TEATRO

Abrindo festival no Recife, Marco Nanini relembra os anos vividos na cidade: "Ficaram marcados"

Ator é um dos homenageados do Festival Recife do Teatro Nacional, que começa nesta quinta-feira (21)

Marco Nanini é pernambucano e morou no Recife até os 5 anos de idade - Arthur Mota/Folha de Pernambuco

A 23ª edição do Festival Recife do Teatro Nacional (FRTN) traz entre os seus homenageados um pernambucano ilustre. Marco Nanini, que nasceu no Recife e viveu por aqui parte da infância, abre a programação do evento com o seu mais recente espetáculo. 

Escrita e dirigida por Gerald Thomas, “Traidor” é uma peça sobre o delírio psicológico de um ator acreditando e vivendo a soma de todos os personagens da história do teatro. Nanini realiza três apresentações da montagem no Teatro do Parque, nesta quinta-feira (21), às 19h30, na sexta (22) e no sábado (23), às 20h. 
 

Em entrevista à Folha de Pernambuco, Nanini falou sobre a peça e relembrou o tempo vivido no Recife, declarando sua paixão por uma fruta bem local. “Eu sou louco por pitomba”, revelou.

Confira a entrevista com Marco Nanini:

Quais sensações afloram ao voltar ao Recife, sendo homenageado neste festival?
É importante para mim, depois de tantos anos de carreira e tantos anos de idade, voltar aqui a essa cidade que eu sempre amei, porque minha primeira infância foi aqui e eu não me esqueço da minha primeira infância, dessa cidade toda, do clima que tinha a cidade. A cidade era menor, tinha menos gente. Era uma época muito agradável para a criança. E daqui eu saí com cinco anos [de idade], mas esses cinco anos ficaram marcados na minha vida e foram muito importantes.

 

 
 
 
 
 
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Então, mesmo morando tanto tempo fora, você ainda se considera pernambucano?
Claro, ué. Lógico que sim. Eu sempre venho aqui, né? Não estou aqui só hoje. Venho sempre. Já me apresentei aqui neste teatro [do Parque], no Centro de Convenções, no Santa Isabel. 

Procurei bastante por pitombas, para trazer para você, mas acabei não encontrando. Sei que você tem muito amor por essa fruta…
Não, eu tenho tara. Eu sou louco por pitomba.

É uma coisa que remete à infância também?
Totalmente. Remete à infância, porque eu adorava quando era garoto e nunca perdi o gosto da pitomba, que é único. O azedinho, a gente faz um “creck”... Mas não é época agora, infelizmente.

Como outros grandes atores, mesmo fazendo muito audiovisual, você sempre retorna ao teatro. O que o palco tem que te atrai tanto?
Olha, é um mistério. Isso é um feitiço que o teatro tem. É muito interessante você estar em uma caixa [cênica], no palco, e estar com a plateia representando, que é o que eu gosto de fazer: representar. Tanto no teatro, como no cinema e na televisão. É uma sensação maravilhosa. Estando na minha terra, melhor ainda.

Gerald Thomas escreveu essa peça para você e colocou o seu nome no personagem. Quanto há de você nesse espetáculo?
Na peça anterior que fizemos juntos, “Um Circo de Rins e Fígados”, ele também chamou o personagem de Nanini, embora eu não tivesse nada a ver com a trama. Desta vez, também não tenho nada. O que tem é a cabeça dele. Sei lá o que é que ele vê. Acho que ele não tinha o que colocar e colocou meu nome. No palco, ninguém chama o meu nome. Então, o espectador não sabe disso. 

Mas a peça fala sobre o ofício do ator? 
Não frontalmente, mas pelo entorno. O espetáculo é muito ritmado. Ele fala de muitas coisas. Trata-se de um homem muito atordoado. Ele tem muitas elucubrações e vive nessa roda viva da própria elucubração e dos fantasmas que o visitam. Então, ele fica falando muitas coisas. Não tem um enredo exatamente. O enredo cabe todo nesse personagem. É uma peça sobre a loucura e o que a vida de hoje traz para a cabeça de uma pessoa.

Você estreou nos palcos em 1968, com a peça “Salomé”. Consegue sentir o peso do tempo quando está em cena?
Eu não penso em idade. Eu penso em não tropeçar, porque, às vezes, a gente tropeça no palco. Mas eu já tropecei muito antes, lá atrás, tropecei bastante. Já me dou por satisfeito. Agora tenho mais cuidado e, no palco, eu me sinto à vontade, me sinto em casa, porque foi a primeira coisa que eu quis fazer e foi lá onde estive e ainda estou. 

Trabalhar na televisão traz uma ligação afetiva com as pessoas. Como é para você quando alguma pessoa te encontra e te chama de Lineu [personagem da série “A Grande Família”], por exemplo?
Não sinto como uma agressão, nem nada. Acho carinhoso. Realmente, o seriado ficou 14 anos em cartaz na televisão. Era um fenômeno, muito bem escrito, muito bem dirigido e com um elenco muito legal. Fiquei com essa coisa no meu coração.