DESCARBONIZAÇÃO

Transição energética não pode ser mais mitigada como no passado, diz Wilson Ferreira Jr.

Executivo, que veio ao Recife comandar uma palestra sobre o assunto disse que Pernambuco pode contribuir fortemente no processo, sobretudo com o Porto Digital

Wilson: "É indiscutível que as atividades humanas estão causando essas mudanças climáticas, tornando os eventos climáticos extremos" - Junior Soares/Folha de Pernambuco

O chairman da Matrix Energia, maior comercializadora de energia no mercado livre no Brasil, Wilson Ferreira Jr., que esteve no Recife, nesta sexta (22) para falar para um grupo de executivos e empresários locais sobre a transição energética e os impactos no setor de energia, afirmou que Pernambuco vai poder contribuir fortemente nesse processo.  

Isso é possível, segundo ele, pela qualidade da mão de obra, da tecnologia, dos engenheiros e, sobretudo, graças ao Porto Digital. “Esse processo de transição energética vai precisar de muita inovação e tecnologia. Então, eu acredito que vocês tenham aqui o capital, as pessoas para poder prover essa inovação e tecnologia que o processo de transição energética nas diversas aplicações que terá – hidrogênio, carregamento de carros elétricos etc. – vai precisar”, justificou ele pouco antes de começar o  evento.

Wilson, que comandou duas palestras, uma pela manhã e a outra à tarde, no Mar Hotel, em Boa Viagem, Zona Sul da cidade, a convite da LIDE Energia, também falou sobre a importância de conscientizar as pessoas sobre o porquê se vive hoje no mundo uma emergência climática e sobre os impactos decorrentes dela, principalmente na questão ambiental.

O chairman, que já foi presidente da Eletrobrás, Vibra e CPFL, também abordou o aumento de temperatura, eventos extremos de grande frequência e intensidade, como inundações, e os impactos que afetam a população, como as chuvas no Rio Grande do Sul e, ao mesmo tempo, a seca profunda na Amazônia.

“É indiscutível que as atividades humanas estão causando essas mudanças climáticas, tornando os eventos climáticos extremos, com ondas de calor, chuvas intensas e secas mais frequentes e severas. Esse tipo de coisa acontece no mundo inteiro. A gente pensa que só tem aqui, que só foi lá no Rio Grande do Sul. Não é. Isso está acontecendo no mundo inteiro”, explicou ele.

Para Wilson, geração atual é a primeira a entregar o planeta a sua sucessora em condições piores do que encontrou                   Foto: Junior Soares/Folha de Pernambuco  

No setor de energia, lembrou ele, seja alta temperatura, seja inundação, causam transtornos na atividade de geração, transmissão e distribuição. Nesse caso, Wilson mostrou os impactos que se tem no Brasil, por exemplo, com menos água nos reservatórios das hidrelétricas, precisando de geração termoelétrica para complementar; ventos e chuvas que afetam as redes de transmissão e distribuição, causando transtornos aos consumidores, que ficam horas e até dias sem energia elétrica.

Wilson sugeriu a necessidade de adaptação, que envolve alterações na regulamentação para estimularem as concessionárias de energia a serem mais resilientes nos seus sistemas elétricos.

“O mundo inteiro tem que fazer coisas para eletrificar, para renovabilidade da matriz. A gente já fez muita coisa, somos um exemplo. O nosso problema não é esse. É olhar o que a gente pode fazer no setor elétrico para ele ser resiliente e se adaptar. No passado, se podia tentar mitigar. A gente já não tem mais tempo de fazer isso. Temos realmente fazer no setor algo que se adapte a uma situação mais grave do clima”, acrescentou.

Executivos e empresários pernambucanos na segunda palestra do dia de Wilson Ferreira Jr.                              Foto: Junior Soares/Folha de Pernambuco 

Ao final, Wilson disse que as mudanças climáticas é o grande desafio, e que a geração atual é a primeira a entregar para a sua sucessora o planeta em condições piores do que encontrou. 

"Uma coisa boa é que a gente deixa gente melhor que nós para tomar conta. Eu tenho convicção que a consciência social, ambiental dos meus filhos é muito maior que a minha com a mesma idade. Esse é o lado bom, mas não significa que a gente tem que abandonar. Significa que a gente tem muito o que fazer e dá para fazer muita coisa ainda. Os impactos são muito evidentes, a frequência vai aumentar se a gente não fizer nada. Então, é preciso fazer alguma coisa”, alertou.

Wilson ainda lembrou que, no próximo ano, o Brasil vai sediar a COP 30, primeiro evento a aferir os resultados assumidos em 2015 para 2025. “É a primeira que vai ter uma accountability (prestação de contas). Vai ser muito importante saber o que a sociedade vai fazer em cima disso em função do que a gente está vivendo. Nós somos o sexto maior emissor, e podemos ser o vigésimo só reduzindo o nosso desmatamento”, pontuou.