ELEIÇÕES

Eleição na Romênia tem surpresa com empate entre candidato pró-Rússia e atual primeiro-ministro

Líder do partido de extrema direita romeno, George Simion era apontado nas pesquisas como provável segundo colocado, porém apareceu em quarto na disputa deste domingo

Calin Georgescu; Marcel Ciolacu e George Simion - Foto: AFP

Um candidato pró-Rússia surpreendeu no primeiro turno da eleição presidencial da Romênia, neste domingo, ao alcançar um percentual semelhante de votos ao do atual primeiro-ministro pró-Europa, Marcel Ciolacu, apontam os resultados com 90% das urnas apuradas.

Calin Georgescu, que nas pesquisas aparecia com menos de 10%, obteve quase 22% dos votos e caminha para um segundo turno contra Ciolacu, que foi a escolha de 21,1% dos eleitores. Em terceiro lugar, com 16,6%, está Elena Lasconi, jornalista e prefeita de centro-direita de uma cidade pequena no país.

Como quarto colocado, também surpreendeu George Simion, líder do partido de extrema-direita AUR (Aliança pela Unidade dos Romenos). O político era apontado nas pesquisas eleitorais como o provável nome a ir para um segundo turno contra o atual primeiro-ministro, mas obteve apenas 14,5% dos votos.

Simion tem um estilo frequentemente comparado ao do presidente eleito dos EUA, Donald Trump. Ele chegou a usar um boné vermelho com as iniciais de Trump durante a campanha e não escondeu sua admiração pelo bilionário.

O atual primeiro-ministro, Ciolacu, agradeceu aos eleitores pelo resultado “cristalino”, mas pediu, no entanto, para aguardar a apuração completa para saber quem enfrentará no próximo dia 8.

A Romênia, com uma população de 19 milhões de habitantes, tem resistido até agora às posições nacionalistas de países como a Hungria e a Eslováquia. Após 10 anos sob a presidência de Klaus Iohannis, um fervoroso apoiador da Ucrânia e tenaz defensor dos valores europeus, as eleições deste ano são cruciais, embora o cargo seja principalmente cerimonial.

O país, que compartilha 650 km de fronteiras com a Ucrânia e faz fronteira com o Mar Negro, tem um papel estratégico “fundamental” para a OTAN (abriga mais de cinco mil soldados) e para o trânsito de grãos ucranianos, segundo informações do think tank New Strategy Center.

— A democracia romena está em perigo pela primeira vez desde a queda do comunismo em 1989. A situação se tornou ainda mais complicada (desde a vitória de Donald Trump nas eleições americanas) — disse à AFP o cientista político Cristian Parvulescu em meio ao crescimento de Simion nas pesquisas.

Apesar das projeções após o fechamento das urnas, o líder da extrema direita não se considerou derrotado. — Veremos os resultados das urnas às 23h — declarou, prometendo “mais duas batalhas, durante as eleições legislativas de 1º de dezembro e, uma semana depois, no segundo turno presidencial”.

Simion, que defende uma Romênia “mais patriótica”, preenche todos os requisitos de uma política nacionalista: é contra a ajuda militar a Kiev, que o vetou por suas atividades “anti-ucranianas”, chama a União Europeia de “bolha corrupta” e se opõe aos direitos LGBTQIAP+.

Por sua vez, Georgescu conquistou os eleitores nos últimos dias com uma campanha no TikTok que se tornou viral, com foco também na necessidade de interromper a ajuda à Ucrânia. — Esta noite, o povo romeno gritou pela paz. E eles gritaram muito alto, extremamente alto — disse o candidato pró-Rússia após o anúncio dos resultados.

Polêmica e ataques pessoais
A campanha presidencial na Romênia ocorreu em um contexto tenso e foi marcada por uma série de controvérsias e ataques pessoais. O líder da extrema direita foi acusado de se encontrar com espiões russos, o que ele nega, enquanto o primeiro-ministro foi criticado por voos polêmicos em jatos particulares.

Apesar de seu baixo índice de popularidade, Marcel Ciolacu, empenhado em projetar a imagem de um homem humilde e autodidata, procurou convencer as pessoas com sua mensagem de “estabilidade”.

Seu partido, herdeiro do antigo Partido Comunista, tem sido uma força política dominante no país há mais de três décadas, apesar de vários escândalos de corrupção. Atualmente, ele governa em coalizão com os liberais do PNL.