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Saiba quem é o delegado da PF por trás da investigação da trama golpista

Rodrigo Morais investigou a facada no ex-presidente e terá nova função em Londres

Delegado Rodrigo Morais - Karina Camargos Coutinho/TCE-MG

Chefe de uma das principais diretorias da Polícia Federal, a de Inteligência Policial (DIP), o delegado Rodrigo Morais, de 51 anos, vai deixar em breve o posto e passará a exercer a função de adido da PF na embaixada do Brasil em Londres pelo prazo de três anos. Antes disso, ele concluiu o inquérito do golpe e indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 36 pessoas, a maioria militares, por tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de direito e organização criminosa.

A investigação começou no ano passado e é a principal apuração que envolve o ex-presidente, porque pode levá-lo a 28 anos de prisão caso seja processado e condenado com pena máxima no próximo ano. É também o departamento de Morais responsável pela investigação do homem-bomba, Francisco Wanderley, que acionou artefatos explosivos na Praça dos Três Poderes no último dia 13.

Morais é tido pelos pares como um delegado discreto, inteligente e muito técnico. Colegas dizem que ele é “cirúrgico” nos movimentos e nas diretrizes, e que tem um perfil de líder que conduz muito bem sua equipe.
 

Estão com ele, no DIP, outras investigações importantes contra o ex-presidente que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes, como a das fraudes no cartão de vacinas, a dos desvios de itens de joias e presentes que pertencem ao acervo presidencial e a da “Abin paralela”, sobre o aparelhamento da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na gestão do ex-diretor Alexandre Ramagem, hoje deputado federal e também indiciado no inquérito da trama golpista.

Ainda antes do governo Bolsonaro, Morais já era responsável por um inquérito importante para o ex-presidente. Em 2018, ele ocupava o posto de delegado regional de combate ao Crime Organizado em Minas Gerais, e ficou sob sua competência a investigação envolvendo a facada que o ex-presidente levou durante um ato de campanha em Juiz de Fora.A PF concluiu no inquérito que Adélio Bispo de Oliveira, o executor da tentativa de homicídio, agiu sozinho.

Bolsonaro e seu entorno, no entanto, não ficaram satisfeitos com o resultado das investigações. O ex-presidente alegava que a apuração deveria identificar um suposto mandante da tentativa de homicídio e defendia a tese de que Adélio não era um “lobo solitário”.

A investigação continuou nos anos seguintes, já no governo do ex-mandatário. Em maio de 2020, Morais chegou a ir ao Palácio do Planalto para fazer uma apresentação em slides do resultado do inquérito sobre o atentado cometido por Adélio. Na época, o delegado foi levado pelo então ministro da Justiça, André Mendonça, acompanhado do então diretor-geral da Polícia Federal, Rolando de Souza.

Por causa da investigação, que não chegou à conclusão esperada por Bolsonaro e seu entorno político, o delegado se tornou alvo de ataques e desinformação nas redes sociais. Foram divulgados textos nas redes utilizando conteúdos da rede social de um vereador homônimo para dizer que o delegado era contra Bolsonaro. As publicações chegaram a ser desmentidas por agências de checagem.

A profusão de conteúdo enganoso fez com que o próprio delegado entrasse com ações contra deputados e influenciadores bolsonaristas por danos morais. Em uma ação contra uma parlamentar, ele alegou que foi prejudicado pela divulgação de informações falsas a seu respeito que o associavam ao PT e que diziam que ele prevaricou. O delegado descreveu desdobramentos negativos em sua vida pessoal, com comentários, ameaças e constrangimentos em seu próprio ambiente de trabalho. O processo foi encerrado a favor de Morais, prevendo um pagamento a título de danos morais.

Morais atuou em Minas Gerais na maior parte de sua carreira na PF. No fim de 2021, quando ainda era o delegado responsável pelo inquérito da facada, foi transferido para atuar em uma nova função fora do país. A partir de fevereiro de 2022 ele passou a ocupar o posto de oficial de ligação da PF junto à força tarefa de El Dorado no escritório da Homeland Security Investigations (HSI), em Nova York. Na época, ele afirmou ao GLOBO que a transferência para o exterior não era retaliação, mas sim um desejo seu.

Ele poderia ficar no posto por dois anos – ou seja, até o fim de 2023. Em fevereiro do ano passado, no entanto, ele foi nomeado como chefe do DIP. Ele deve ficar no cargo até o início de dezembro.