Frigoríficos brasileiros cessam fornecimento ao Carrefour após corte de carne brasileira na França
JBS (com a marca Friboi), Marfrig e Masterboi iniciaram a interrupção às lojas do Brasil na quinta-feira
Após o CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, afirmar que a rede deixaria de comprar carne do Brasil, os maiores frigoríficos brasileiros decidiram suspender o fornecimento de carne ao grupo no país, que também comanda a rede Atacadão.
Segundo fontes, JBS (com a marca Friboi), Marfrig e Masterboi já iniciaram o corte de fornecimento ao grupo entre a última quinta-feira e sexta-feira. Procuradas, as empresas não comentaram.
Em nota conjunta, diversas associações, como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), entre outras, afirmaram que, se o executivo entende que o Mercosul não é fornecedor à altura do mercado francês, também "não serve para abastecer o Carrefour em nenhum outro país".
“Reafirmamos o compromisso do setor com a produção responsável, sustentável e com a segurança alimentar”, declararam as entidades.
As associações destacaram ainda que o Mercosul é líder mundial em exportação de carne de frango e bovina. “Foram necessárias décadas para que o Mercosul, como um todo, avançasse em sua reputação internacional como produtor de carnes. Com responsabilidade, o setor na região foi o principal fornecedor para todos os mercados durante a pandemia.”
Procurado, o Carrefour no Brasil disse que não há desabastecimento nas lojas do Brasil.
Na noite de sexta-feira, a Federação de Hotéis, Bares e Restaurantes do Estado de São Paulo (Fhoresp) também se manifestou em repúdio. Em nota, a entidade convocou “todos os empresários do setor de hotelaria e alimentação fora do lar a se engajarem em uma ação de reciprocidade, boicotando essa rede de supermercados enquanto continuar a desvalorizar os produtos brasileiros”.
Entenda a crise
O impasse é motivado por conta de um possível acordo entre União Europeia e Mercosul, previsto para acontecer até o fim deste ano, o que vem gerando manifestações na França por agricultores.
Durante o G20, no Rio, o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que o país "não está isolado" em sua oposição ao estado atual do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, cuja negociação começou em 1999. Empresários europeus temem a concorrência com produtos agrícolas do Brasil e da Argentina, principalmente.
Macron é apontado como o principal obstáculo para o avanço do acordo. Durante o encontro no Rio, a Itália manifestou apoio à posição do presidente francês.
No entanto, a Comissão Europeia, com o apoio de vários países importantes do bloco, como Alemanha e Espanha, é favorável ao fechamento do acordo de livre-comércio com o Mercosul antes do fim deste ano.
Se a Comissão Europeia levar o tratado adiante sem o consenso francês, Macron precisará do apoio de outros países para bloquear a aprovação, formando a chamada "minoria de bloqueio", que exige ao menos quatro dos 27 países da UE, desde que a aprovação fique abaixo de 65% dos integrantes.