Após dois anos de adaptação, Xamã é a primeira onça-pintada macho a voltar à natureza na Amazônia
Com o apoio da Proteção Animal Mundial, a soltura do animal foi realizada por ONG em área preservada de mais de dois milhões de hectares.
Do resgate em área de desmatamento com foco de incêndio, em Sinop, no Mato Grosso, à primeira reintrodução de uma onça-pintada macho na Amazônia foram necessários cerca de dois anos de cuidados e adaptação. Sob os cuidados da ONG Onçafari desde os 8 meses de idade, o felino, conhecido como Xamã, passou por um processo para reaprender a viver em seu habitat natural.
A soltura ocorreu em uma área preservada com cerca de 2 milhões de hectares, nas imediações da Serra do Cachimbo, no sul do Pará. Antes da vida em liberdade, o animal ganhou uma coleira GPS monitorada pela Onçafari para acompanhar seu desenvolvimento.
Confira o momento exato do retorno de Xamã à natureza:
Até completar a idade adulta, aos 2 anos, o animal foi mantido próximo ao lugar de soltura no recinto de reintrodução da ONG na Amazônia, com parte do apoio financeiro e técnico sobre bem-estar animal de outra organização, a Proteção Animal Mundial.
Por lá, a espécime foi apresentada gradualmente a presas vivas para desenvolver suas habilidades de caça e reforçar sua capacidade de sobrevivência.
Para Leonardo Sartorello, biólogo e coordenador de reintroduções do Onçafari, o acompanhamento foi importante por se tratar do primeiro macho a ser solto no bioma.
"Soltar um macho é sempre um desafio maior, porque, diferentemente das fêmeas, eles correm mais e disputam território com outros machos. Por isso precisamos avaliar sua capacidade e rapidez de caça para realizar a reintrodução ", comenta Leonardo.
Segundo a organização, Xamã ganhou mais de 30 quilos em sua estadia. Quando chegou, pesava cerca de 20 quilos. Agora, está com 56 quilos e pronto para voltar à vida livre no bioma.
O processo de soltura foi o chamado de “soft release”, ou seja, houve a abertura da grade do recinto onde Xamã vivia e a iniciativa para sair dali dependia apenas dele. A onça deixou o ambiente fechado depois de 12 horas.
Coordenadora de vida silvestre da Proteção Animal Mundial, a bióloga Júlia Trevisan afirma que a reintegração de Xamã é uma vitória para o meio-ambiente:
"Cada vez que um animal silvestre morre, parte da floresta morre também. Isso porque cada espécie cumpre funções específicas na manutenção do ambiente, seja por meio da dispersão de sementes, polinização ou controle de presas. Outro motivo para celebrar é que a beleza da fauna silvestre reside em ser livre. Se o Xamã não tivesse condições de sobreviver ao ser solto, a outra opção seria viver em cativeiro, o que seria muito triste. A sensação é de dever cumprido ", comemora.
Xamã é o terceiro grande felino a ser reintroduzido pelo Onçafari em reserva na Amazônia. Em 2019, duas fêmeas de onça-pintada, Pandora e Vivara, foram reintroduzidas no local.