Após conflitos, PT e PV avaliam fim de federação, mas têm de ficar unidos até 2026; entenda
Petistas acreditam que união deixou suas alianças engessadas
Passadas as eleições municipais, em que registraram rusgas em ao menos cinco capitais, PT e PV agora discutem internamente não renovar em 2026 a federação que formam junto com o PCdoB — estratégia que ajudou as siglas menores atingirem a cláusula de barreira. Por lei, os três partidos deverão ficar unidos até abril do ano das próximas eleições.
A movimentação, ainda embrionária, ocorre diante de desacertos. De um lado, o PT acredita que estar federado deixou suas alianças engessadas e teme que as siglas aliadas atrapalhem acordos com o Centrão. Do outro, o PV culpa os petistas pela redução de seus quadros nos municípios. Em quatro anos, o PV passou de 47 prefeituras conquistadas para 14, uma queda de 70% no desempenho.
Integrantes do PV atribuem o resultado a um “autoritarismo interno”, uma vez que, por ter maior representatividade, o PT tem mais voz nas decisões da federação. Integrantes da ala nacional do PV já defendem a separação. É o caso da vice-presidente da legenda, Teresa Britto.
— O partido deu uma encolhida porque tivemos dificuldade em lançar candidaturas majoritárias, o espaço era só do PT. Não fomos ouvidos, não participamos da discussão. Não é interessante uma aliança em que só um lado é ouvido. Os partidos precisam se abraçar e com o PT isso não aconteceu. Sou contra a continuidade — afirma a dirigente.
Em ao menos cinco capitais, o PT apoiou ou lançou candidatura sem o aval do PV. Foram os casos de Belo Horizonte, Salvador, Cuiabá, Aracaju e João Pessoa.
Disputa mineira
O episódio mais emblemático ocorreu na capital mineira, onde a sigla expôs publicamente sua orientação contrária ao deputado federal Rogério Correia (PT). Desde o primeiro turno, lideranças do PV declararam apoio à reeleição de Fuad Noman (PSD), que venceu a corrida. O posicionamento incomodou a direção nacional petista, que chegou a cogitar entrar com um processo de infidelidade partidária.
— Quando o PT conversa com o centro é grande política, quando outro partido do progressismo faz isso é acusado de fisiologismo — critica a deputada estadual Lohanna França (PV)
Minas Gerais é um estado-chave na insatisfação, uma vez que a falta de consenso se repetiu no interior, principalmente na região Centro-Oeste, onde integrantes do PV foram preteridos na formação de chapas e os petistas escolhidos obtiveram cerca de 1% dos votos. A insatisfação local é minimizada por lideranças do PT.
— Nas eleições nacionais, a federação teve um resultado interessante. Na municipal, tivemos alguns problemas porque a federação não resolvia questões históricas no município. Caso continuemos juntos, ajustes terão que ser feitos, mas encaro com naturalidade uma descontinuidade — diz o presidente estadual do PT, o deputado Cristiano Silveira.
A preferência por apoiar um prefeito que buscou a reeleição ocorreu ainda em Salvador, com Bruno Reis (União Brasil). Por integrar a base do prefeito, o PV não subiu no palanque do vice-governador Geraldo Júnior (MDB), apoiado pelo PT.
Em João Pessoa, Cuiabá e Aracaju, nomes petistas não foram apoiados pelo PV. Na capital paraibana, o escolhido foi o prefeito Cicero Lucena (PP), enquanto em Cuiabá, a aliança foi com Eduardo Botelho (União). Em Aracaju, a mulher do senador Rogério Carvalho, Candisse Carvalho (PT), perdeu espaço para Luiz Roberto (PDT).
Também integrante da federação, o PCdoB teve menos atritos com o PT nas disputas locais, na comparação com o PV, mas também houve divergências, principalmente em Aracaju. As direções nacionais dos partidos ainda não bateram martelo sobre seu destino, embora a tendência seja pela não renovação da federação.
Enquanto o PT tende a seguir sozinho, o PV avalia integrar outra federação, diante da dificuldade de cumprir a cláusula de barreira. A regra estabelece um número mínimo de votos que os partidos precisam nas eleições à Câmara de Deputados para ter direito a fundo partidário e tempo de TV (veja os principais pontos no infográfico).
O partido estuda se juntar a uma possível federação formada entre PSDB e PDT ou entre PSB e PDT. Ambas ainda não foram formadas e são discutidas nas siglas.
Crise em outras siglas
Hoje federado com o Cidadania, o PSDB também enfrentou entraves internos por falta de consenso nas eleições. Em Curitiba, o deputado federal e presidente estadual do PSDB, Beto Richa, queria concorrer à prefeitura, mas foi surpreendido com o aceno público do Cidadania ao vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD). No Rio, enquanto os tucanos apoiaram o deputado federal Marcelo Queiroz (PP) e indicaram a vice na chapa, a vereadora Teresa Bergher, o Cidadania embarcou na reeleição de Eduardo Paes (PSD).
Outra federação que tem enfrentado dificuldades é a união entre PSOL e a Rede Sustentabilidade. A disputa mais acirrada se deu no Recife, onde o único deputado federal eleito pela Rede, Túlio Gadelha, queria ser candidato a prefeito, mas terminou preterido pela psolista e deputada estadual Dani Portela. Já em Belo Horizonte, o PSOL se dedicou à campanha do petista Rogério Correia e indicou a vice, Bella Gonçalves, ao mesmo tempo que o porta-voz da Rede em Minas Gerais, Paulo Lamac, coordenou a campanha de Fuad Noman e levou consigo outros filiados ao palanque.