática clínica. Isso nos permitiu focar exclusivamente nas necessidades de cada paciente", conta Hatem Amer, diretor médico do Programa de Transplante Reconstrutivo da Mayo Clinic, em comunicado.
A cirurgia de Derek foi realizada em fevereiro deste ano e durou mais de 50 horas. A equipe médica necessária foi composta por cerca de 80 profissionais, incluindo cirurgiões, anestesiologistas, enfermeiros, técnicos, assistentes e outros especialistas.
Samir Mardini, cirurgião reconstrutor facial e de reanimação facial e diretor cirúrgico do Programa de Transplante Reconstrutivo da Mayo Clinic, estima que 85% da face de sua face, incluindo a mandíbula e a maxila, foi reconstruído e substituído por tecido doador.
"Essa cirurgia transformou a minha vida. Me sinto muito mais confiante. Espero, um dia, encontrar alguém, me estabelecer e ter uma família. Também vou continuar compartilhando a minha história com os outros para ajudar o maior número de pessoas possível”, conta Derek.
O procedimento leva meses de preparo. Ao longo desse tempo, a equipe multidisciplinar, liderada por Mardini, realiza simulações digitais com os rostos do doador e do paciente para avaliar como ficará o resultado.
No caso de Derek, a cirurgia substituiu todo o tecido abaixo das sobrancelhas e de parte de sua testa, incluindo suas pálpebras superiores e inferiores e gordura intraorbital, mandíbulas superiores e inferiores, dentes, nariz, estrutura da bochecha, pele do pescoço, palato duro e partes do seu palato mole.
“Meu coração se enche de alegria ao vê-lo sorrir, feliz e voltar a ser uma pessoa normal”, diz Lisa, mãe de Derek. “Faz 10 anos que você não vê o nariz, os lábios e os dentes do seu filho - é totalmente incrível, um milagre”, acrescenta o pai, Jerry.
Um dos aspectos mais críticos do processo é garantir que os delicados nervos faciais do doador e do paciente —18 ramificações entre os dois lados —fossem corretamente conectados para restaurar as funções como sorrir, respirar e falar. Os cirurgiões empregaram ainda um novo método para transplantar o sistema de drenagem lacrimal do doador.
Nos meses seguintes, Derek passou por outras cirurgias para refinar sua aparência, melhorar a função da língua e das pálpebras e garantir que a conexão dos nervos estivesse funcionando corretamente. “Essa não é uma operação estética, embora seus benefícios colaterais sejam extremamente benéficos para a estética do paciente. Derek está querendo ser normal. Ele quer andar na rua sem que ninguém perceba nada nele”, diz Mardini.
Com isso, Derek agora, nove meses após o procedimento, pode expressar felicidade, tristeza, alegria e decepção através de seus músculos e nervos faciais transplantados: "A maioria dos transplantes de órgãos salva vidas. No caso do transplante facial, é uma operação que te dá vida", continua o médico.
"Este transplante bem-sucedido não teria sido possível sem esse presente generoso dado pelo doador e pela sua família, e sem a colaboração e dedicação da equipe de cuidados", acrescenta o responsável pelo procedimento.
“Não foi apenas o rosto de Derek que foi doado. Foram seus outros órgãos também. Portanto, havia vários receptores ligados a esse único doador, e esse é o maior presente que alguém pode ter a coragem e a decisão de fazer”, lembra a mãe de Derek.