FOLHA SAUDE

Corrida de rua: benefícios para corpo e mente

Para começar a correr é preciso apenas dar o primeiro passo. Mas atenção: a consulta a um cardiologista, principalmente para os idosos, é fundamental

Joanna Costa, corredora amadora - Cortesia

Praticar atividade física é fundamental para a saúde de todos. Uma opção muito buscada e difundida ao redor do Brasil nos últimos anos é a corrida de rua. Essa prática esportiva, gratuita e que pode ser realizada em locais públicos das cidades com segurança, traz benefícios comprovados para o corpo e a mente dos indivíduos que se envolvem com o esporte. 

Para começar, não tem segredo. Joanna Costa, corredora amadora que já completou seis maratonas, acredita que o necessário no início é colocar os tênis e se desafiar. “Qualquer prova de corrida começa com seu primeiro passo. Você não vai fazer 42km se não fizer 1km”, declara.

A prática de rua virou uma rotina na vida de Joanna de forma natural por volta de 2012, com a entrada em um grupo de corrida. A partir dessa interação com outros atletas amadores e da participação em provas, o esporte passou a ser uma prioridade.

“Fiz uma prova de 5km, e na segunda prova desse percurso tinha uma modalidade de 10km. Eu pensei: ‘na próxima eu quero fazer 10km’. E aí quando fiz 10km quis fazer 21km. Imaginei que já era meu limite, mas vi várias pessoas que corriam comigo fazendo 42km. Nunca mais parei.”

Sentido 

E o não parar tem um sentido quase literal. Mãe de um menino de 5 anos e de uma menina de 3, Joanna passou a maior parte da gestação dos dois praticando a corrida, sob orientação médica. Como ela já tinha o hábito, a obstetra não viu problema em permitir que ela seguisse praticando a atividade física.

“Na minha primeira gestação, esperei os primeiros três meses. Já na segunda gestação, que não foi planejada, me enganei por três meses e continuei correndo. Eu só parei de correr quando o risco de uma queda estava preocupando a todos, especialmente, minha mãe e meu marido, mas já estava com quase 9 meses. Foi quando parei. Mas acho que me fez muito bem, inclusive na recuperação e no puerpério.”

Apesar de ser um esporte individual, a corrida permite uma socialização entre os atletas, sejam amadores ou profissionais. Joanna, por exemplo, conta atualmente com um professor especializado, mas segue em um grupo de corrida pelas relações de amizade que construiu. Sua rotina de treinos de corrida ocorre três vezes por semana. Quando é fase de preparação para uma maratona, o ritmo intensifica e chega a quatro dias de treinamento. 

Joanna Costa, corredora amadora. Foto: Cortesia. 

Benefícios

E o processo de dar seu melhor a cada semana é algo próprio da corrida. Segundo a corredora, essa busca constante  por evolução tem um reflexo em todas as esferas da vida. “Eu acho que a corrida é um processo de autoconhecimento. A gente passa a ver nossas potências e capacidades. Muitas lições que eu aprendi logo no início da corrida carrego até hoje na minha vida profissional. Não é só um esporte, é um exercício de autoconhecimento”, analisa Joanna Costa.

A primeira maratona completada por Joanna aconteceu em 2015, em uma prova realizada no Rio de Janeiro. E desde  então ela tem o ritual de fazer uma maratona por ano. A última foi em setembro de 2024, em Buenos Aires, na Argentina.

“Todas as provas são absolutamente únicas. A emoção é muito própria do momento que você está vivendo. É uma euforia, um sentimento que toma conta da gente de gratidão e alegria por se ver capaz. Você se sente muito forte e pensa que consegue  fazer qualquer coisa. É muito emocionante.”  

E os benefícios para quem pratica a atividade não são sentidos apenas no corpo. A saúde mental passa a ser trabalhada, e o corredor começa a lidar melhor com as situações do cotidiano.

“Quando eu atravesso meus problemas e dificuldades, a corrida me salva. Recentemente passei um processo desafiador com o meu filho, a corrida foi minha maior aliada. Quando eu estava angustiada, saía para correr e voltava mais forte para enfrentar as situações que não deixam de existir. A corrida me ajuda a lidar com a vida de uma forma mais proativa e mais forte.”

Crescimento 

Com mais de uma década de dedicação à corrida, Joanna viu o crescimento exponencial do número de interessados em praticar o esporte. A corredora considera esse movimento positivo.

“As pessoas estão buscando saúde. A gente agora está se preocupando em cuidar da saúde para evitar adoecer, não o contrário. Uma coisa que me impressiona muito é como as pessoas estão começando a correr mais cedo. Mostra o quanto esse movimento é contagiante e positivo. Tem dia que, num sábado qualquer, a gente está correndo e parece que é uma prova de tanta gente que tem. Acho o máximo!”

Atenção

Por se tratar de um exercício físico de alta intensidade, os interessados em praticar corrida devem se precaver antes de iniciar o esporte. De acordo com o cardiologista Marcelo Magalhães, do Hospital Jayme da Fonte, é fundamental uma consulta com um profissional da área. 

“É aconselhável, para todas as pessoas que desejam iniciar a prática de corrida, realizar antes uma avaliação com o cardiologista, além da realização de alguns exames como ecocardiograma e teste ergométrico”, ressalta o médico.

Essa atenção com os exames deve ser ainda maior se a pessoa viver um estilo de vida sedentário. Nesse caso, é necessária uma avaliação cardiológica completa, assim como para os idosos.

Após a recomendação da realização dos exames, o cardiologista elenca uma série de benefícios que a corrida pode trazer para todas as pessoas. 

“Redução do estresse e também dos sintomas de ansiedade e depressão, melhora na qualidade do sono e da aprendizagem, além da ajuda no controle da pressão arterial, diabetes e diminuição de mortalidade em doenças do coração.”

Ainda segundo o médico, o ideal é que a atividade física seja realizada, pelo menos, três vezes na semana com um mínimo de 75 minutos distribuídos ao longo dos dias.

Começar 

Paula Pinheiro é profissional de educação física e idealizadora da assessoria esportiva Recife Runners. Com mais de 600 alunos do Grande Recife e de outros locais através de acompanhamento online, a profissional se encontrou na corrida há mais de dez anos.

Paula Pinheiro, idealizadora da Recife Runners. Foto: Cortesia. 

De acordo com a profissional, o primeiro passo sempre é entender o histórico da pessoa que está buscando começar a correr. Outro ponto importante é saber o tempo de treino que a pessoa pode ter por dia. 

“Se for uma hora por dia e três vezes por semana, nós precisamos nos adaptar a essa rotina para que a pessoa tenha os benefícios de fazer atividade física e que se encaixe na sua vida”, diz Paula. 

No momento inicial da corrida, não é necessário se preocupar muito com todos os acessórios. O fundamental é um par de tênis adequado para a atividade, sem necessariamente ser o mais moderno ou mais caro. Além de roupas leves e itens de proteção ao sol em caso de treino pela manhã. 

A profissional de educação física também recomenda a utilização de relógio para registrar os treinamentos e ter parâmetros da evolução. “Quando você começar a evoluir no esporte, pode melhorar a questão dos acessórios. Mas para iniciar não precisa investir muito. O básico funciona”, destaca Paula Pinheiro. 

Erros

Com a experiência de mais de dez anos com alunos iniciantes da corrida, Paula destaca três erros principais que acabam afastando as pessoas em pouco tempo. A falha mais comum, segundo ela, é querer, em todo treino, ter uma evolução forçada. 

“Esse é um erro básico porque você começa a aumentar sua carga de treino rapidamente, e isso, normalmente, leva a lesões por ser um esporte de impacto. Então a pessoa que estava tão motivada e gostando de realizar atividade física precisa parar por uma dor ou lesão acometida por excesso na carga de treinamento.”

Também é necessário valorizar o descanso. Até é possível treinar cinco vezes na semana, mas nunca todos os dias.  Em tempos de muita utilização das redes sociais, outro erro comum é a comparação com outros atletas amadores.

A interação na internet deve ser usada como motivação apenas. “Precisamos fazer as comparações com os nossos próprios resultados. Esse é um erro que desestimula  as pessoas a continuar no esporte”, afirma Paula Pinheiro.