Golpe

PF aponta que Bolsonaro e aliados se dividiram em núcleos como de "desinformação" e "inteligência"

Investigação que resultou no indiciamento do ex-presidente por tentativa de golpe detalhou o papel de auxiliares do então mandatário na suposta trama

O ex-presidente Jair Bolsonaro não se manifestou após o indiciamento, mas em outras ocasiões negou que tenha participado de uma tentativa de ruptura institucional - Evaristo Sá/AFP

A investigação da Polícia Federal que resultou no indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe detalhou o papel de aliados e auxiliares do então mandatário na suposta trama.

A apuração apontou a existência de seis núcleos distintos: núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral; núcleo responsável por incitar militares a aderirem ao golpe de Estado; núcleo jurídico; núcleo operacional de apoio às ações golpistas; núcleo de inteligência paralela; núcleo de oficiais de alta patente com influência e apoio a outros núcleos.

Os seis núcleos, segundo a PF:

a) Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral;

b) Núcleo Responsável por Incitar Militares à Aderirem ao Golpe de Estado;

c) Núcleo Jurídico;

d) Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas;

e) Núcleo de Inteligência Paralela;

f) Núcleo Operacional para Cumprimento de Medidas Coercitivas

Bolsonaro não se manifestou após o indiciamento, mas em outras ocasiões negou que tenha participado de uma tentativa de ruptura institucional. Em entrevista ao Globo há duas semanas, ele disse que houve debates sobre a decretação de um estado de sitio no país, mas afirmou que “não é crime discutir a Constituição”.

Parte dos investigados, segundo a PF, atuou nos esforços para elaborar a fundamentação jurídica da minuta golpista que seria usada para decretar a prisão de autoridades, como o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Outra, ainda de acordo com a investigação, atuou como “uma inteligência paralela” de Bolsonaro. Seu objetivo era monitorar os passos de desafetos do ex-presidente e garantir sua captura e detenção quando o plano tivesse êxito. Um dos monitorados foi Moraes, que na época era presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Mais uma frente investigada pela Polícia Federal é formada por militares de alta patente, entre eles o ex-ministro Walter Braga Netto, general da reserva. O objetivo do grupo era, segundo a investigação, conquistar a adesão de membros das Forças Armadas ao plano para manter Bolsonaro no poder após a derrota nas urnas, em 2022. Mensagens e depoimentos colhidos ao longo da apuração mostrou que militares aliados do ex-presidente passaram também a pressionar e fazer ataques pessoais a colegas de caserna resistentes a aderir ao movimento golpista.

Em paralelo, segundo os investigadores, aliados de Bolsonaro buscaram, sem sucesso, fragilidades nas urnas eletrônicas e atuaram para difundir desinformação sobre o processo eleitoral e a Corte Eleitoral. O objetivo era criar o "ambiente propício” para a execução do golpe.

Segundo a PF, a partir da coordenação e interlocução com o então ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro Mauro Cid, outro núcleo atuava em reuniões de planejamento e execução de medidas para manter as manifestações em frente aos quarteis, incluindo a mobilização, logística e financiamento de militares das Forças Especiais em Brasília.