Bolsonaro 'liderando', Lula e Moraes monitorados e tanques: entenda o relatório da PF em seis pontos
Investigação apontou a participação de ex-presidente e mais 36 pessoas na trama golpista
O relatório da Polícia Federal (PF) do inquérito traz seis pontos principais sobre a apuração da trama golpista para evitar a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tendo como foco principal a liderança do ex-presidente Jair Bolsonaro em toda trama.
O conteúdo total da investigação ficou público na terça-feira após o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre Moraes enviar apuração com 884 páginas para a Procuradoria-Geral da República (PGR). Ao todo, 37 pessoas foram indiciadas.
Veja os principais pontos:
Bolsonaro 'planejou e atuou'
A PF apontou que o ex-presidente "planejou, atuou e teve domínio de forma direta e efetiva" de um plano de golpe de Estado para mantê-lo no poder no fim de 2022. Segundo a PF, os "atos executórios" realizados por um grupo "liderado" por Bolsonaro tinham o objetivo de abolir o Estado democrático de direito — "fato que não se consumou em razão de circunstâncias alheias à vontade de Bolsonaro", segundo relatório.
"Os elementos de prova obtidos ao longo da investigação demonstram de forma inequívoca que o então presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa que objetivava a concretização de um Golpe de Estado e da Abolição do Estado Democrático de Direito", diz o relatório, cujo sigilo foi retirado hoje.
'Kids pretos' desistem de plano
Plano para matar Moraes foi abortado após não adesão de Exército ao golpe:O plano para matar o ministro no dia 15 de dezembro de 2022 foi cancelado após a cúpula do Exército se negar a aderir à tentativa de golpe.
“Apesar de todas as pressões realizadas, o general Freire Gomes e a maioria do alto comando do Exército mantiveram a posição institucional, não aderindo ao golpe de Estado. Tal fato não gerou confiança suficiente para o grupo criminoso avançar na consumação do ato final e, por isso, o então presidente da República Jair Bolsonaro, apesar de estar com o decreto pronto, não o assinou. Com isso, a ação clandestina para prender/executar ministro Alexandre de Moraes foi abortada”, diz o relatório.
Lula monitorado
Os "kids pretos", encarregados do plano que previa os assassinatos de Moraes, do presidente Lula e do vice Geraldo Alckmin monitoraram Lula, então presidente eleito, por dois meses após as eleições de outubro de 2022.
De acordo com a PF, o monitoramento foi iniciado em meados de novembro de 2022, com equipes formadas por militares das Forças Especiais (FE) do Exército que acompanhavam o itinerário de Lula e do ministro Alexandre de Moraes, inclusive com o emprego de recursos do Batalhão de Ações e Comando-BAC da Força.
Tanques da Marinha
Uma mensagem encaminhada para o tenente-coronel Mauro Cid afirma que ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos era "patriota" e tinha "tanques no arsenal prontos". Para a Polícia Federal (PF), o diálogo reforça a adesão de Garnier ao planejamento de um golpe de Estado.
A conversa foi encaminhada a Cid pelo tenente-coronel da reserva Sergio Cavaliere. O relato sobre Garnier foi feito a Cavaliere por um contato cadastrado como "Riva", que não foi identificado pela PF. "O Alte Garnier é PATRIOTA. Tinham tanques no Arsenal prontos", escreveu ele.
Plano de fuga
O ex-presidente saiu do Brasil rumo aos Estados Unidos em dezembro de 2022 para evitar uma eventual prisão, segundo a Polícia Federal. A investigação encontrou no computador do tenente-coronel um plano de fuga criado em 2021 e que, segundo a corporação, foi colocado em prática no fim de 2022.
“Apesar de não empregado no ano de 2021, o plano de fuga foi adaptado e utilizado no final do ano de 2022, quando a organização criminosa não obteve êxito na consumação do golpe de Estado. Conforme será descrito nos próximos tópicos, Jair Bolsonaro, após não conseguir o apoio das Forças Armadas para consumar a ruptura institucional, saiu do país para evitar uma possível prisão e aguardar o desfecho dos atos golpistas do dia 08 de janeiro de 2023 ( “festa da Selma”)”, escreveu a PF.
Urnas levadas para perícia
Um diálogo entre Carlos Rocha, do Instituto Voto Legal (IVL), que foi um dos 37 indiciados pela PF, e Éder Balbino, que prestava serviços para o instituto, mostra a intenção de apreender as urnas após as eleições.
No dia 19 de novembro de 2022, Carlos Rocha diz: “Há um plano para apreensão de urnas para perícia forense. A regra de construção é selecionar urnas de todos os modelos com erros relevantes (System run error, Alsa Player, outros), em todas as UFs. Vamos montar uma lista com até 100 urnas”.