Após revés do PT, Lula traça plano de aproximação com prefeitos para neutralizar bolsonarismo em 26
Presidente prepara ofensiva para se aproximar dos mandatários de partidos de centro e da oposição
Com o PT apenas em nono lugar no ranking de prefeitos eleitos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prepara uma ofensiva para se aproximar dos mandatários de partidos de centro e da oposição e, consequentemente, pavimentar um caminho que possa resultar em alianças para o seu arco político em 2026.
O PT elegeu 252 prefeitos, resultado melhor na comparação com 2020, mas ainda distante do topo ocupado por PSD (887) e MDB (856). O PL, principal sigla da oposição, saiu das urnas com 516 chefes de executivos municipais, mais do que o dobro da sigla de Lula. Além disso, a legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro vai comandar quatro capitais, enquanto apenas uma terá um petista à frente. No mês passado, o presidente reconheceu que era necessário "rediscutir" o papel do PT após o desempenho eleitoral.
Prefeitos são cabos eleitorais relevantes para a eleição de deputados federais e senadores — o bolsonarismo já manifestou que dará atenção especial ao Congresso em 2026, especialmente ao Senado. Na tentativa de neutralizar o plano dos opositores, a estratégia do Palácio do Planalto inclui um grande encontro de 11 a 13 fevereiro do ano que vem, em Brasília.
O objetivo da "Marcha dos Prefeitos de Lula" é reunir 15 mil gestores (prefeitos, vices e secretários dos 5.570 municípios) no Centro de Convenções Ulysses Guimarães para apresentar programas do governo, políticas públicas e possibilidades de financiamento.
Haverá palestras, oficinas com assistência técnica para acesso a programas e sistemas do governo federal, painéis e estandes com os 38 ministérios representados. Há uma ideia, ainda inicial, de oferecer aos prefeitos a possibilidade de indicar obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com a intenção de prestigiá-los — e aproximá-los eleitoralmente.
O Planalto identificou também que existe uma crítica de prefeitos ao que consideram um excesso de burocracia para a contratação de obras, o que fez o governo elaborar mecanismos para acelerar o pagamento de recursos.
Os principais pedidos que chegam ao Planalto tratam de recursos para pavimentação, creches, escolas em tempo integral e Minha Casa, Minha Vida, além do agendamento de reuniões em ministérios como Saúde, Educação e Cidades. Procurada para comentar o viés eleitoral das ações, a Secretaria de Relações Institucionais não se manifestou.
Com essa movimentação, o governo tenta se aproximar dos prefeitos sem depender da Confederação Nacional de Municípios (CNM), entidade que representa mais de 5,2 mil municípios e organiza anualmente a Marcha dos Prefeitos, em Brasília, ocasião que os mandatários usam para pedir recursos a ministérios e parlamentares. A organização é comandada por Paulo Ziulkoski, visto com ressalvas por auxiliares de Lula pela relação próxima que manteve com o ex-presidente Jair Bolsonaro.
— Quem tem o poder da caneta na mão, de conceder benefícios, forma uma pequena máquina partidária. Todos os prefeitos são bem recebidos, só que nada ou muito pouco acontece depois. Não é uma questão só do governo atual, mas de todos — critica Ziulkoski.
Redução de danos
Ao atender e levar adiante demandas de prefeitos que sejam identificados com Bolsonaro, articuladores políticos de Lula esperam desestimular que eles façam campanha a candidatos adversários ao governo pelo país em 2026. Na campanha mais recente, o Planalto avalia que já houve exemplos de "redução de danos". Um desses casos foi a campanha de Cristiane Muniz (PL), eleita prefeita de Urupema (SC). Embora tivesse fotos com o ex-presidente e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, optou por não utilizá-las na propaganda.
— Não usei (as fotos) de forma proposital. Meu intuito era ter uma postura mais agregadora. No meu estado (Santa Catarina), o governador é do PL (Jorginho Melo), com quem sempre falo. O presidente é Lula e preciso dele. Minha postura é essa porque preciso transitar bem e pensar na população — afirmou a prefeita.
Além dos adversários políticos diretos, prefeitos de partidos com vagas na Esplanada dos Ministérios também preocupam o entorno de Lula. São os casos de PSD, MDB, PP União Brasil. Ao mesmo tempo que integram a gestão petista, os partidos têm representantes pelo país alinhados ao bolsonarismo e relação próxima com parlamentares também pouco simpáticos ao PT. Além disso, apesar das tentativas de melhorar o acesso ao Planalto, mesmo aliados reconhecem a persistência de obstáculos.
— Algumas demandas dos prefeitos que demoram a ser processadas. O PAC foi lançado e ainda tem muita coisa que já está sendo assinada, mas precisava uma avançar ainda mais. O que precisa é diminuir o tempo de discussão do projeto, com aprovação, aceitação e o começo da obra — afirma o presidente da Frente Nacional dos Prefeitos, Edvaldo Nogueira (PDT), que comanda Aracaju e é aliado de Lula.
Caravanas com Padilha
Essa não é a primeira vez que o governo tenta essa aproximação com prefeitos. Desde o ano passado, Padilha vinha rodando o país com as “Caravanas federativas”, que também buscavam atrair políticos locais para o campo governista. Nos encontros, gestores, ministros, servidores das pastas e funcionários de bancos públicos se reuniam com prefeitos e secretários municipais para tirar dúvidas de políticas e apresentar ações de interesses regionais. Os eventos foram interrompidos em julho devido ao período eleitoral.
O objetivo oficial era facilitar o trabalho da burocracia local e destravar projetos, mas o cunho político-eleitoral era evidenciado nos discursos de autoridades, o que fez, por exemplo, o comando do PL vetar a presença dos seus filiados. O governo, no entanto, argumenta que os eventos tinham "caráter republicano".