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Quase metade dos municípios na Mata Atlântica teve aumento de vegetação nativa após Código Florestal

Apesar desse crescimento, 60% das cidades do bioma têm menos de 30% desta flora originária

Mata Atlântica - Tomaz Silva/Agência Brasil

Quase metade (45%) dos municípios presentes na Mata Atlântica teve aumento na vegetação nativa entre 2008 e 2023. É o que mostra um novo levantamento do MapBiomas que analisa ganhos e perdas de flora desde a data de aplicação do Código Florestal do bioma, há 16 anos. Enquanto houve melhora em parte dos territórios, 18% das cidades perderam área de vegetação nativa no período.

Os pesquisadores apontam que 60% dos municípios com Mata Atlântica têm menos de 30% de vegetação nativa e mais da metade das cidades (53%) com mais de 50% do território composto por esta flora possui alguma Unidade de Conservação dentro dos seus limites.

Com apenas 31% de cobertura vegetal nativa, a Mata Atlântica é o bioma brasileiro que mais sofreu transformações nos últimos séculos. O MapBiomas afirma que a perda desta flora entre 1985 e 2023 foi de 3,7 milhões de hectares, o equivalente a 10% do total. No período, apenas três estados tiveram aumento de área de vegetação nativa: Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São Paulo.

— Os dados mostram a importância da lei da Mata Atlântica para o seu uso e proteção. O bioma convive simultaneamente com o desmatamento e a regeneração, mas em regiões que não coincidem. Ainda perdemos matas nas regiões onde ainda há uma proporção relevante de remanescentes e ganhando onde a devastação ocorreu décadas atrás e sobrou muito pouco — aponta Luis Fernando Guedes Pinto, Diretor Executivo da Fundação SOS Mata Atlântica.

O estudo aponta uma redução de 49% da área desmatada no bioma no ano passado, em comparação com o que foi perdido em 2000. Essa queda ocorreu principalmente em áreas de formação florestal, sendo mais da metade correspondente a territórios de vegetação secundária, ou seja, que já foram desmatados anteriormente e estavam em processo de regeneração.

Nas áreas naturais, a floresta foi o tipo de cobertura com maior queda no desmatamento nestes 39 anos: 2,7 milhões de hectares a menos. Por outro lado, a formação campestre foi a que, proporcionalmente, mais perdeu área no período, principalmente para conversão para pastagem e agricultura. Ocorreu uma redução de 27%, passando de 2,45 milhões de hectares para 1,79 milhão de hectares.

O bioma concentra 51,5% de toda a área urbanizada do país, o que representa um aumento de 2,5 vezes do território ocupado em 1985 (1,3 milhões de hectares a mais). Os estados com maior expansão no ano passado foram São Paulo, Paraná e Minas Gerais, com 707 mil hectares, 294 mil hectares e 227 mil hectares.

— O desmatamento zero e a restauração em grande escala vão garantir o futuro do bioma, contribuir para enfrentar as crises globais do clima e da biodiversidade, garantir serviços ecossistêmicos e evitar tragédias localmente — ressalta o Diretor Executivo da Fundação SOS Mata Atlântica.

Mais agricultura, menos pastagem
No período de 39 anos, a área agrícola no bioma teve um salto de 91%, passando de 10,6 milhões de hectares para 20,2 milhões de hectares. O MapBiomas destaca que, de toda a área de agricultura no Brasil, um terço está na Mata Atlântica. O maior aumento proporcional ocorreu no Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul e São Paulo.

Se por um lado a agricultura foi a classe que mais cresceu no bioma entre 1985 e 2023, a pastagem foi a que mais perdeu, principalmente pela conversão para cultivos agrícolas. Mesmo que com menos espaço, o território destinado ao pasto ainda ocupa 26,23% de toda área do bioma, o equivalente a 29,02 milhões de hectares.

O levantamento destaca que as áreas de agropecuária passaram de 69,81 milhões de hectares em 1985 para 71,99 milhões de hectares em 2023. No ano passado, 28% dos municípios de Mata Atlântica têm a agricultura como uso predominante. O destaque é para a produção da soja e da cana-de-açúcar, que somam 87% da área de lavoura temporária do bioma.