EUA

Executivos do setor petrolífero pressionam Trump a amenizar pressão sobre a Venezuela

Empresários defendem acordo para reduzir a migração e ajudar a moderar os preços da energia nos EUA, além de conter a influência da China e Rússia no país latino

O ex-presidente dos EUA e candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, e o presidente venezuelano, Nicolás Maduro - AFP

Empresários do setor petrolífero e investidores em títulos americanos estão pressionando o presidente eleito Donald Trump para abandonar sua política de "pressão máxima" sobre a Venezuela e o ditador Nicolás Maduro, sugerindo um acordo que troque "mais petróleo por menos migrantes". Segundo o Wall Street Journal, essa política, argumentam os executivos, poderia aliviar a crise da mgração e também a energética nos EUA, além de conter a influência da China e da Rússia na Venezuela. O pedido ocorre em meio ao endurecimento do regime de Maduro na Venezuela após as contestadas eleições de julho deste ano, com a intensificação de ameaças a opositores.

Também ocorre após o Departamento do Tesouro americano sancionar, na quarta-feira, 21 autoridades do governo Maduro, incluindo ministros e altos comandos de segurança do Estado. Segundo o órgão americano, os alvos "apoiaram e executaram as ordens de Maduro de reprimir a sociedade civil em seus esforços para se declarar, de forma fraudulenta, vencedor das eleições presidenciais da Venezuela de 28 de julho". Com a sanção, todas as contas, bens móveis e imóveis em território americano estarão congelados, e os sancionados são proibidos de realizar qualquer tipo de transação nos EUA.

De acordo com o WSJ, figuras como Harry Sargeant III, doador republicano bilionário, estão promovendo a ideia de uma negociação entre Maduro e Trump, destacando as vantagens econômicas e geopolíticas de um acordo do tipo.

Um dos argumentos, diz o WSJ, é uma carga de 43 mil barris de asfalto líquido venezuelano que recentemente chegou à Flórida, graças a permissões do governo do presidente Joe Biden, que deu a algumas empresas do setor, como a americana Chevron, a autorização para reiniciar as operações na Venezuela, rica em petróleo.

Foi a primeira entrega de asfalto da Venezuela para o porto desde que o primeiro governo de Trump impôs sanções ao petróleo no início de 2019. A remessa é suficiente para pavimentar cerca de 88 quilômetros de rodovia.

Essas entregas, defendem os executivos, reforçam argumentos de que uma abordagem pragmática seria mais vantajosa para o governo americano do que manter a Venezuela totalmente isolada. Ainda segundo a reportagem, o objetivo de restaurar a democracia no país, um dos pilares da estratégia de incentivo e punição de Washington nos últimos anos, seria menos prioritário por enquanto.

— É indiscutível que o fluxo renovado de asfalto venezuelano de alta qualidade e baixo custo para os EUA foi um benefício para o contribuinte americano — disse ao WSJ Harry Sargeant IV, presidente da Global Oil Terminals e filho do fundador. — Foi um golpe para nossos concorrentes estratégicos porque, sob sanções, esses barris foram transformados em óleo combustível com grandes descontos que simplesmente subsidiaram a economia chinesa.

No primeiro mandato de Trump, Maduro caracterizou o presidente dos EUA como o inimigo imperialista nº 1. Mas, nos dias que se seguiram à vitória do republicano para um segundo mandato, o venezuelano expressou publicamente a esperança de que os dois pudessem trabalhar juntos.

Maduro claramente precisa que os Estados Unidos suspendam as sanções, enquanto Trump, que prometeu realizar deportações em massa, poderia usar a ajuda do líder venezuelano para cumprir sua promessa. Falando recentemente em um de seus programas de entrevistas, Maduro pediu um novo momento de relações "ganha-ganha".

— Em seu primeiro governo, as coisas não foram bem para nós com o presidente eleito Donald Trump — disse Maduro em um discurso recente na televisão. — Este é um novo começo, então vamos apostar em um ganha-ganha.

A crise venezuelana, marcada por corrupção, abusos de direitos humanos e colapso econômico sob Maduro, gerou um êxodo massivo de migrantes, estimado em 8 milhões de pessoas. Hoje, cerca de 700 mil delas estão nos EUA, e pesquisas indicam que muitas outras deixarão o país com a continuidade do regime chavista.

— O desafio é como você se desvencilha e desvincula os EUA de uma abordagem política que falhou completamente em gerar mudanças políticas no país, empobreceu mais pessoas e acelerou a migração de milhões de venezuelanos — disse ao WSJ Thomas Shannon, ex-diplomata de alto escalão dos EUA na América Latina.

Manifestações convocadas
Washington considera as duas últimas reeleições de Maduro fraudulentas e apoia Edmundo González Urrutia, o candidato da líder da oposição María Corina Machado, que foi forçado a se exilar na Espanha após as eleições. A oposição publicou em um site na internet cópias de mais de 80% das atas que assegura que provam a vitória do diplomata sobre Maduro, mas o chavismo tacha o material publicado de fraudulento. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), de viés governista, proclamou Maduro vencedor do pleito com 52% dos votos, mas não divulgou o escrutínio em detalhes.

María Corina, por sua vez, está sendo investigada pelo Ministério Público da Venezuela, controlado pelo chavismo, por "traição à pátria", por supostamente apoiar um novo pacote de sanções dos Estados Unidos contra o seu país.

Para a opositora, que celebrou a vitória de Trump nos EUA, Maduro agora está tão fraco — rejeitado por seu próprio povo, com fraturas internas no seu partido —, que uma pressão feita pelo presidente eleito e seus aliados poderia de fato levar o autocrata venezuelano a negociar sua própria saída. Essa campanha de pressão, segundo ela, poderia incluir a revisão do alívio das sanções implementadas por Biden e a busca de novas acusações criminais contra seus aliados.

Segundo a imprensa local, a oposição organiza manifestações em massa para 1º de dezembro, buscando apoio internacional e pressionando o governo Trump a manter uma postura rígida contra Maduro.