Energia é restaurada na Embaixada argentina na Venezuela, sob tutela do Brasil
Bloqueio à sede diplomática acontece desde sábado, é o segundo em apenas dois meses; seis membros da oposição a Nicolás Maduro estão refugiados no local
A energia na Embaixada da Argentina em Caracas, sob tutela do Brasil, foi restaurada na tarde de domingo após ter sido cortada por volta das 2h da madrugada como parte do cerco policial levado a cabo por membros armados e encapuzados das forças de segurança venezuelana.
Apesar disso, o bloqueio continua nesta segunda-feira, segundo informou Pedro Urruchurtu, um dos seis membros da oposição ao ditador Nicolás Maduro, encabeçada por María Corina Machado e Edmundo González Urrutia, refugiados no local. O cerco contra a embaixada é o segundo em dois meses.
"25 de novembro, dez da manhã: Mantém-se o assédio aos arredores da residência oficial da Embaixada da Argentina em Caracas, protegida pelo Brasil, com presença de funcionários das forças de segurança do regime [de Maduro]; alguns deles [estão] encapuzados", escreveu Urruchurtu em uma publicação no X.
Em seu perfil, também publicou fotos e vídeos que mostram uma viatura do serviço de Inteligência (Sebin).
Urruchurtu é assessor internacional do Vem Venezuela, partido fundado e comandado por María Corina. Está na embaixada desde março e é coordenador internacional da oposição.
Além dele, estão também na embaixada Magalli Meda, a chefe de campanha; Claudia Macero, jornalista responsável pela comunicação nacional; Omar González, chefe de campanha do estado de Anzoátegui; Humberto Villalobos; e Fernando Martínez Mottola, sem filiação partidária e que não pertenceu à campanha de María Corina, mas que é um dirigente importante da Plataforma Unitária, formada por vários partidos opositores.
Todos têm contra si ordens de prisão, emitidas pelo procurador-geral Tarek William Saab, ligado a Maduro, por “ações violentas”, “terrorismo” e “desestabilização” do país.
CERCO
A Embaixada Argentina está sob cerco desde sábado, um dia após a Procuradoria da Venezuela abrir uma nova investigação contra María Corina por conspirar” com o governo do americano Joe Biden para promover, nos EUA, um projeto de lei que busca ampliar o isolamento econômico do regime de Maduro. A oposicionista está na clandestinidade devido às constantes ameaças de prisão.
O cerco também segue na esteira da convocação de um protesto pela líder da oposição para o dia 1º de dezembro, na qual afirma que a população deve "agir agora" e prometer ações "mais firmes e decisivas" para o próximo 10 de janeiro, quando ocorrerá a posse presidencial na Venezuela.
Nesta segunda-feira, a conta do Comando com Venezuela, da campanha de María Corina, fez uma publicação para marcar os quatro meses da eleição, na qual Maduro foi proclamado vitorioso pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), resultado contestado pela oposição e boa parte da comunidade internacional.
"O triunfo de Edmundo González é esmagador e irreversível, embora a CNE se recuse a reconhecê-lo", afirmou a conta.
No fim de julho, após o governo venezuelano expulsar as equipes diplomáticas de ao menos sete países que questionaram os resultados das eleições presidenciais, a Argentina pediu para o Brasil assumir a representação de seus interesses na Venezuela. A bandeira do Brasil foi hasteada na embaixada em 1º de agosto.
Em setembro, o governo de Caracas chegou a suspender unilateralmente, de "maneira imediata", a custódia do Brasil no local. Brasília disse ter recebido "com surpresa" o anúncio, mas afirmou que só iria deixar a tutela quando outro país assumir o local. Em meio à tensão causada pelo cerco, Edmundo González foi para a Espanha em um avião militar espanhol e solicitou asilo político.
O opositor foi recebido pela secretária de Estado da América Latina, Susana Sumelzo. Na época, María Corina afirmou que a vida do ex-diplomata “corria perigo” e que, no contexto de “crescentes ameaças, intimações, mandados de prisão”, sua partida era necessária para “preservar sua liberdade, sua integridade e sua vida”.