AMÉRICA LATINA

Opositores de Maduro denunciam novo cerco policial a embaixada argentina na Venezuela

Membros armados e encapuzados das forças de segurança venezuelanas cercaram sede diplomática onde seis membros da oposição estão refugiados

Nicolás Maduro - Pedro Rances Mattey / AFP

Pela segunda vez em dois meses, membros armados e encapuzados das forças de segurança da Venezuela cercaram a embaixada da Argentina em Caracas, denunciaram líderes oposicionistas na noite de sábado e na manhã deste domingo.

Atualmente, seis membros da oposição estão refugiados no local, para onde fugiram nos meses que antecederam as eleições presidenciais do país, ocorrida em julho.

A sede é gerida pelo Brasil desde agosto, quando o governo do presidente Nicolás Maduro expulsou os corpos diplomáticos da Argentina e Peru, que não reconheceram a vitória do líder chavista no pleito.

“Agentes encapuzados da DAET – um corpo da Polícia Nacional – com armas longas cercam novamente a residência da embaixada da Argentina em Caracas, protegida pelo Brasil. Eles rodeiam a sede diplomática e bloqueiam os acessos na rua. Drones sobrevoam a área, e o sinal telefônico também foi cortado”, escreveu no X Pedro Urruchurtu, que está na embaixada desde março e é coordenador internacional da oposição liderada por María Corina Machado.

Ele publicou vídeos que mostram viaturas policiais nas proximidades do prédio.

O cerco à embaixada ocorreu apenas um dia após a Procuradoria da Venezuela abrir uma nova investigação contra María Corina por “conspirar” com o governo do americano Joe Biden para promover, nos Estados Unidos, um projeto de lei que busca ampliar o isolamento econômico do regime de Maduro.

Em comunicado, o Ministério Público venezuelano afirmou que “as declarações públicas da acusada (María Corina) sobre este projeto de lei ilegítimo a envolvem gravemente e configuram prática do crime de traição à pátria”.

A nota também acusa a Câmara de Representantes dos EUA de “ações criminosas” que visam “ampliar o catálogo de sanções ilegais contra o povo venezuelano” – e que teriam o apoio da líder opositora, que tem vivido clandestinamente na Venezuela devido às constantes ameaças de prisão.

Na última segunda-feira, a Câmara dos EUA aprovou o projeto de lei bipartidário Bolívar, que proíbe a assinatura de contratos com indivíduos ou empresas que façam negócios com qualquer governo venezuelano não reconhecido por Washington.

O projeto ainda precisa da aprovação do Senado e da assinatura do presidente para entrar em vigor. Caracas classifica a proposta como um “ataque criminoso”, afirma que ela viola a Carta das Nações Unidas e diz que ela se soma “a mais de 930 medidas coercitivas unilaterais e extraterritoriais”.

Em resposta, o Parlamento venezuelano aprovou, na quinta-feira, a “Lei Orgânica Libertador Simón Bolívar contra o Bloqueio Imperialista”, que prevê a inabilitação de venezuelanos que apoiem as sanções americanas para ocupar cargos públicos.

‘Assédio e intimidação’

O Ministério de Relações Exteriores da Argentina, liderado por Gerardo Werthein, emitiu um comunicado condenando “os atos de intimidação e assédio contra as pessoas asiladas na Embaixada argentina em Caracas, atualmente sob proteção diplomática do governo brasileiro”.

A chancelaria apelou à comunidade internacional para “condenar essas práticas” e agradeceu o Brasil por “representar os interesses argentinos na Venezuela, esforçando-se para garantir a segurança dos asilados frente ao assédio do regime venezuelano”.

“O envio de forças armadas, o bloqueio de ruas ao redor da nossa embaixada e outras ações representam uma ameaça à segurança que deve ser garantida às sedes diplomáticas, de acordo com o direito internacional, bem como àqueles que solicitaram asilo diplomático. (...) A Argentina reafirma seu compromisso com a defesa dos direitos humanos, o respeito às normas internacionais e a segurança daqueles que estão em situação de asilo”, diz a nota.

A polícia da Venezuela já se posicionou em várias ocasiões nos arredores da residência da embaixada da Argentina desde a entrada dos seis colaboradores de Machado, incluindo sua chefe de campanha, Magalli Meda, em março deste ano.

O último cerco denunciado foi em setembro, quando a Venezuela anunciou sua decisão de revogar a permissão dada ao Brasil para representar os interesses da Argentina. O governo brasileiro, entretanto, anunciou posteriormente que continuaria defendendo a sede diplomática.

A denúncia mais recente do cerco à embaixada ocorreu, ainda, após María Corina convocar um protesto para o próximo dia 1º de dezembro, afirmando que a população deve “agir agora”, e prometer ações “mais firmes e decisivas” para o próximo 10 de janeiro, quando ocorrerá a posse presidencial na Venezuela. María Corina e o candidato opositor Edmundo González Urrutia denunciam fraude nas eleições de julho, quando o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou Maduro vencedor sem apresentar detalhes da apuração.

(Com AFP e La Nación)