Complementos e 'contradições esclarecidas': entenda por que Moraes decidiu manter acordo de delação
Em documento remetido ao STF, a PF diz que ex-ajudante de ordente de Bolsonaro descumpriu as cláusulas acertadas em setembro de 2023
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal ( STF), decidiu manter a validade do acordo de colaboração premiada firmado entre a Polícia Federal (PF) e o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A decisão foi tomada após o depoimento de Cid a Moraes ontem. A PF havia identificado contradições e omissões do militar em depoimentos, o que poderia ferir as cláusulas do acordo. Cid chegou ao STF por volta das 14h10m, e o depoimento foi até às 16h50m.
“O ministro considerou que o colaborador esclareceu as omissões e contradições apontadas pela Polícia Federal. As informações do colaborador seguem sob apuração das autoridades competentes”, informou o gabinete de Moraes.
Advogado de Cid, Cézar Bittencourt afirmou que “tudo continua como antes”:
— Ele deu satisfações e complementações. Não havia omissões.
Em documento ao STF, a PF diz que Cid descumpriu as cláusulas do acordo firmado em setembro de 2023. A Procuradoria-Geral da República (PGR) chegou a pedir a prisão de Cid na quarta-feira, segundo interlocutores. Ontem, porém, durante o depoimento, o órgão revisou a posição.
Confirmação de reunião
Cid confirmou a Moraes a reunião ocorrida na casa do ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto para tramar um golpe de Estado. Segundo a PF, o apartamento do general do Exército foi usado para o encontro em 12 de novembro de 2022. A reunião seria o ponto de partida do plano que previa matar Lula, Geraldo Alckmin e Moraes.
No depoimento de mais de duas horas, Cid foi questionado sobre o plano para matar autoridades, mas voltou a negar a participação. Em depoimento à PF na terça-feira, ele já havia afirmado desconhecer um plano golpista que incluía os assassinatos.
Sobre Braga Netto, Cid detalhou a reunião e confirmou as descobertas feitas pela PF, que implicam diretamente o general nos planos golpistas. Braga Netto foi ministro da Casa Civil e da Defesa na gestão Bolsonaro e candidato a vice na chapa do ex-presidente, em 2022.
Em momentos anteriores, investigações da PF apontaram Braga Netto como elo entre Bolsonaro e integrantes dos acampamentos que pediam intervenção militar e autor de mensagens com xingamentos a membros da cúpula das Forças Armadas que não aderiram ao plano golpista.