Golpe

Barroso diz que nível de preocupação com a segurança aumentou

Durante evento em São Paulo, presidente do Supremo Tribunal Federal disse que o país esteve sob risco real de um golpe de Estado

Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso - Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, declarou nesta quinta-feira (21) que o nível de preocupação com a segurança aumentou na Corte depois que um homem explodiu uma bomba ao lado da estátua da Justiça, em Brasília, e que a Polícia Federal (PF) descobriu um plano de assassinato contra o presidente Lula (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes que teria sido elaborado por agentes de um grupo de elite do Exército em conluio com ex-integrantes do governo de Jair Bolsonaro (PL).

— A segurança é uma preocupação. Nem preciso dizer que eu tenho uma pessoa que cuida disso para mim, e eu entrego a ele e a Deus, de modo que eu não sei dizer detalhes. Mas, evidentemente, aumentou o nível de preocupação — declarou o ministro após evento organizado por uma entidade médica em São Paulo.

Além dele, estiveram presentes mais cedo os ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli e Theresa May, ex-primeira-ministra do Reino Unido.

Barroso disse ainda que o país esteve, ao que tudo indica, sob risco real de um golpe de Estado, mas elogiou a atuação do ex-comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, que não teria “embarcado em uma aventura” mesmo com o histórico brasileiro jogando contra. Ele fez referência a uma reunião com Bolsonaro e assessores em que, segundo relatos, uma “minuta de golpe” teria sido apresentada para prender Moraes e realizar novas eleições no Brasil após a vitória de Lula e Alckmin.

— O que aconteceu para a gente ter esse tipo de atitude, de pessoas pensando em assassinar agentes públicos, de um homem-bomba? Onde foi que nós perdemos a nossa alma afetuosa, alegre e irreverente para essa nova modalidade raivosa, agressiva, perigosa? Nós precisamos botar esse gênio de volta na garrafa — completou Barroso.

O ministro evitou comentar diretamente o inquérito conduzido pela Polícia Federal para apurar a suposta tentativa de golpe no Palácio do Planalto e a informação que circula na imprensa de que ele seria finalizado hoje com dezenas de indiciados, entre eles o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro. Disse que só se manifestaria no momento de julgar o caso e que não tem conhecimento do relatório da PF. Destacou ainda que Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, deve prestar novo depoimento nesta quinta.

Barroso ressaltou que, quando assumiu a presidência da Corte, tinha a expectativa de que o país se pacificasse e que investigações como a do 8 de Janeiro fossem encerradas, mas a demora na conclusão do inquérito seria motivada pelos próprios “fatos novos e graves que se sucedem”, a exemplo da tentativa de atentado a bomba no STF da semana passada. Na sua opinião, apesar desses episódios, o Brasil vive um momento de “normalidade institucional”, com diálogo entre os Três Poderes.

— Essas atitudes de desrespeito ao Estado de Direito, de ameaças de homicídio, são pessoas que resgataram um filme muito velho e muito triste. Felizmente, as lideranças das Forças Armadas não embarcaram nessa aventura desastrada. De modo que, olhando em perspectiva, acho que nós estivemos perto do inimaginável, mas passamos no teste da institucionalidade — disse o magistrado.

Ele ressaltou ainda que, em sua opinião, o país “tem muita dificuldade de punir” e que, passado a indignação com os ataques de 8 de Janeiro, algumas pessoas começaram a ter pena dos envolvidos, mas que a Justiça deve atuar de modo a evitar que os casos se repitam em eleições futuras. Por fim, alfinetou a proposta de anistia que está sendo articulada no Congresso pelo PL, partido de Bolsonaro, e aliados de outros partidos.

— No Brasil, as pessoas querem anistiar antes de julgar, é uma operação um pouco complexa. O que aconteceu ali não foi banal. Nós tivemos um processo histórico grave de extremismo que o Supremo precisou enfrentar, acho que enfrentou bem e, de certa forma, paga o preço de ter estado nessa frente. As pessoas podem discordar de um ponto aqui e ali, mas, no geral, eu acho que a condução do ministro Alexandre, foi séria e corajosa, com apoio do Tribunal, e conseguimos evitar o pior.

Barroso também citou trecho da música “Tempo Perdido”, do Legião Urbana, ao responder se tinha indícios de que uma tentativa de golpe efetivamente estava em curso depois da derrota de Bolsonaro: “Não tenho medo do escuro, mas deixe as luzes acesas”.

— Eu tentava não supervalorizar o risco de golpe, mas você ter milhares de pessoas em portas de quartel pedindo golpe de Estado, em desrespeito ao resultado eleitoral, evidentemente, me preocupava — afirmou o presidente do STF. — Estivemos muito perto de um apagão institucional. É triste reconhecer isso, mas se o comandante do Exército naquele momento tivesse cedido à pressão, só Deus sabe o que teria acontecido.