Produção de vinhos e enoturismo ganham destaque no Agreste Pernambucano
Além de Garanhuns, Gravatá, Camocim de São Félix e Bonito também contam com projetos para a implantação de vinhedos com rotas turísticas
Apesar da tradição vinícola em Pernambuco ser mais forte no Vale do São Francisco, no Sertão, a cidade de Garanhuns, no Agreste, vem ganhando destaque na produção de vinhos e está, inclusive, na rota do enoturismo do Estado.
No município, duas vinícolas estão abertas ao público: Vale das Colinas e Mello Vinícola. Para além da produção da bebida, as empresas desenvolvem uma série de atividades para os visitantes, alavancando esse novo nicho do turismo na região.
Os estudos pioneiros realizados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Semiárido, em parceria com a Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (Ufape) e o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), permitiram a estruturação da cadeia produtiva na região vinícola do Agreste, especialmente em Garanhuns.
Viabilidade
A pesquisa serviu para compreender o comportamento agronômico, a adaptação das variedades, a qualidade das uvas, o potencial enológico e a viabilidade do processamento de vinhos em regiões não tradicionais. O projeto, iniciado em 2013, envolveu o cultivo e avaliação de dez variedades de uvas europeias em cinco ciclos de produção no campo experimental do IPA, no município de Brejão.
A partir do levantamento, seis variedades de uvas foram recomendadas especificamente para a região. Para a produção de vinhos brancos, as cultivares sugeridas foram Sauvignon Blanc, Muscat Blanc à Petits Grains e Viognier. Para os vinhos tintos, as variedades mais indicadas foram Syrah, Cabernet Sauvignon e Malbec.
“Durante três anos foram conduzidas as primeiras safras e colheitas. Tivemos as elaborações dos vinhos experimentais. As vinificações foram realizadas na Embrapa, em Petrolina, e nesse meio tempo, tivemos a sorte de um empresário local ter interesse em iniciar um projeto pioneiro de instalação de uma vinícola”, pontuou a pesquisadora da Embrapa Semiárido, Patrícia Coelho de Souza Leão.
A Vale das Colinas, primeira vinícola do Agreste, implantou as variedades de uvas recomendadas pela Embrapa e, em 2020, abriu as portas para o enoturismo. Além disso, cidades como Gravatá, Camocim de São Félix e Bonito também contam com projetos para a implantação de vinhedos com rotas turísticas.
Segundo Patrícia, os primeiros resultados da pesquisa foram positivos, pois a viticultura tem uma importância grande do ponto de vista econômico e social para as regiões onde é cultivada.
“A Embrapa alerta também para os desafios. É importante que os empreendedores façam um planejamento de negócio, um trabalho que pode, inclusive, ser bem assessorado pelo Sebrae”, orientou.
Consultorias
O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Pernambuco (Sebrae-PE) atua como parceiro e incentivador do enoturismo, desenvolvendo cursos e consultorias em áreas como atendimento e desenvolvimento de rotas turísticas para os empresários da área. As vinícolas Mello e Vale das Colinas contam com o apoio do Sebrae para implementar o novo negócio.
“O Sebrae atua nessa parte de atendimento ao cliente, estudo de viabilidade econômica, e na parte de acesso ao mercado, que é quando a gente consegue levar essas empresas para eventos dentro do município e do Estado”, disse a analista técnica do Sebrae PE no setor do agro, Kedima Azevedo.
Empreendimento
A Mello Vinícola, fundada em 2021, é uma das empresas que investe na produção de vinhos em Garanhuns. Desde agosto deste ano, a vinícola também atua no enoturismo.
O lugar oferece diversos roteiros de visitas, com opções que vão desde o passeio grátis, no qual os visitantes pagam apenas o que consomem, a roteiros pagos e guiados, durante os quais é possível conhecer os parreirais e fazer degustação.
Segundo o proprietário da Mello Vinícola, Carlos Mello, a empresa nasceu da paixão do patriarca da família, Mário. Atualmente, o espaço possui 6,5 hectares plantados de uvas viníferas. Para a produção de vinhos tintos, a vinícola conta com plantações de uvas Malbec, Merlot, Cabernet Franc e Pinot Noir. Para os vinhos brancos, são Chenin Blanc e Chardonnay.
“A gente sempre pensou em cultivar, vinificar, tudo na nossa vinícola, e paralelo a isso ter o enoturismo, que é muito importante. Nosso projeto inicialmente foi fazer um bom vinho, porque não adianta você ter um lugar lindo e maravilhoso e não ter um vinho de qualidade. O vinho tem que ser o chamariz para as pessoas que gostam do enoturismo, e, a partir daí, o visitante vai fazer outros passeios dentro da vinícola”, explicou Carlos.