Ortega está levando Nicarágua de volta à "Idade da Pedra", diz presidente da SIP
A proposta amplia o mandato presidencial de cinco para seis anos e permite que Ortega e sua esposa coordenem os órgãos dos poderes Legislativo e Judiciário
O governo de Daniel Ortega está levando a Nicarágua de volta à Idade da Pedra, com uma reforma constitucional que promove e oficializa o controle sobre os meios de comunicação, disse, nesta quinta-feira (21), o presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), José Roberto Dutriz.
"Não nos surpreende nem um pouco o que está fazendo o presidente Ortega. Realmente estamos voltando à Idade da Pedra na Nicarágua", afirmou Dutriz à AFP no Panamá.
Segundo Dutriz, a Nicarágua vive em um contexto "arcaico, com autoritarismo extremo e perseguição às vozes críticas, não apenas contra os meios de comunicação, mas também contra pessoas".
Ortega apresentou na quarta-feira ao Congresso, controlado pela Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN, de esquerda), uma reforma da Constituição para assumir o controle total de todos os poderes do país junto com sua esposa, a vice-presidente Rosario Murillo, que passaria a ocupar o cargo de "copresidente".
A proposta amplia o mandato presidencial de cinco para seis anos e permite que Ortega e sua esposa coordenem os órgãos dos poderes Legislativo e Judiciário, e da autoridade eleitoral, entre outros.
Além disso, estabelece controles sobre os meios de comunicação e a Igreja para garantir, segundo o texto, que não respondam a "interesses estrangeiros".
Ortega, um ex-guerrilheiro de 79 anos, governou a Nicarágua na década de 1980 e voltou ao poder em 2007, desde então governando junto com sua esposa. Ambos são acusados por Estados Unidos, União Europeia e alguns países da América Latina de instaurar uma autocracia no país.
"Nos causa muita tristeza que um país irmão como a Nicarágua tenha retrocedido nesse aspecto. Isso não é saudável para a região nem para a sociedade nicaraguense", acrescentou Dutriz.
As declarações de Dutriz foram feitas no Panamá, onde compareceu à assinatura, pelo presidente panamenho José Raúl Mulino, da Declaração de Chapultepec sobre liberdade de imprensa.
A assinatura por parte do Panamá representa o "contraste" entre "uma sociedade moderna versus uma sociedade arcaica", como a nicaraguense, destacou Dutriz.