FOLHA SAÚDE

Cirurgias para catarata com mais eficiência

Dados da Fiocruz apontam que 25% dos brasileiros com mais de 50 anos sofrem com a doença, que hoje dispõe de tecnologia de ponta como aliada para sua cura

Lúcio Maranhão, médico oftalmologista - Ricardo Fernandes/Folha de Pernambuco

Segundo dados levantados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019, a catarata afeta cerca de 65,2 milhões de pessoas no mundo, sendo responsável por 51% dos casos de cegueira no planeta. No Brasil, números trazidos pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em 2022 apontam que 25% dos brasileiros com mais de 50 anos sofrem com a doença.

Condição ocular comum a partir da meia-idade, a catarata é caracterizada pela opacidade do cristalino, que é a lente natural do olho. “À medida que a intensidade dessa turvação aumenta, isso vai comprometendo mais a visão”, explica Lucio Maranhão, médico oftalmologista com mais de 20 anos de experiência. 

ENVELHECIMENTO
A causa mais comum da catarata é o processo de envelhecimento humano. Com a idade, o cristalino vai perdendo gradualmente sua transparência, impedindo a capacidade de passagem da luz para a retina, o que afeta a visão e, em casos mais graves, pode levar à cegueira. 

Além do envelhecimento, a catarata pode ser adquirida por outros fatores. O uso prolongado e sem controle de medicamentos, como os corticoides, pode causar uma catarata medicamentosa. A exposição excessiva aos raios ultravioleta e os traumatismos oculares também podem desencadear a doença. Há ainda a possibilidade, rara, de bebês e crianças apresentarem  catarata congênita ao nascer ou pouco tempo após o nascimento. 

“Não há evidências científicas de que a exposição às telas cause catarata. O uso prolongado de celulares, tablets e computadores está mais associado ao aumento da miopia, especialmente em jovens, na verdade. A catarata pode causar miopia e embaçamento visual, mas isso ocorre com a evolução da própria doença, não por causa das telas”, esclarece o médico.

Sendo a catarata senil ainda majoritária, Lucio Maranhão alerta que a maioria das pessoas lidará com essa condição em algum momento da vida. “Uma vez que a dificuldade para enxergar vai se manifestando, o único tratamento definitivo é a cirurgia.”

O procedimento mencionado pelo especialista consiste na remoção do cristalino opaco e sua substituição por uma lente intraocular artificial (LIO). Graças aos avanços tecnológicos e da medicina, a cirurgia de catarata evoluiu, possibilitando aos oftalmologistas oferecerem o tratamento de forma individualizada, com base em fatores específicos do paciente. 

AVALIAÇÃO
Personalizar a cirurgia de catarata envolve uma avaliação minuciosa por parte do médico responsável pelo procedimento. O profissional deve levar em conta desde a saúde ocular até o estilo de vida e as necessidades visuais de cada paciente para determinar a lente e a abordagem cirúrgica.

Avaliação do paciente é fundamental (Foto: Ricardo Fernandes/Folha de Pernambuco)

“Conhecer os hábitos dos pacientes é fundamental. Se é piloto ou não é, qual é a sua profissão, se é um leitor assíduo ou se costuma dirigir à noite: tudo deve ser analisado. Além disso, os exames precisam ser bem avaliados para saber, por exemplo, se há alguma alteração na córnea ou na retina. Com todas essas informações em mãos, aí sim conseguimos fazer uma indicação mais precisa para cada pessoa”, afirma. 

Sobre a escolha da lente que deve ser utilizada na cirurgia, ele é taxativo. “Não existe uma lente que sirva para todos, mas sim a mais adequada para o seu olho.” A decisão sobre a LIO a ser implantada deve ser feita de acordo com as indicações do oftalmologista e com as necessidades de cada paciente. 

Produzidas em países como EUA e Japão, lentes mais modernas possuem preços mais elevados. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) obriga os planos de saúde a custeá-las, mas não determina qual modelo deve ser adquirido. “Nem sempre a melhor lente é a mais cara. Às vezes, uma lente com valor menor se adequa melhor àquele olho específico do que uma com preço mais elevado. O médico precisa fazer um bom planejamento pré-operatório”, aponta.

PRÓTESES
Atualmente, a indústria disponibiliza uma enorme gama de próteses. Com as chamadas LIOs premium, é possível não só restaurar a visão afetada pela catarata, mas também corrigir vícios refracionais, como miopia, presbiopia, astigmatismo e hipermetropia, reduzindo ou até mesmo eliminando a dependência de óculos. 

No consultório, Maranhão costuma receber uma alta demanda de pessoas interessadas nas LIOs premium, que são multifocais, por conta da possibilidade de não precisarem mais utilizar óculos. Mas essa não é uma indicação que serve para todos. “Em alguns casos, como pacientes com alterações na retina ou na córnea, essas lentes não são indicadas, pois podem causar distorções. Então, cabe ao médico saber quando indicar ou contraindicar”, pondera.

AVANÇOS
Outros avanços tecnológicos proporcionaram a personalização da cirurgia de catarata. Nos exames pré-operatórios, a biometria ocular a laser permite medir com precisão características como a curvatura da córnea e o comprimento axial, possibilitando a escolha da lente intraocular mais adequada. 

“Hoje, os aparelhos conseguem fazer uma leitura completa do olho, o que ajuda o cirurgião a ter mais precisão no planejamento cirúrgico, além de mais rapidez na avaliação”, comenta.

As técnicas empregadas também evoluíram. “Atualmente, fazemos a cirurgia com incisões menores no olho - com dois milímetros ou menos - e autosselante, ou seja, sem necessidade de sutura. Além disso, houve evolução nos equipamentos utilizados na cirurgia, que dão maior estabilidade do meio interno do olho para o cirurgião e fazem com que o procedimento seja mais rápido”, diz. 

FACOEMULSIFICAÇÃO
A técnica cirúrgica mais comum nos casos de catarata é a facoemulsificação, que fragmenta o cristalino com ultrassom para depois retirá-lo por meio de aspiração. Mas há também a opção de utilizar lasers, o que traz mais precisão em alguns passos do transoperatório. “Embora o resultado seja semelhante ao da cirurgia tradicional, o laser pode ser vantajoso em certos casos”, destaca. 

A cirurgia de catarata é um procedimento pouco invasivo e rápido, com duração média de 20 minutos. A recuperação costuma durar poucos dias, de acordo com cada paciente. Também é necessário seguir as recomendações e estar atento às restrições estabelecidas pelo oftalmologista. 

São vários os benefícios de uma visão personalizada na cirurgia de catarata, desde o menor risco de complicações até a correção de outros distúrbios visuais. Para Lucio Maranhão, a grande vantagem de um cuidado individualizado é poder entregar ao paciente aquilo que ele necessita e deseja. 

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