A biomassa entra na rota do hidrogênio de baixo carbono
A termólise pode tornar bem mais barato o processo de produção do hidrogênio e seus derivados
A biomassa pode virar matéria-prima para o hidrogênio de baixo carbono através da rota da termólise. Essa é uma discussão bem acirrada na Europa e ganhou espaço no Fórum Internacional de Hidrogênio, que ocorreu na Bahia, na semana passada, reunindo especialistas nacionais e internacionais para debater os desafios e as oportunidades no futuro do hidrogênio
No Brasil, a maioria dos grandes projetos anunciados para fazer a produção do hidrogênio pretende usar a rota da eletrólise, gerando o hidrogênio verde, num processo que utiliza muita energia elétrica.
A termólise vem ganhando espaço como alternativa à eletrólise diante dos altos investimentos necessários para a implantação da rede de transmissão destinada ao hidrogênio verde (H2V).
O tema foi trazido pelo Movimento Econômico ontem (25). O diretor presidente da H2 Verde, Luiz Piauhylino Filho, um dos grandes especialistas do setor, disse à reportagem que o Brasil precisa ficar atento às novas rotas de produção do hidrogênio de baixo carbono. O país pode aproveitar algo que, em alguns setores, está sendo jogado fora: a biomassa. Isso inclui a palha da cana-de-açúcar, resíduos da soja, do coco, do dendê, do milho, só para citar alguns.
A termólise pode tornar bem mais barato o processo de produção do hidrogênio e seus derivados, segundo o especialista. Na termólise, a biomassa é queimada até atingir o calor necessário para se extrair o gás de síntese, o Syngas, do qual podem ser obtidos o dióxido de carbono, o gás carbônico e o hidrogênio. A partir do hidrogênio é possível produzir derivados, como o SAF, um querosene sustentável de aviação; o e-metanol ou biometanol e a uréia.
Investimento bilionário
Luiz Piauhylino Filho defende que o Brasil tenha uma combinação de várias rotas na produção do hidrogênio. E cita o que já está ocorrendo na Europa, como um dos fatores que vai influenciar a futura produção de hidrogênio no mundo. “A Europa já percebeu que não vai conseguir produzir o hidrogênio verde via eletrólise”, conta Luiz. Para a Europa cumprir as metas de descarbonização usando o hidrogênio verde, teria que fazer um investimento de 700 bilhões de euros em redes de transmissão de energia até 2030.
Regulamentação
A expectativa é que a Europa regulamente em breve o hidrogênio de baixo carbono por outras rotas, incluindo a termólise. A produção de hidrogênio de baixo carbono emite mais CO2 do que o processo da eletrólise, destinado ao H2V, e que usa corrente elétrica para separar o hidrogênio do oxigênio encontrados na água. Nos países europeus, a futura regulamentação vai definir o quanto poderá ser emitido de CO2 por quilo de hidrogênio de baixo carbono produzido.
Expectativa
Alguns projetos de hidrogênio do Brasil vão esperar a regulamentação do hidrogênio de baixo carbono da Europa, como argumenta Luiz. Esta regulamentação pode impactar o mercado como um todo. Alguns projetos a serem implantados no Brasil pretendem exportar o hidrogênio para a Europa.
Vantagens para o Brasil
Como o Brasil é um grande produtor agrícola, terá muita facilidade para produzir o hidrogênio de baixo carbono, por ter disponibilidade de grandes quantidades de biomassa. “O Brasil pode se tornar um grande supridor de hidrogênio e seus derivados, porque tem sol, vento e biomassa. O hidrogênio de baixo carbono no Brasil vai ter um preço mais competitivo e consequentemente os seus derivados”, cita Luiz.
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