Golpe

Ex-segurança de Bolsonaro com cargo na Abin comandava núcleo de desinformação, diz PF

Marcelo Bormevet também é investigado em inquérito sobre espionagem ilegal no governo passado

Marcelo Bormevet foi preso pela PF - Reprodução/redes sociais

Um dos 37 indiciados no inquérito da tentativa de golpe, o policial federal Marcelo Araújo Bormevet comandava, segundo os investigadores, um grupo voltado à disseminação de desinformação e ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). O autodenominado ‘Grupo dos Malucos’ tinha como função principal, segundo a PF, questionar a credibilidade do sistema eleitoral.

Bormevet foi segurança de Jair Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018. Desde então, ganhou a confiança da família do ex-presidente, a ponto de ser indicado a um cargo de confiança na Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Foi no órgão, segundo o relatório apresentado pela PF ao ministro Alexandre de Moraes, que Bormevet passou a desempenhar um papel "estratégico" na estrutura paralela que abastecia Bolsonaro com desinformação e espalhava fake news contra seus opositores.

Dois dos alvos do "Grupo dos Malucos", segundo a PF, foram os ministros Luiz Fux e Luís Roberto Barroso. Mensagens interceptadas mostram que o então membro da Abin orientava os demais membros do grupo sobre os ataques que deveriam ser feitos. ‘‘Okay. Senta o dedo para galera’’, escreveu Bormevet, ao determinar a disseminação de uma fake news relacionada a um familiar de Barroso.

“A difusão de informações falsas diretamente vinculadas a Ministros da Suprema Corte e de seus familiares era intencionalmente difundida no grupo nominado por MARCELO BORMEVET como ‘grupo dos malucos’, destacando a plena ciência dos interlocutores da desarrazoada desinformação produzida”, destacou a PF no relatório que agora está sob a análise da Procuradoria-Geral da República (PGR). Procurada, a defesa de Bormevet não se manifestou.

Ainda segundo o documento de 884 páginas, os envolvidos no "Grupo dos Malucos" tinham “plena ciência de suas ações”, em especial a produção de desinformação sem qualquer lastro com a realidade.

“O intento dessas ações clandestinas era desestabilizar o sistema eleitoral por meio de desinformação envolvendo ministros do Supremo Tribunal Federal, inclusive de eventuais familiares”, acrescenta o relatório.

Espionagem ilegal
Bormevet é investigado em outro inquérito relatado pelo ministro Alexandre de Moraes, o do escândalo da espionagem ilegal no governo de Jair Bolsonaro. Em julho deste ano, ele foi um dos alvos de prisão preventiva na quarta fase da Operação Última Milha, relacionada a espionagem ilegal de autoridades.

Integrante da PF desde 2005, Bormevet foi nomeado pelo então diretor da Abin Alexandre Ramagem como chefe do Centro de Inteligência Nacional (CIN) da agência. Segundo as investigações, essa estrutura era utilizada para monitorar ilegalmente adversários de Bolsonaro.

No governo Lula, o policial federal também exerceu um cargo de confiança como assessor na Subchefia Adjunta de Infraestrutura da Casa Civil. Ele foi afastado do posto em janeiro por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Em abril, a Controladoria-Geral da União abriu um processo administrativo disciplinar (PAD) contra ele.