Do sertão pernambucano para o mundo: Manoel Tobias relembra carreira vitoriosa no futsal
Ex-atleta colecionou dois títulos mundiais, artilharias e vários títulos por clubes
Da quadra descoberta com sete buracos até os principais centros do futsal mundial. Com exclusividade para a Folha de Pernambuco, o ex-jogador da Seleção Brasileira e considerado como um dos maiores de todos os tempos da bola pesada, Manoel Tobias, relembrou toda a sua trajetória, da Escola Barros Carvalho, no bairro do Cordeiro, até o bicampeonato mundial com a amarelinha.
Nascido em Salgueiro, a mais de 500km da capital, o filho de professores teve desde cedo o incentivo aos esportes aliado aos estudos. Filho mais velho de nove irmãos, Manoel Tobias se mudou para capital pernambucana em 1981, quando tinha cerca de 10 anos.
O jovem passou a morar no bairro do Cordeiro, na Zona Oeste do Recife. Lá, passou a estudar na Escola Barros Carvalho, onde toda a sua trajetória no esporte passou a ficar mais séria. “Foi um início muito difícil, mas pensando bem, foi importante todo esse processo. Nasci em Salgueiro, cheguei aqui em Recife em 1981. Eu iniciei no futsal na Escola Barros Carvalho, no bairro do Cordeiro. Lá, eu encontrei o professor Valdir, que me chamou para equipe", começou.
"Me destaquei na aula de educação física, ainda no primeiro dia de aula no semestre. O professor foi lá em casa após o horário, meus pais ficaram até assustados, achando que eu tinha aprontado alguma coisa, mas ele tinha ido para pedir autorização que eu fizesse parte da equipe", risos.
Trajetória
A partir desse primeiro momento, o desenvolvimento de Manoel pelas quadras foi muito rápido, conseguindo oportunidades em importantes camisas da época, como nos times do Bandepe, Náutico e Votorantim. "Com 17 anos já estava no time adulto do Náutico. Disputei alguns torneios lá, e, algum tempo depois, cheguei na Votorantim, com o professor Domingues Nogueira, que também era o presidente do time", relembrou.
Foi nesse momento que o futsal pernambucano teve a oportunidade de ter um olhar mais profissional. Disputei o Brasileiro de 1990, fomos vice-campeões, me destaquei e fui convocado para Seleção Brasileira pela primeira vez, foi quando tudo de fato mudou", contou o craque da camisa 5.
Auge
A partir de então, foram 14 anos na Seleção Brasileira, sete títulos de Copa América, dois da Copa do Mundo - sendo artilheiro em ambas - e foi eleito três vezes o melhor jogador do mundo. O pernambucano também deixou sua marca pelos clubes em que atuou, inclusive, sendo o jogador que mais vezes marcou em uma única edição da Liga Nacional de Futsal, balançando a rede em 52 oportunidades.
Olhar para Pernambuco
Recentemente, Manoel Tobias esteve no Estado para implementar escolinhas de futsal na Região Metropolitana do Recife. O fomento do esporte local por meio das divisões de base é uma preocupação do ex-atleta, mas que se mostrou orgulhoso pelos feitos que Pernambuco possui.
“Pernambuco possui vários títulos nas categorias de base, seja das seleções estaduais ou com os clubes na Taça Brasil. Muitos times da Liga Nacional, ou até mesmo do futsal mundial, são abastecidos com nossa fonte. O Estado sempre teve essa força, essa cultura na formação de atletas", refletiu.
Tobias ainda lembrou do crescimento do futsal regional, que na primeira edição do Campeonato Brasileiro organizado pela CBFS, colocou três dos quatro semifinalistas - Sport, Fortaleza e Apodi. "Fiquei muito feliz com essa nova perspectiva, com a CBFS trazendo um campeonato de uma forma democrática, oportunizando várias praças. O Campeonato Brasileiro já teve um domínio nordestino e isso quem ganha é o país", disse.
Hexa
No último mês de outubro, no Uzbequistão, a Seleção Brasileira conquistou o hexacampeonato da Copa do Mundo. O título veio após dois ciclos sem vitórias e algumas derrotas doloridas, num momento que muitos já questionavam se o país ainda era a grande potência da modalidade.
Para o ex-craque da Seleção, essa conquista deixou lições de organização e liderança. "Foi uma conquista fundamental. Foram dois ciclos sem conquistar título mundial. Isso nos traz a importância de fazer uma gestão estruturada do esporte, o alto rendimento não permite mais amadorismo".
Sobre o aspecto do equilíbrio entre as lideranças técnicas e a força coletiva, Manoel Tobias ressaltou. “Esse título provou que pode se ter jogadores de nome na Seleção, ter ídolos, e deve ter, mas não se pode ser maior que a camisa da Seleção. Esse trabalho foi fomentado por um trabalho coletivo".
"Nos nossos seis títulos, tínhamos um ou dois protagonistas, mas a estrela maior era o conjunto da Seleção. Se isso for feito sempre, dificilmente iremos perder", garantiu o bicampeão mundial.